Brasil

Estudo revela que 61% dos futuros professores do Brasil estão matriculados em cursos a distância

Proporção é duas vezes maior do que a registrada nas outras áreas do Ensino Superior
Sala de aula da Escola Municipal Nicanor Gonçalves em Nova Iguaçu Foto: Fábio Guimarães / Agência O Globo
Sala de aula da Escola Municipal Nicanor Gonçalves em Nova Iguaçu Foto: Fábio Guimarães / Agência O Globo

RIO — Apesar de a lei brasileira determinar que a formação inicial de professores deve dar preferência ao ensino presencial, seis em cada dez alunos de graduação matriculados nos cursos voltados ao preparo de futuros docentes têm aulas a distância. A proporção é duas vezes maior do que a registrada nas outras áreas do Ensino Superior .

Os dados foram compilados em um estudo da organização da sociedade civil Todos Pela Educação divulgado nesta quinta-feira. Os números mostram que, nos cursos de formação de professores, a modalidade de Educação a Distância (EAD) cresceu 27 pontos percentuais entre 2010 e 2017: de 34% a 61%.

O estudo se baseia em números do Censo da Educação Superior. Informações de 2017, as mais recentes possíveis, dão conta que o número de calouros da formação de professores (Pedagogia ou licenciaturas) nos cursos presenciais era 251 mil, enquanto os estudantes do primeiro período matriculados em EAD era de 397 mil.

Ainda segundo a pesquisa, os professores formados em EAD têm desempenho pior do que aqueles formados em cursos presenciais. Ao todo, 75% dos docentes que estudaram a distância tiveram pontuação menor do que 50 no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), número dez pontos percentuais maior do que os colegas formados nas salas de aula. A probabilidade de um estudante de licenciatura EAD estar entre os 25% dos alunos com notas menores no Enade 2017 é de 30,2%. Já quando se trata de um aluno do curso presencial, essa probabilidade é para 21,6%.

— O professor é o profissional mais importante para o desenvolvimento social e econômico do País, pois é o fator determinante para a qualidade da Educação — avalia Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação. — A presença exagerada de EAD nessa formação, que demanda constante articulação entre a teoria e os desafios práticos do dia a dia escolar, é muito preocupante. Há, é claro, espaço para a tecnologia apoiar, mas não da forma como estamos fazendo,  criando uma verdadeira indústria de cursos online para baratear os custos de formação.

O Todos Pela Educação ressalta ainda que países vizinhos que conseguem melhores pontuações nos exames internacionais não costumam permitir a formação a distância de professores. No Chile, país da América Latina de melhor desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), a formação inicial docente é exclusivamente presencia, assim como no México.  O Peru, país que avança mais rapidamente no PISA, vetará a abertura de novos cursos a distância a partir de 2020. Ainda segundo a entidade, Austrália, Canadá e EUA permitem a formação de docentes por EAD, mas frisa que existem rigorosos processos de certificação dos alunos formados.

Ao fim do estudo, o Todos Pela Educação sugere soluções para o problema. A primeira delas passaria pelo estabelecimento de um Marco Referencial Docente, documento que estabelece as competências, habilidades e conhecimentos que todo professor deve ter. A segunda envolve mudanças no sistema de avaliação, supervisão e regulação dos cursos de formação. Por fim, a entidade sugere o estabelecimento de exame para o exercício da docência.