Estudo estabelece parâmetros de segurança necessários para volta às salas de aula

Estudo estabelece parâmetros de segurança necessários para volta às salas de aula

Um grupo de médicos e epidemiologistas desenvolveu um estudo para estabelecer os parâmetros de segurança necessários para o retorno dos alunos às salas de aula.

Setembro está se aproximando. Já estamos no segundo semestre e a avalanche de incertezas da pandemia ainda mantém milhões de crianças e jovens fora da escola. Mas como voltar às salas de aula em um momento em que o país ainda registra mais de mil mortos pela Covid todos os dias?

O epidemiologista Wanderson Kleber de Oliveira, ex-secretário de Vigilância em Saúde, coordenou um estudo para apoiar estados e municípios no retorno com segurança onde o controle da pandemia permitir. "É importante que o gestor local estabeleça, junto com a comunidade escolar, com os pais e representantes, a melhor estratégia para a sua realidade", defendeu.

A equipe responsável pelo estudo diz que o fechamento das escolas traz uma série de problemas, principalmente para os alunos mais pobres. Entre eles: má nutrição, muitos dependem da merenda; maior exposição à violência; aumento da evasão escolar; e até depressão.

O estudo comparou os efeitos do retorno às aulas em vários países. A Alemanha manteve as escolas fechadas por 68 dias. As aulas presenciais foram sendo retomadas por grupos no dia 4 de maio. Primeiro, os alunos do ensino médio, depois a pré-escola e creches e, por último, todos os outros grupos.

O governo adotou medidas como autoaplicação de testes pelos alunos, distanciamento de um metro e meio, medição da temperatura na entrada, além das medidas de higiene: uso de máscara e álcool em gel. Um gráfico mostra que a curva de mortos na Alemanha estava em queda no momento da reabertura e continuou caindo mesmo com a volta às aulas.

Países como França, Noruega, Nova Zelândia e o Reino Unido implantaram medidas parecidas e também conseguiram bons resultados.

Em Israel, foi diferente. A curva de óbitos estava em queda no momento do retorno às aulas, mas voltou a subir logo depois. O estudo ressalta que, em Israel, não houve escalonamento de turmas, os alunos não usaram máscara e não respeitaram o distanciamento. As escolas tiveram que ser fechadas de novo.

“Só o estado de São Paulo já tem 126 dias fechados, então nós estamos adotando medidas muito mais intensas do que outros países. Obviamente, não estamos sugerindo abrir nenhuma escola fora dos critérios, ou seja, para abrir a escola, tem que estar com baixa incidência de transmissão do vírus e não é todo mundo ao mesmo tempo”, explicou Wanderson Kleber de Oliveira.

O Sindicato das Escolas Particulares de São Paulo diz que a rede privada está pronta para receber os mais de 2 milhões de alunos com segurança.

"Todas as escolas investiram em parcerias com clínicas, com hospitais, investiram em equipamentos, em álcool gel com sensores para a criança não ter que colocar a mão, mudou o layout da escola”, afirmou o presidente Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sieeesp.

No Rio, é grande a preocupação entre os professores e funcionários de escolas públicas. O sindicato afirma que não adianta apenas criar protocolos de segurança, mas que é preciso garantir os recursos para que eles sejam aplicados.

"Eles apresentam o protocolo, mas não apresentam como o orçamento vai caber esse protocolo. Não apresentam as medidas dentro do orçamento para garantir esse protocolo e jogam para as direções de escola, na maioria das vezes, a responsabilidade que esses diretores não devem ter, que é decidir se a escola vai abrir ou não", disse Gustavo Miranda, coordenador-geral do SEPE.

"Nós estamos com escolas fechadas, todas elas, por causa da pandemia. E nós devemos reabrir escolas quando a pandemia estiver num patamar que isso seja seguro, independentemente das questões de infraestrutura ou não", defende Vitor de Ângelo, vice-presidente do Consed.

O Conselho Nacional de Educação aprovou, em julho, um documento com recomendações para a volta das aulas, mas Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação, diz que o Ministério da Educação precisa fazer muito mais. “A gente tem um trabalho de planejamento que precisa ser feito agora. Óbvio que a gente precisa também observar a pandemia, o comportamento da pandemia. O combate à pandemia vem antes do início das aulas. O governo federal tem que ter um papel importante a exercer”, avaliou.

O professor de direito Daniel Vargas concorda e afirma que o MEC não está cumprindo o que determina a Constituição: “O que acontece na prática em um sistema federativo, como é o brasileiro, é que quando MEC, o seu agente central, assume a liderança, puxa a organização e o debate sobre o que fazer, não é que o MEC substituta os estados, mas ele dinamiza o funcionamento de cada uma das redes escolares pelo país".

"Nós entendemos a escola também como um serviço essencial e não é uma comparação se um é mais importante que o outro. O que nos queremos é colocar a escola como um serviço essencial e que a sociedade debata sobre essa questão, buscando localmente as estratégias", afirmou Wanderson Kleber de Oliveira.

O Ministério da Educação não quis gravar entrevista e não respondeu às críticas mostradas na reportagem.

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