Educação
Estudantes vão às ruas e pressionam MEC pela revogação do Novo Ensino Médio
Os atos mobilizaram cerca de 150 mil manifestantes pelo País, segundo estimativa da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
Milhares de estudantes foram às ruas do País na quarta-feira 15 em protesto contra o Novo Ensino Médio. A tônica das manifestações foi pela revogação da medida, herança da gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB), e que entrou em vigor em 2017.
Organizado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, os atos aconteceram em diversas cidades do País e mobilizaram cerca de 150 mil estudantes, segundo estimativa da UBES. Em São Paulo, cerca de 20 mil se manifestaram da Avenida Paulista até a Assembleia Legislativa de São Paulo.
Os estudantes marcharam sob palavras de ordem como “Revoga a reforma ou paramos o Brasil”, “De tanto poupar educação, ficaremos ricos de ignorância” e “Novo Ensino Médio = apartheid educacional”. O movimento ganhou apoio de professores, educadores, movimentos sindicais e outras organizações.
1, 2, 3, 4, 5 mil! Revoga a reforma ou paramos o Brasil! ✊🏽
Os estudantes de São Paulo estão mobilizados pela revogação do Novo Ensino Médio! #RevogaNovoEnsinoMédio #RevogaNEM pic.twitter.com/u2fLnTKW06
— União Brasileira dos Estudantes Secundaristas ✏️ (@ubesoficial) March 15, 2023
A presidenta da UBES, Jade Beatriz, destacou a importância da unificação da pauta entre estudantes pelo País, e previu os próximos passos do movimento.
“O ato foi um marco da posição dos estudantes em relação à reforma do ensino médio”, disse, em entrevista à CartaCapital, ao reforçar que o posicionamento é o mesmo mantido pela entidade desde 2016, quando o ex-presidente Temer fez o anúncio da medida.
“A gente já tinha visto que era uma reforma que não contava com a nossa participação, com a voz efetiva da sociedade, do povo brasileiro, principalmente das pessoas que estão dentro da escola pública”, explicou.
A presidenta da UBES disse ainda que a instituição puxará novas manifestações em prol da revogação e articulará audiências públicas junto às casas legislativas.
“Estamos dispostos a isso, ocupar mais as ruas, as assembleias legislativas e, principalmente, levar isso ao Congresso pra que seja apresentado um novo modelo de ensino, que faça sentido, e que seja condizente com a realidade dos estudantes da escola pública”, defendeu.
A reforma do Ensino Médio é alvo de críticas por ter aprofundado a desigualdade na área educacional, favorecido redes privadas de ensino, estabelecido um modelo de ensino menos reflexivo e precarizado a atividade docente.
Em meio aos protestos, o ministro da Educação, Camilo Santana, defendeu que a pasta tem apostado no diálogo e reforçou a consulta pública aberta pelo MEC na última semana.
“Apostamos no diálogo para reavaliação do Novo Ensino Médio. Por isso, o MEC abriu uma consulta pública, com audiências, seminários e pesquisas junto a estudantes, professores e gestores para debater a pauta de forma democrática”, escreveu Camilo em suas redes sociais”.
“Além disso, o MEC irá recompor o Fórum Nacional de Educação, reintegrando entidades e movimentos populares a esse importante debate sobre o futuro da nossa educação”, completou.
Apostamos no diálogo para reavaliação do Novo Ensino Médio. Por isso, o MEC abriu uma consulta pública, com audiências, seminários e pesquisas junto a estudantes, professores e gestores para debater a pauta de forma democrática.
— Camilo Santana (@CamiloSantanaCE) March 15, 2023
No entendimento do educador e cientista político Daniel Cara há, no entanto, outras medidas que o MEC poderia acatar para demonstrar ‘disposição’ em dialogar sobre o Novo Ensino Médio.
“Revogar a Portaria 521/2021, que estabelece o Cronograma Nacional de Implementação do Novo Ensino Médio (NEM), determinado pelo Governo Jair Bolsonaro; suspender completamente as mudanças no Enem previstas para 2024. O objetivo é não submeter o ENEM ao NEM, cristalizando a Reforma; Enviar ao Congresso Nacional um Projeto de Lei para substituir o equívoco dos itinerários formativos por áreas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A orientação é implementar as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio de 2012, nunca efetivadas. Fazer isso é demonstrar boa vontade. Aqui está uma proposta clara”, defendeu em suas redes sociais.
#Proposta Depois de um dia de luta nas ruas, listo 3 decisões que o MEC pode tomar *imediatamente* para demonstrar verdadeira disposição em dialogar sobre o Novo Ensino Médio:
1) Revogar a Portaria 521/2021, que estabelece o Cronograma Nacional de Implementação do Novo Ensino… https://t.co/41xHWSeFkQ— Daniel Cara – Educação e Ciência (@DanielCara) March 15, 2023
Há também um movimento contra a medida puxado por parlamentares. O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) lançou um abaixo-assinado a favor da revogação da medida, que aponta:
“Não há justificativa na retirada de disciplinas como filosofia e sociologia da grade curricular do ensino médio. Isso é uma forma de podar o pensamento crítico de estudantes”, diz um trecho do texto.
“Esse Novo Ensino Médio traz aos alunos formações precárias com cursos de curta duração e aulas por videoconferência, o que é um absurdo no cenário atual, pois a experiência com o ensino remoto emergencial durante a pandemia de Covid-19 demonstrou a imensa exclusão digital da maioria da população brasileira, além de dificultar a troca entre professores e estudantes”.
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