Educação
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Por Bruno Alfano — Rio de Janeiro

Maiara Santos, de 19 anos, não fez o ensino médio. Durante a pandemia, a jovem recebeu só conteúdos por apostilas e, sem conexão adequada, tinha muitas dificuldades em tirar dúvidas. A situação financeira da família apertou e começou a fazer bicos de babá e de garçonete. Perdeu o tempo e o interesse pelos estudos.

— Cheguei a passar de ano mesmo sem nota. Mas não fui fazer matrícula para o ano seguinte porque ainda estava na pandemia. Desisti de estudar — conta Santos.

A jovem faz parte de uma geração profundamente prejudicada pela maior crise sanitária dos últimos cem anos, cuja recuperação de aprendizagem será um passivo que chegará ao próximo governo federal. E os problemas não são poucos. Estudo obtido com exclusividade pelo O GLOBO aponta que a educação pós-pandemia a ser encarada a partir de 2023 é mais desigual, tem menores índices de aprendizagem e mais crianças e adolescentes fora da escola.

O trabalho “Impactos da pandemia na educação brasileira” foi encomendado a dois pesquisadores da UFRJ pela associação D3e e pela Fundação Lemann.

Evasão subdimensionada

Entre as principais descobertas, estão o fato de que a perda de aprendizagem foi de 4 a 10 meses, dependendo da etapa escolar; de que crianças de nível socioeconômico baixo aprenderam apenas a metade de seus pares em melhor condição; e de que a taxa de matrícula caiu abaixo de 2017 entre crianças de zero e 14 anos. São pelo menos cinco antes do retrocesso na evasão escolar.

Na faixa entre 4 e 5 anos, a proporção de alunos matriculados caiu de 86,9% em 2019 para 82,2% em 2021. Em 2017, era de 85,9%. Esta é uma etapa de ensino obrigatória, em que os alunos já começam a se preparar para a alfabetização no começo do ensino fundamental.

— A meu ver, todos os dados que temos hoje de abandono escolar estão subdimensionados. Em 2023, teremos um cenário mais claro de quantas crianças estão fora da escola, com o Censo Escolar e o Censo do IBGE — afirma a coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais da UFRJ, Mariane Koslinski, que assina o estudo com o pesquisador Tiago Bartholo.

Ainda segundo o estudo, o Ministério da Educação precisa “assumir um papel de protagonismo na elaboração e na implementação de um plano nacional de recuperação, com aportes adicionais de recursos para guiar e apoiar as ações de gestores públicos estaduais e municipais da área de educação”.

“Quero mudar de vida”

Maiara não pensa em voltar para as salas de aula, mas não desistiu de estudar. Agora, deseja terminar o ensino médio através do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), uma prova que atesta o conhecimento necessário para o ensino fundamental ou médio. Ela já fez o exame e espera o resultado.

— Pegando o diploma do ensino médio, posso fazer alguns cursos e concursos que exigem esse certificado. E eu quero muito mudar de vida — conta.

Koslinski aponta que dificuldades vividas por alunos como Maiara causaram a mais grave consequência da pandemia: o aprofundamento das desigualdades educacionais. De acordo com a nota técnica dos pesquisadores da UFRJ, há diferentes hipóteses que podem explicar isso.

“Durante a crise sanitária, os estudantes mais pobres e com pais menos escolarizados provavelmente foram mais prejudicados no acesso e na capacidade de usar a tecnologia para o aprendizado no formato remoto. A qualidade do seu ambiente de aprendizagem em casa e o apoio que receberam dos professores e pais, além da condição dentro de suas casas para estudar autonomamente, também impactaram a sua aprendizagem”, diz o texto do relatório, que será disponibilizado hoje.

— O MEC tem um papel indutor muito forte. Ele tem capacidade financeira de ajudar com recursos, mas só isso não adianta. É especialmente importante que ele apoie com conhecimento técnico do que estados e municípios devem fazer com esse dinheiro — afirmou Daniel de Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa na Fundação Lemann.

Propostas

O texto apresenta ainda diversas estratégias de recomposição de aprendizagens que têm sido desenvolvidas no Brasil e em outros países. Segundo o trabalho, algumas sugerem a expansão do tempo de instrução (ampliação dos dias letivos, abertura das escolas nos fins de semana ou “escola nas férias”). Outras, bastante difundidas, e que já contam com evidências de impacto positivo, é a tutoria individual ou em pequenos grupos nos formatos presencial, híbrido ou online.

Para a evasão, iniciativas de busca ativa necessitam de três aspectos fundamentais: mobilização comunitária, estratégias de gestão e monitoramento das frequências dos alunos e auxílio financeiro de permanência estudantil.

Segundo Bonis, essas são medidas de curto prazo que têm se mostrado eficientes em diferentes contextos analisados. No entanto, ele afirma que, a médio e longo prazo, o país precisa ampliar o número de matrículas de educação integral — ou seja, a oferta permanente de um tempo ampliado de aulas.

— Essa é, de fato, a estratégia que custa mais e leva mais tempo, porque precisa de mais professores e mais prédios. Mas o Brasil vive um momento demográfico favorável para essa ampliação, com a chegada de menos alunos por ano. Além disso, o país precisa corrigir o fluxo, porque tem uma reprovação muito alta. Isso não quer dizer aprovação automática, mas é preciso uma recuperação contínua para o aluno progredir — afirma Bonis. — O ensino integral é um desafio do ponto de vista de custo, mas tem elementos estruturantes. E a experiência já demonstrou que se traduz mesmo em aprendizagem.

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