Por Derek Gustavo, G1 AL


Estudantes fecharam a principal da Chã de Bebedouro, em Maceió, para protestar contra preconceito sofrido por colega trans — Foto: Adilson Barbosa/Arquivo Pessoal

Estudantes fecharam a Rua Dr. Osvaldo Cruz, no bairro da Chã de Bebedouro, nesta terça-feira (5), para protestar contra o preconceito sofrido por um aluno transexual na Escola Estadual Doutor Miguel Guedes Nogueira. Segundo a mãe, ele foi agredido por uma aluna e não tem o nome social respeitado pelos professores.

O protesto, que começou às 16h20 e terminou às 17h10, deixou o trânsito congestionado na via. O fluxo só foi liberado após a chegada da polícia.

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) nega que tenha havido discriminação, agressão física ou homofobia contra o estudante. O órgão diz que o que houve foi uma briga entre os alunos por causa de um trabalho em grupo, e que todos os envolvidos foram advertidos pela direção da escola.

A Seduc conclui a nota dizendo que a unidade de ensino sempre esteve aberta ao diálogo com a família do estudante (confira a nota na íntegra ao final do texto).

Os estudantes fecharam a via em frente ao colégio. Eles empunhavam bandeiras do movimento LGBTI+ e Trans, além de uma faixa com a frase “Homofobia tem cura: Educação e Criminalização”.

A motivação do ato, dizem os estudantes ouvidos pela reportagem, foram os episódios de preconceito sofridos pelo jovem trans Isaac Victor, 15.

Ao G1, Isaac relatou que a agressão ocorreu no último dia 30 de maio, e foi tanto física quanto verbal.

"A agressão começou com um debate sobre um futuro projeto em sala de aula, no horário do professor. Uma aluna se exaltou comigo e começou a me xingar. Quando ia me dirigir à ela, uma outra veio e me agrediu, me empurrando em cima das bancas, me chamando no feminino, me constrangendo", conta Isaac.

Ele continua contando que a coordenação disse que iria resolver a situação, mas não fez nada.

"A coordenação veio falar com a gente, disse que ia fazer algo, mas nem comunicou à minha mãe e nem chamaram o professor para relatar o que houve. Só fizeram colocar a gente de volta pra assistir aula. Eu estava com as costas doendo, todo machucado, mas me fizeram ficar. Fui para casa depois e contei para minha mãe o que aconteceu", diz.

Em entrevista anterior, Isaac também relatou que professores dessa mesma escola já se recusaram a chamá-lo pelo nome social. Foi dele a iniciativa do protesto desta terça, para denunciar o que vem sofrendo e para dar visibilidade à violência sofrida pela população LGBTI+.

"São vidas que vem se perdendo todos os dias. Até quando uma instituição despreparada do Estado vai nos fazer passar por constrangimento? A escola é feita para a diversidade, e tem que estar preparada para ela", conclui o jovem.

Ouvido pelo G1, Carlos André, diretor-geral da escola, negou as acusações feitas pelo estudante.

"A alegação de que a aluno [se referindo ao Isaac] é discriminado não tem fundamento. O que houve, primeiramente, foi um equívoco, um momento único, em que a professora, por não estar informada e estar com uma lista de chamada desatualizada, chamou o nome dele pelo de batismo. Mas sem um sentimento de preconceito ou transfobia", explica André.

Ele continua falando sobre o caso de agressão relatado pelo aluno.

"Em relação à agressividade, eu soube de uma briga e chamamos as duas alunas envolvidas e o Isaac. Conversamos com eles e mandamos chamar a família. Nesse intervalo, soubemos que já estava aberto o B.O. Nenhum aluno reclamou de agressividade ou situação de violência, nem ele. Foi a informação que recebi das coordenadoras".

O diretor conclui dizendo que não concordar com o fato de o nome da escola estar sendo envolvido em acusações de transfobia, e que a unidade de ensino tem por filosofia o respeito a todas as pessoas. Ele diz também que os professores que se sentiram prejudicados pretendem acionar a família do estudante judicialmente.

"Sempre zelamos, sempre respeitamos todos os cidadãos que passam por aqui, independentemente de raça, religião, orientação sexual ou identidade de gênero. Essa filosofia é aplicada durante todo o período de existência da escola, para todos. Se há falhas, temos como corrigir".

Reunião

Isaac, a mãe dele, Rosimeire Bernardo, representantes da escola, da Seduc e do Grupo Gay de Maceió se reuniram logo após o protesto ter sido dispersado para debater sobre o assunto.

“O colégio está tirando o direito de um homem trans de 15 anos de ser chamado pelo nome social. O próprio governador decretou uma lei de respeito a essas diversidades e não está sendo respeitada pela instituição de ensino. A direção alega que falta capacitação dos professores, que eles não têm conhecimento [sobre transexualidade] e não estão preparados”, afirma Messias Mendonça, presidente do Grupo Gay de Maceió.

Ainda segundo Messias, o caso já foi levado ao Ministério Público (MP-AL) e a polícia. “Estamos aqui amparados pelos Direitos Humanos, e vamos procurar a secretaria do Estado que cuida desse assunto, para cobrar respeito, pois não podemos mais aturar esse tipo de coisa no estado”.

Confira a íntegra da nota da Seduc

A Secretaria de Estado da Educação vem a público afirmar que não houve qualquer forma de discriminação, agressão física ou homofobia contra o referido estudante na Escola Estadual Guedes Nogueira. Atitudes que seriam repudiadas pelo órgão em qualquer contexto.

O que aconteceu foi uma discussão entre alunos acerca de um trabalho em grupo onde quatro deles – inclusive o referido estudante – se exaltaram um pouco mais do que os outros e, em virtude do ato de indisciplina, os quatro foram advertidos pela escola. Procedimento normal de qualquer instituição de ensino em uma situação como esta.

Este processo está sendo acompanhado pela Seduc, que também se faz presente em outra reunião que discute o caso e conta com a presença do Conselho de Direitos Humanos, docentes e representantes do movimento LGBT.

Afirma ainda que a Escola Estadual Guedes Nogueira sempre esteve aberta ao diálogo com o estudante e sua família e que nunca tomou qualquer atitude discriminatória em relação ao mesmo.

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