Por Ana Carolina Limão*, G1 PA — Belém


Diariamente, Luanne Silva, de 21 anos, mãe de uma criança de quatro anos, cruza o rio Guamá de barco e pega um ônibus para percorrer a distância de sua residência, na Ilha do Maracujá — Foto: Arquivo Pessoal

Diariamente, Luanne Silva, de 21 anos, mãe de uma criança de quatro anos, cruza o rio Guamá de barco e pega um ônibus para percorrer a distância de sua residência, na Ilha do Maracujá até o cursinho Emancipa, localizado na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Luanne é uma das 279 mil estudantes paraenses que se inscreveram para a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será realizada neste domingo (3) e no dia 10.

A estudante participa das aulas no cursinho popular Emancipa, na unidade Paulo Fonteles, que é uma das 40 unidades do projeto, criado em 2007, localizado em mais de 20 cidades, em 7 estados, em todas as regiões do Brasil. A rede tem o objetivo de trabalhar voluntariamente na alfabetização de jovens e adultos, preparar para concursos, educação infantil e pré-vestibular.

“O cursinho popular me ajudou muito tanto em conteúdos disciplinares como em ensinamentos para a vida. Eles me fazem acreditar que a universidade é para todos e eu sou merecedora de estar lá”, contou a Luanne, que há três anos tenta ingressar no curso de Psicologia.

Estudantes do Emancipa durante evento de educação — Foto: Rede Emancipa

Em Belém, dezenas de cursinhos populares buscam oferecer ensino de qualidade a alunos de baixa renda. Um deles é o Cursinho de Educação Popular (MEPJ) do bairro do Jurunas, onde, em 2019, 420 estudantes se matricularam. De acordo com o coordenador do projeto, Leopoldo Santana, desde que o MEJP foi criado, em 1987, a filosofia adotada é a mesma. “Nós preparamos os alunos para ingresso na universidade pública, para que esses alunos possam retornar futuramente como profissionais para o bairro, para ajudar a mudar a condição de abandono que o Jurunas se encontra”, contou.

Na tentativa de conquistar seu sonho, Márcio Magalhães, de 19 anos, pôde contar com uma rede de apoio de familiares e professores que ofereceram suporte para que ingressar em uma universidade se tornasse realidade, e assim aconteceu. O ex-aluno do cursinho popular do Jurunas foi aprovado em duas universidades públicas e hoje cursa matemática na UFPA. E o projeto não é algo que ele deixou para trás. Sempre que pode, retorna ao cursinho para ajudar. “É o mínimo que posso fazer diante de tudo que eles fizeram por mim”, diz.

Mais de 400 jovens do bairro do Jurunas, periferia de Belém, puderam se preparar para o desafio do Enem no Cursinho de Educação Popular (MEPJ) — Foto: Divulgação

Gleici Macêdo, de 21 anos, é uma das alunas que teve a sua vida transformada ao conhecer o MEPJ e a partir dele conseguiu ingressar em uma universidade. “Conheci o projeto Jurunas quando já estava desistindo da faculdade, após dois anos tentando. Eu tinha muito medo de não conseguir novamente, porque na sociedade atual só somos alguém se tivermos um título no peito”, contou a estudante. Hoje, a ex-aluna do cursinho conquistou seu lugar na UFPA, onde cursa o segundo semestre de terapia ocupacional.

De acordo com uma pesquisa socioeconômica e cultural realizada pela Associação dos Dirigentes das Instituições Federais (ANDIFES), a Universidade Federal do Pará, considerada a maior universidade do norte em número de alunos, possui 80% de seus alunos com renda baixa familiar, considerada renda per capita de até um salário mínimo e meio. No Pará, 60% dos inscritos para realizar a prova são mulheres, e cerca de 61% se declaram pardos.

A nota do Enem pode possibilitar, além da aprovação em universidades públicas, o uso de benefícios como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Cada um desses funciona com o objetivo de promover o ingresso em universidades, públicas e particulares, de todo o país, e até estrangeiras.

*com supervisão de Gil Sóter

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