Educação

Por Patrícia Teixeira, g1 Campinas e Região


Manifestação de estudantes da Unicamp na manhã dsta terça-feira (4) em Campinas — Foto: Arquivo pessoal

Estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) fizeram uma paralisação na manhã desta terça-feira (4) e impediram a realização de aulas durante um ato contra a redução das cotas étnico-raciais no ingresso na universidade e contra a terceirização da empresa responsável pelo Restaurante Universitário (RU), o bandejão.

Segundo o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade, a mobilização também é contra ataques racistas no campus. Eles exibiram faixas e cartazes no ato, que se dirigiu à reitoria. Parte dos professores também aderiu à manifestação.

O g1 questionou a Unicamp sobre o impacto nas aulas dos universitários, mas a administração informou que ainda não possui dados consolidados. Há agenda do DCE para a tarde desta terça, e ao menos parte das aulas também acabou suspensa.

'Caramujo, pedra e vidro na comida'

No manifesto divulgado pelos estudantes, eles afirmam que houve uma piora na qualidade das refeições no bandejão, além de piora na condição de trabalho dos funcionários.

"Já vimos a comida terminar antes do horário previsto, caramujo, pedra e vidro na comida. Além de infecçãos alimentares", diz o texto do comunicado entregue aos alunos nesta manhã.

Em nota, a Unicamp informou que constituiu um Comitê Gestor que acompanha as atividades da empresa contratada.

"O Comitê monitora, avalia e fiscaliza diariamente as atividades operacionais, nutricionais e sanitárias da empresa Soluções nos Restaurantes Universitários. Todas as denúncias enviadas por vias oficiais e não oficiais estão sendo averiguadas pelo Comitê e, se constatadas como verídicas, serão objetos de atuação administrativa e jurídica", diz a nota

"A Universidade não pode, no entanto, realizar ações de punição e quebra de contrato de forma apressada, sem a devida observância aos termos contratuais e aos trâmites administrativos previstos na legislação", completou a Diretoria Executiva de Administração, da Diretoria Geral de Administração, da Prefeitura do Campus e da Secretaria de Administração Regional.

Na semana passada, uma funcionária do RU morreu enquanto estava em serviço e o ocorrido causou comoção entre os alunos. A técnica em nutrição Cleide Aparecida Lopes trabalhava na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) de Limeira (SP).

"Cleide sofreu um acidente vascular cerebral em seu ambiente de trabalho, chegou a ser atendida por socorristas, mas infelizmente não resistiu. A Reitoria solidariza-se com a família e amigos", divulgou a Unicamp em nota. O óbito foi na segunda (26).

Os estudantes levatantaram o questionamento sobre o óbito ter tido relação com terceirização e perda de direitos dos funcionários. A Unicamp complementou que, no momento do falecimento da funcionária, o restaurante já estava fechado para o atendimento ao público. "A equipe realizava atividades internas para o encerramento do expediente."

Disse também que o RU é uma atividade essencial da universidade e que as atividades foram retomadas no dia seguinte. "A empresa ofereceu suporte psicológico à família e aos funcionários, bem como apoio nos procedimentos funerários", ressaltou.

Alunos da Unicamp protestam contra terceirização do bandejão em Campinas — Foto: Arquivo pessoal

Cotas étnico-raciais para escola privada

O DCE divulgou que, recentemente, a Unicamp decidiu pela retirada do direito às cotas étnico-raciais para os estudantes que fizeram o ensino médio em escolas privadas.

A informação foi confirmada ao g1 pela Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), que explicou que a mudança se refere às vagas para ingresso via Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na seleção para ingresso em 2023, cujo edital ainda não foi publicado e as inscrições começam em 1º de novembro.

O ingresso na Unicamp conta com 80% das vagas gerais disponíveis para inscritos via vestibular tradicional e os 20% restantes via Enem. Nesta modalidade, havia a reserva de 25% dessas vagas (ou 5% do total) para autodeclarados pretos e pardos que estudaram em escolas particulares, e agora essas vagas foram restringidas somente para escola pública.

Como foi até o ano passado na modalidade :

  • 10% do total de vagas de cada curso para alunos de escola pública
  • 5% do total de vagas para autodeclarados preto ou pardos
  • 5% do total de vagas para alunos de escola pública e autodeclarados pretos ou pardos

Como ficou após a mudança:

  • 10% para estudantes do ensino médio de escola pública
  • 10%para estudantes do ensino médio de escola pública e autodeclarados pretos ou pardos

"A mudança se deve a dois objetivos: primeiro, ampliar e dar maior oportunidade para estudantes de escola pública; segundo, fazer com que a concorrência seja mais adequada, considerando que nós temos mais candidatos de escola pública pretos e pardos do que candidatos de escola privada pretos e pardos concorrendo a 5% de vagas em cada um dos nichos anteriores", explicou o diretor da Comvest, José Alves de Freitas Neto.

Manifestação de estudantes na Unicamp, em Campinas, em dia de suspensão de aulas — Foto: Arquivo pessoal

Ataques racistas

Os estudantes também relataram que a Unicamp não tem dado relevância para ataques racistas recentes e cobraram punições.

Nesta terça (4), a universidade divulgou uma manifestação pela plenitude dos Direitos Humanos no site oficial, onde se compromete a erradicar "todas as formas de intolerância, de discriminação e de violação dos Direitos Humanos."

"O princípio da dignidade da pessoa humana e da vida, em todas as suas formas, exige o firme repúdio e efetivas ações de enfrentamento a toda e qualquer forma de tratamento indigno e discriminatório, como define a Política Institucional de Direitos Humanos da Unicamp, aprovada por seu Conselho Universitário em 2020", diz a universidade.

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