Por Pâmela Fernandes, G1 Ji-Paraná e Região Central


Leonardo diz que gosta de estudar, mas que nunca deixou de se divertir — Foto: Leonardo da Silva/Arquivo Pessoal

Quem vê Leonardo da Silva Brito aos 17 anos jogando videogame, futebol e assistindo série pelas madrugadas a fora, pode até não acreditar, mas o estudante recém-formado no 3º ano do ensino médio em uma escola pública estadual de Rondônia foi aceito em quatro universidades americanas, entre elas, as Universidades de Harvard e Columbia. As aulas começam em agosto e agora Leonardo precisa decidir qual dos convites irá aceitar.

Muita gente pode achar que para ser aceito em uma das universidades privadas mais prestigiadas do mundo, como Harvard, é necessário viver trancado só estudando. Mas o garoto nascido em Presidente Médici, com pouco mais de 22 mil habitantes, não se acha um gênio e provou para si e para o mundo que não é preciso se isolar para conseguir.

“Eu sou uma pessoa comum. Eu gosto muito de ler e de estudar, mas eu também curto sair com meus amigos, jogar futebol e videogame, passar tempo com o meu irmão e com a minha família. O processo realmente é muito complicado, mas é muito mais relacionado à resiliência do que com genialidade. Muitas pessoas não conseguem mesmo sendo muito boas pois não persistem no processo. Outras não conseguem simplesmente por falta de sorte”, explica o garoto.

Outro fator que Leonardo afirma ter sido indispensável para o seu processo de admissão foi a humildade. Ele afirma que o processo de aprendizagem mostra às pessoas o quanto ela ainda tem a aprender e não o contrário. “Quando você participa desses programas, dessas olimpíadas, é uma experiência que te torna muito mais humilde. Eu sei que eu vou sempre ter muita coisa a aprender e sempre terá alguém melhor que eu para ensinar alguma coisa diferente”, afirma.

Leonardo e o irmão Lucas, passam as madrugadas jogando videogames — Foto: Leonardo da Silva/Arquivo Pessoal

Vida Escolar

Leonardo estudou a vida inteira em escolas públicas da cidade. Segundo a mãe, que é professora, Andreia da Silva Brito, a vida escolar do filho não tinha muita coisa de diferente dos outros estudantes. “Ele tinha dúvidas, dificuldades, como qualquer outro aluno. Mas, o que eu percebi desde o início de diferente nele, é que sempre que ele sentava para fazer uma tarefa, ele não sentava para se livrar daquela obrigação, mas sim para realmente aprender”, conta a mãe.

Outro fator que a mãe do estudante relembra foi o empenho que a família sempre teve em incentivá-lo desde pequeno a cumprir os compromissos, sendo eles escolares ou não. “Como eu trabalhava de manhã, assim que ele chegava da escola no fim da tarde, nós já sentávamos e verificávamos como estavam os cadernos, se as matérias estavam todas em ordem e quais tarefas ele tinha que fazer”, relembra a mãe.

Olimpíadas científicas e contatos

E foi no ensino médio que Leonardo começou a participar de olimpíadas científicas e de outros concursos de conhecimento. Com isso, conheceu dezenas de pessoas que já se empenhavam em atividade extra-curriculares, e ele viu nesta oportunidade uma possibilidade de conseguir ampliar os seus conhecimentos.

“A rede de contatos que consegui adquirir nessas olimpíadas me mostrou bastante sobre estas atividades extra-curriculares que podem ajudar uma pessoa a se desenvolver fora de sala de aula. Então, eu comecei a participar de vários grupos de estudo e olimpíadas e ajudei no desenvolvimento de um projeto aqui na cidade”, conta o estudante.

Com este empenho, em 2015 ele ficou em 1º lugar no Brasil e 3º lugar no mundo em um concurso internacional de cartas. O estudo o levou a dezenas de viagens pelo Brasil. Possibilitou fazer curso de verão sobre Política e Relações Internacionais em Oxford, na Inglaterra e de Curso de Engenharia e Ciência Aplicada em Yale, nos EUA. Em 2016 foi Jovem Senador no Brasil. Nestas viagens, conheceu colegas que já estudavam no exterior, o que despertou o interesse pelas universidades americanas.

A inscrição e aprovação

Ainda no início de 2016, o jovem decidiu que iria se inscrever no sistema unificado de universidades americanas. “Recebi muito apoio da minha família e de Deus, que sempre estiveram comigo. Depois, consegui muitos contatos em redes sociais de pessoas que estavam lá nos EUA, ou que já passaram pelo processo, que me ajudaram entender o que eu precisava fazer”, explica.

Segundo Leonardo, todo o processo é feito pela internet, com envio de documentos e em várias etapas, que incluem testes padronizados até redações. Também precisa provar a proficiência na língua inglesa. O sistema é unificado para todas as universidades. Depois de um ano de espera, no final de março deste ano, chegou a resposta. Leonardo foi convidado para ir para as universidades de Harvard, Columbia, Tufts, Stanford.

“O resultado sai junto para todos que se inscreveram. Antes de receber de Havard, eu já tinha recebido de outras. Quando eu soube que já tinha saído, chamei meus pais e abri o e-mail. Quando eu cliquei e li no início ‘congratulations’, já levantei da cadeira e comecei a comemorar”, relembra o estudante.

Agora, o garoto precisa decidir e oficializar em qual das universidades irá estudar, mas a preferida dele é Harvard. “Pelo que eu já consegui ver, eles tem a melhor proposta para me manter lá. Eu preciso decidir até agosto”, explica.

Já pensando na saudade, a família se programa para visitar o filho mais velho — Foto: Leonardo da Silva/Arquivo Pessoal

Família e saudade

Muito apegado aos pais, e ao irmão mais novo, Lucas, de 13 anos, Leonardo conta que está aproveitando este tempo para ler coisas que não conseguia quando ainda estava na escola e também para curtir o máximo que pode da família. O irmão ainda brinca com a situação. “O quarto vai ser só meu agora”, diz. Mas acaba assumindo que a distância do irmão será algo que ele vai ter que aprender a lidar.

Os pais, Andreia e Luís da Rocha, já começam a avaliar qual será a melhor alternativa: visitar o filho nos Estados Unidos, ou trazê-lo ao Brasil para ver todos, pois sabem que a saudade do primogênito vai apertar. “Eu fico pensando quem vai sofrer mais. A gente aqui, que fica com o vácuo da presença dele. Ou ele lá, que está em um lugar totalmente diferente. Já estamos estudando o que faremos para conseguir organizar isso, já que as férias lá são em épocas diferentes”, explica a mãe.

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