INGRESSO UNIVERSITÁRIO 2018

Por G1 PI


Beatriz Rodrigues se prepara para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — Foto: Lorena Linhares/G1

Beatriz Rodrigues, 25 anos, nasceu cega com uma doença chamada glaucoma congênito, que aumenta a pressão do olho e pressiona o nervo óptico, levando à cegueira. Atualmente Beatriz se prepara o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na Associação dos Cegos do Piauí (ACEP) e pretende cursas letras português ou pedagogia.

"Eu estou me preparando aqui mesmo, na Associação dos Cegos, com um professor. A formação dele é em filosofia, mas ele me atende em outras áreas, na língua portuguesa, literatura e filosofia", explicou a estudante.

Beatriz já fez cursinho preparatório para o Enem em outros locais, mas reclama da falta de preparo dos professores para lidar com alunos deficientes. "Nos outros lugares que a gente vai ter o preparatório para o ENEM, os professores não têm metodologia de ensino, não têm a didática, não são treinados para ministrar aulas para a gente. Principalmente nas aulas de matemática, química e física que eles falam muito voltado para quem enxerga", reclamou.

A estudante pretende cursar letras português ou pedagogia porque são duas áreas que a ajudam na áudio descrição que, segundo ela, é um recurso acessível onde as imagens são transformadas em palavras. Por exemplo, em uma sala de cinema, alguém descreve as cenas que estão passando na tela.

Sobre como será a trajetória na universidade, Beatriz ainda se prepara para enfrentar problemas com acessibilidade. "Geralmente nas universidades a gente passa as mesmas dificuldades, em todo lugar, e aí temos que explicar para os professores como é que se trabalha. Infelizmente eles não são preparados para dar aula para quem não enxerga", explicou.

Estudante se prepara para o Enem através de videoaulas — Foto: Lorena Linhares/G1

Além da preparação na ACEP, Beatriz também estuda em casa. "Estou me virando lá em casa com videoaulas no Youtube, assistindo aquelas aulas sobre questões sociais, porque o Enem cobra muito coisas da atualidade e eu não fico só limitada aqui, nas aulas desse meu professor", contou ao G1.

Quando perguntada sobre a maior dificuldade que encontra no Enem, a estudante criticou a falta de descritores de imagem de qualidade.

"A dificuldade que eu mais encontro no Enem é a parte que tem imagens. A gente estava criticando um pouco as provas do Enem 2016, porque os descritores de imagem são péssimos profissionais, eles não fazem uma descrição de boa qualidade e aí a descrição se torna confusa pra gente. A prova do Enem já é cansativa, aí você lê uma imagem descrita, longa, confusa e aí isso prejudica a gente que quer entrar na universidade", reclamou.

Beatriz Rodrigues ressaltou que os cegos merecem ter uma graduação, mas chamou atenção que é preciso ter uma acessibilidade para que isso aconteça. "A gente merece sim ter uma graduação e nós temos capacidade para ser tudo que queremos, mas também as coisas precisam ser acessíveis para a gente", declarou.

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