Estados adaptam aulas 'mão na massa' ao formato remoto

Redes públicas preparam docentes e investem em tecnologia; exclusão digital desafia transição para EAD

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Claudia Rolli
São Paulo

Lacunas de inclusão digital desafiam a formação profissionalizante, em especial na pandemia, com a transição para o ensino a distância. Secretarias estaduais tiveram de se adaptar à realidade, preparar professores e investir em tecnologia para qualificar alunos de forma remota .

Em São Paulo, o Novotec, que leva cursos técnicos gratuitos a estudantes do ensino médio da rede estadual, ganhou novos formatos. O programa é coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, em parceria com o Centro Paula Souza e a Secretaria de Educação.

Para jovens do ensino médio ou recém-formados nas escolas estaduais (de 15 a 24 anos), foram criados o Novotec Integrado, com cursos técnicos de dois a três anos, e as modalidades de Novotec Expresso (intensivos de um semestre, semipresenciais), Virtual (online) e Móvel (aulas em unidades móveis), com cursos de qualificação profissional de 80 a 150 horas.

Lauro Vasconcelos
Thais Alexsandra Veríssimo Soares, 17, aluna do integral na rede de ensino Educa Mais, em São Luís (MA) - Lauro Vasconcelos

Na modalidade integrada do Novotec, os alunos não precisam fazer vestibulinho. “O objetivo é atender os mais vulneráveis, e que às vezes nem tinham autoestima suficiente para participar de um processo seletivo e disputar vaga no ensino técnico profissional (como ocorre nas Etecs)”, diz Daniel Barros, subsecretário de ensino profissionalizante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

“São justamente esses alunos os que têm mais dificuldade em acompanhar as aulas, seja pela falta de dispositivos móveis adequados ou pela internet instável em casa”, diz Barros.

Os cursos técnicos integrados têm índice de evasão em torno de 5%. Mas, após mais de um ano de pandemia, o percentual subiu para 17% em 2021: das 21,6 mil vagas, 18 mil permanecem matriculados.

“Nossa expectativa é estancar essa sangria, com a volta das aulas presenciais o mais rápido possível, para que os prejuízos educacionais não firam de morte uma política pública que está ampliando as oportunidades para os que mais precisam”, diz Barros.

Uma das formas para reter os alunos é a programação com aulas ao vivo, em que os professores interagem pela plataforma Microsoft Teams.

Segundo Barros, a ideia é ampliar a oferta de cursos (hoje concentrados nas áreas de TI e gestão), com novos laboratórios, para facilitar o acesso no caso de aulas que dependem de estrutura mais complexa, como química, farmácia, nutrição e eletrônica.

No Novotec Expresso, a expectativa é chegar a 40 mil vagas no segundo semestre. Desde 2019, 22 mil alunos fizeram ou fazem esses cursos de curta duração, semipresenciais.

A ideia é uma qualificação bem ‘‘mão na massa’’, para que o jovem possa gerar renda, ganhar familiaridade com alguma área profissional ‘‘e aumentar seu repertório para decidir sobre uma carreira”, diz Barros. São 17 opções que vão de design de sites a gestão de pequenos negócios.

Por meio do programa Minha Chance, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico busca parcerias de empresas para criar cursos que gerem emprego e renda e atendam a necessidade de empregadores no estado de São Paulo.

Cursos “customizados” ganham espaço em outros estados. Em parceria com a Secretaria de Educação do Maranhão, a Vale investiu na construção de laboratórios e em cursos na unidade Itaqui-Bacanga, do Iema (Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão), para formar técnicos em segurança do trabalho e em funções ligadas à mineração.

O ensino profissionalizante maranhense se adaptou à pandemia por meio da plataforma Maranhão Profissionalizado, criada em 2020 para ampliar a qualificação com cursos cem por cento a distância.

No ano passado, 22 mil pessoas participaram de 11 cursos. Neste, até maio, eram 19.755 qualificados pela plataforma em 22 cursos.

Desenvolvida por profissionais do Iema, a plataforma tem aulas gravadas por professores bolsistas e também prepara docentes da rede estadual com ferramentas online.

“O objetivo é possibilitar a jovens e adultos uma forma de aproveitar o isolamento social para se aperfeiçoar e desenvolver uma atividade que gere renda”, diz Felipe Camarão, secretário de Educação.

O Maranhão aposta em três frentes: programa Escola Digna, rede de ensino em tempo integral Educa Mais e Iema —que tem 23 unidades de ensino médio técnico integral e 30 vocacionais, de acordo com as prioridades de cada cidade.

O instituto investe, desde sua criação, em 2015, na capacitação de professores, em especial em áreas ligadas ao futuro, como robótica.

Com a pandemia, segundo o secretário, essa capacitação foi ampliada para permitir aos 30 mil docentes da rede atuar de forma remota, lidar com ferramentas tecnológicas e engajar os alunos.

“Vivemos um paradoxo porque, ao mesmo tempo que investimos tanto em tecnologia, preparação e formação dos professores, em sua maioria inseridos no mundo virtual, lidamos com a realidade de alunos desestimulados, de evasão elevada e estudantes que não gostam do formato virtual de aula”, diz Camarão.

Segundo ele, a evasão no ensino técnico é metade da verificada no regular, porque o aluno “quer o certificado do curso para poder trabalhar”.

Nas 50 escolas da rede estadual, o ensino médio profissionalizante também avança na faixa de 14 a 17 anos. Neste ano, foram 12 mil estudantes matriculados em 43 cursos. Em 2020, eram 38 escolas com 8 mil alunos. Cursos de serviços jurídicos, enfermagem, informática e agrícolas são os mais procurados.

Para amenizar as dificuldades de inclusão digital, um dos principais problemas no ensino remoto no Maranhão, o governo distribuiu 200 mil chips com internet aos alunos do ensino médio profissionalizante ou regular.

“Essa iniciativa foi feita com verba do governo do estado. Sentimos falta de investimentos federais para melhorar a conectividade e permitir que mais alunos possam participar dos cursos”, diz Camarão.

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