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Por Jornal Nacional


Especialistas em educação são contra reprovação automática por causa da pandemia

Especialistas em educação são contra reprovação automática por causa da pandemia

A quase quatro meses do fim do ano, alunos, pais e professores têm a mesma dúvida: como vai ficar o ano letivo de 2020. A cada dia que passa, a sensação de um ano perdido aumenta.

O João está terminando o ensino médio. Ele mora em uma região carente de São Paulo e conseguiu assistir às aulas online. Nem todos os amigos tiveram a mesma sorte. Refazer o terceiro ano vai ser uma saída para muita gente.

“Eu tenho alguns colegas que estão pensando em refazer. E são justamente esses colegas que não têm condições de estar, a todo momento, criar um cronograma e segui-lo de forma que possam ter conhecimento, ainda mais nesse momento”, conta João Vitor do Carmo Lima, 17 anos, aluno de 3º ano do EM.

Embora exista uma turma disposta a começar tudo de novo, os especialistas em educação em geral são contra a reprovação automática. Dizem que repetir um ano desmotiva e aumenta os índices de abandono da escola, principalmente entre os mais velhos, que precisam trabalhar.

“Do ponto de vista da gestão pública, é importante a gente não penalize o aluno, porque a gente está no meio de uma pandemia. O ensino remoto não tem a mesma resposta por parte dos alunos que o ensino presencial. Então realmente seria injusto você ter uma reprovação, porque a gente está vivendo um momento de exceção dessa pandemia afetando a educação”, explica Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação.

Internet é outro problema. No estado de São Paulo, um estudo mostrou que mais de 16% dos moradores, 7,5 milhões de pessoas, não tiveram acesso à rede em 2019. Felipe coordena um cursinho popular na periferia de São Paulo. Diz que os alunos até têm celular, mas sem internet.

“Talvez essa internet em casa fosse uma política pública necessária para garantir a educação.Tem dificuldade de manter acesso com preço dos pacotes”, explica Felipe Costa, agente comunitário.

Por causa de dificuldades como essa, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei, enviado pela prefeitura da cidade, que prevê a aprovação automática de todos os alunos em 2020. O entendimento do Conselho Nacional de Educação é um pouco diferente.

“Não é a favor da aprovação automática, mas ele recomenda evitar o aumento da reprovação. Considero muito ruim considerar esse ano perdido, eu acredito que alunos fizeram, os outros professores se esforçaram muito. As famílias fizeram um esforço muito grande para fazer essa mediação entre escola e as crianças. Então o que nós precisamos é recuperar a aprendizagem de todas as nossas crianças e jovens até o final do próximo ano”, defende Maria Helena Guimarães Castro, conselheira do Conselho Nacional de Educação.

O diretor de políticas educacionais da Fundação Lemann, que desenvolve ações para a educação pública no Brasil, afirma que a resposta deve ser encontrada em conjunto.

“Não seria adequado a família assumir para si o peso tão grande dessa decisão. A escola tem que apoiar, conduzir, liderar esse processo, comunicá-lo da melhor forma, e o professor é a melhor pessoa para dizer qual que é o caminho adequado para cada um dos alunos para que ele garanta ao final o aprendizado que ele tem direito”, avalia Daniel de Bonis, diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann.

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