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Especialistas apontam desafios de novo ministro da Educação e dizem esperar 'perfil técnico' de sua equipe

Para educadores, falta a Milton Ribeiro experiência em gestão pública; Fundeb está entre principais questões a resolver
O pastor Milton Ribeiro durante palestra Foto: Reprodução
O pastor Milton Ribeiro durante palestra Foto: Reprodução

RIO - Nomeado nesta sexta-feira no Diário Oficial, Milton Ribeiro se torna o quarto ministro da Educação do governo Bolsonaro. Após a demissão de Carlos Alberto Decotelli devido a informações falsas em seu currículo, Ribeiro tem a missão de articular políticas educacionais com estados e municípios que estão sem diretrizes claras sobre como lidar com o tema durante a pandemia da Covid-19. Segundo especialistas, o desafio é maior após o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) não ter nenhum representante escolhido para assumir uma cadeira no Conselho Nacional de Educação (CNE).

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— O novo ministro tem dois desafios pela frente. O primeiro é mostrar que tem respaldo do governo. Recentemente, ocorreu um leilão público do MEC com aliados exigindo X ou Y. O deputado Marco Feliciano já afirmou que (apesar de Ribeiro ser pastor) não tem nada a ver com a bancada religiosa. O segundo desafio é a articulação com os estados e municípios. Foram indicados nomes para o CNE que têm um potencial maior de estrago do que qualquer nomeação para ministro. E foram publicados sem ter um ministro e sem ter um representante de secretários estaduais. Isso vai dificultar a sua gestão — afirma João Marcelo Borges, diretor de estratégia do Todos pela Educação.

Sobre o currículo do novo titular da pasta, Borges afirma que ele tem experiência no setor privado, mas falta trajetória no setor público.

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— Não conhecemos esse ministro. Ele não estava envolvido nos debates sobre educação pública. Não tem publicação relevante sobre o tema. É possível dizer que ele não é um técnico com experiência em educação pública. O que se espera é que ele monte uma equipe que supra essa necessidade — sentencia.

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Para Rodolfo Gomes, especialista em educação pela Universidade Federal de Pernambuco, a dificuldade do novo ministro está na fragilidade do momento de sua nomeação.

— Espera-se muito dele e não sabemos se poderá ser capaz. Gerir uma universidade é um esforço diferente do que gerir um ministério do tamanho do de Educação. Piora quando temos um acordo para o Fundeb com prazo terminando, uma pandemia de Covid-19 interrompendo aulas e uma série de programas interrompidos — afirma.

Educação 'laica'

Diversas entidades se posicionaram sobre a nomeação de Ribeiro para o Ministério da Educação. A União Nacional dos Estudantes (Une) criticou a postura do governo em relação à área.

“Reafirmamos que o problema da educação no Brasil é Bolsonaro. Mas reforçamos nossa defesa da educação laica, pública, gratuita, de qualidade, com atenção e permanência aos estudantes do ensino básico, e do superior público e privado, de datas justas para o ENEM, e outras questões urgentes para a educação, que o governo tem ignorado”, informou a entidade em nota.

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A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) reiterou a necessidade de que o novo ministro priorize o diálogo e a transparência com os estados e municípios. A Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes) afirmou que Ribeiro tem um “currículo sólido” e desejou êxito em um “momento desafiador em consequência da pandemia de Covid-19”.

A Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP) afirmou que a nomeação “é uma ótima notícia para fecharmos a semana, pois temos inúmeros assuntos pendentes para tratarmos a Educação como pauta prioritária a fim de obter um ensino de qualidade no país”.