Educação
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Izabely Cruz, de 24 anos, tem chorado junto com o filho, de 2. Ele, por ficar na escola. Ela, por vê-lo triste. Segundo a mãe, a creche não permitiu que ela ficasse com a criança nos primeiros dias para adaptação e ele tem tido recorrentes crises de choro até vomitar.

— Eu tenho dormido muito tarde e acordado muito cedo já com ansiedade e medo de a escola me ligar para buscá-lo, porque ele não para de chorar. As professoras dizem que é normal e que com o tempo vai melhorar. Mas temo que ele fique traumatizado — afirma Izabely.

O começo da vida escolar é, muitas vezes, um momento difícil para crianças e seus pais. E, ao longo dos anos, outros momentos desafiadores virão. Por isso, O GLOBO organizou, neste começo do período letivo, um guia para que as famílias possam ajudar seus filhos na adaptação de quatro momentos críticos: a entrada do ensino infantil, a mudança para o primeiro ano do fundamental, a saída do 5º para o 6º ano e a virada para o ensino médio.

Apesar de dolorosas, essas mudanças são fundamentais para o amadurecimento da criança, afirma a psicóloga e pedagoga Daniela Ramos, que coordena o curso de Psicopedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina.

— As dificuldades são necessárias para o amadurecimento e isso faz com que a criança aprenda a ter autonomia, a lidar com diferentes pessoas, a trocar de colegas e entender que depois essas pessoas não vão fazer mais parte da vida delas. Isso que os pais podem perceber como sofrimento contribui para o amadurecimento de coisas que seus filhos vão enfrentar lá na frente — diz.

Creche

Ainda na primeira infância, a criança acostumada apenas ao convívio da família é apresentada ao mundo — e, em geral, se expressa como pode: chorando. É o caso de Bernardo Lago, de 1 ano e 7 meses, que ainda não se ambientou completamente a ficar sem a família.

— Para ele, tem sido muito difícil estar sem a gente e interagir com outras crianças. Na entrada, quando chora, é angustiante porque conversamos que vamos voltar para buscá-lo. Mas ele é um bebê e não compreende — diz a servidora pública Paula Lago, 29 anos, moradora de Teixeira de Freitas, na Bahia.

Bernardo Lago, de 1 ano e 7 meses, está em processo de adaptação na creche — Foto: Arquivo pessoal
Bernardo Lago, de 1 ano e 7 meses, está em processo de adaptação na creche — Foto: Arquivo pessoal

Especialistas em adaptação escolar são unânimes em dizer que são os pais que podem passar confiança aos seus filhos. E, nessa idade, isso se dá em gestos, não por palavras.

— Algo muito importante para os pais dessas crianças pequenas é se conscientizarem e passarem segurança para a criança de que ficarão em boas mãos. Não é difícil ver pais chorando ou entregando a criança com certa resistência para o pessoal da escola. A criança fica mais tranquila quando os pais estão tranquilos — afirma Danila di Pietro Zambianco, especialista em competências socioemocionais.

Ainda segundo a doutoranda da Unicamp, é preciso que escola e família façam um plano de adaptação que vá aumentando o tempo de permanência na creche gradativamente, permitindo que a família fique com a criança nos primeiros dias.

— Vale observar nos dias subsequentes a postura da criança. Chorar e resistir por um tempo é normal e precisamos saber sustentar a permanência na escola. Mas se isso se prolongar é preciso rever o plano de adaptação — diz.

1º ano

Pedro Tavares, de 6 anos, está começando uma fase nova. O menino acabou de sair da educação infantil, quando as crianças aprendem com brincadeiras, para o 1º ano do ensino fundamental. Agora, é preciso ficar sentado na cadeira, prestar atenção na professora e cumprir tarefas ao mesmo tempo que outros colegas.

— Acredito que ele vai sentir a diferença nas aulas, porque é a fase da alfabetização. Vai começar a ter matérias como Matemática, Português, Artes. Mas o ano ainda está começando e estou observando — conta a mãe de Pedro, Juliana Tavares, de 27 anos.

Pedro Tavares, de 6 anos, está começando o 1º ano do ensino fundamental — Foto: Arquivo pessoal
Pedro Tavares, de 6 anos, está começando o 1º ano do ensino fundamental — Foto: Arquivo pessoal

Para a especialista da UFSC Daniela Ramos, um trabalho de “ensaio cognitivo” pode ajudar a criança a se adaptar com mais facilidade. Isso significa fazer com que a criança pense no que ela vai viver, mostrar fotos da escola para ela, explicar como vai funcionar a nova rotina e como será conhecer novos amiguinhos.

— É o ensaio mesmo do que acontecerá nessa nova fase. Isso dá segurança — afirma.

Nas conversas sobre a escola, Danila Di Pietro Zambianco, da Unicamp, recomenda que os pais contem para o filho como foi a experiência deles quando eram criança.

— Eles podem lembrar o que descobriram de novo e o que gostaram — diz.

Outra recomendação é da psicóloga escolar Flávia Miller Naethe Motta, autora do livro “De crianças a alunos — a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental”. É preciso ouvir e entender os sentimentos da criança, diz a especialista.

— Tem que respeitar o tempo de cada um e validar seus sentimentos. Seja de medo, de estranhamento ou mesmo de alegria com as novidades — afirma.

6º ano

O mundo dos adultos quase não vê, mas o das crianças é revolucionado quando elas passam do 5º para o 6º ano. É neste momento que começam a ter vários professores, um para cada disciplina. É também quando deixam de ser os mais velhos do primeiro ciclo do ensino fundamental e vão ser os caçulas do segundo ciclo.

— É uma mudança bem radical. Eles deixam de ser crianças para serem pré-adolescentes. Até então, chamavam a professora de tia. Agora não pode mais. Mesmo no começo do ano a gente já vê que a responsabilidade mudou. São muitas matérias — conta Rosângela Domingues, mãe do Bernardo, de 11 anos.

Bernardo Domingues, de 11 anos, está se adaptando no 6º ano com mais disciplinas em sala de aula — Foto: Arquivo pessoal
Bernardo Domingues, de 11 anos, está se adaptando no 6º ano com mais disciplinas em sala de aula — Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Graciana Vieira de Azevedo, autora da tese “Construção de significados na transição escolar para o 6º ano do ensino fundamental”, o ideal é que a família explique para a criança como será o novo cotidiano e observar se houver alguma mudança de comportamento. Também é importante ajudar a criança a se organizar com os novos horários, aulas, tarefas e exigências.

— É preciso montar uma agenda e colocar os horários da criança bem visíveis para ela no quarto. Elas precisam aprender a anotar as demandas e a serem guiadas pelo calendário. Como são muitas disciplinas, o número de tarefas também cresce — afirma a doutora pela UFPE.

Outra atitude importante é a organização de um espaço adequado para o estudo em casa e de um horário para fazer as tarefas da escola e outro para o lazer. Já a ajuda nos deveres precisa ser dada com moderação.

— O pai ou mãe que tiver condição pode tirar uma dúvida pontual ou ensinar alguma coisa. Mas a criança precisa ser estimulada a fazer a tarefa sozinha para ganhar independência — explica.

Tay Dantas Cristelo é mãe do Lucas, de 11 anos, aluno da Escola Carolina Patrício que iniciou agora o sexto ano do ensino fundamental. Ela conta que tinha criado a expectativa de que essa transição seria um momento bem difícil, mas no fim acabou tendo uma experiência positiva.

— Cada matéria passa a ter seu professor, suas particularidades, tem mais mão na massa. Então havia uma expectativa muito grande nossa, o Lucas sempre falava ‘nossa, mãe, agora o sexto ano vai ser complicado’. Então eu já estava preparada para algo bem pior, achei que todo dia teria que sentar com ele para estudar. Mas ele está amando, chegando em casa contando tudo que está aprendendo em cada matéria — conta ela.

Ensino Médio

Amanhã começa outra fase na vida de Ana Beatriz Souza, de 14 anos: o ensino médio. O sentimento é de medo para o que está por vir numa escola nova.

— Esse é um período tão triste. Ainda não escolhi o que quero trabalhar futuramente. Todo mundo só me pergunta sobre isso e sobre o Enem. Estou com muito medo do futuro — desabafou a estudante de Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio.

Ana Beatriz Souza, de 14 anos, está apreensiva para o ensino médio por conta do Enem — Foto: Arquivo pessoal
Ana Beatriz Souza, de 14 anos, está apreensiva para o ensino médio por conta do Enem — Foto: Arquivo pessoal

A jovem vive desafios típicos do momento. De acordo com Elodia Honse Lebourg, doutoranda em Educação pela Ufop, é comum mudar de escola no ensino médio e sentir o peso da escolha do Enem. Mas a pesquisadora de juventude e socialização diz que está tudo bem em não se decidir o futuro aos 14 anos, e as famílias têm de aliviar a pressão.

— É preciso explicar como funciona a universidade, entender que eles são muito jovens e que tudo bem se aos 17 anos ele ainda não souber o que quer fazer da vida, se depois mudar de ideia, se não passar de primeira no Enem — afirma Lebourg.

De acordo com a doutoranda, o maior desafio é ouvir o jovem. É preciso entender, afirma a especialista, que nem sempre ele quer falar. E mesmo que tenha esse desejo, pode ter dificuldade de elaborar suas queixas e angústias.

— As famílias devem tentar observar se está tudo bem com esses jovens — diz.

Pedro Rocha, diretor de ensino do Colégio e Curso Pensi, lembra que o Novo Ensino Médio trouxe muitas novidades para os alunos e os pais podem ajudá-los nesse momento.

— Para auxiliar os adolescentes a definir o que cursar, os pais precisam conhecer os itinerários formativos (parte do currículo que o jovem escolhe) oferecidos pelas escolas — diz.

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