Educação
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Por — Rio

Mãe de uma menina de 13 anos, Simone de Almeida é uma “mãe guardiã”. E está atenta. Todo dia ela confere todas as listas de presença da Escola Municipal de Educação Infantil Governador Carvalho Pinto, na Zona Leste de São Paulo, para saber se alguém está faltando muito. Quando percebe um sinal de alerta, procura a família do estudante. Procura saber se está tudo bem e quando a criança volta. Assim como ela, há cinco mil mulheres trabalhando na rede, com uma bolsa de R$ 1.386 por seis horas diárias, para garantir a retenção das crianças.

— Na minha escola, a maioria das crianças está faltando por doença, está de atestado e esqueceu de mandar. Mas já pegamos casos em que os pais viajaram ou mudaram de cidade e não avisaram — explica Simone.

O programa Mães Guardiães é uma das estratégias da Prefeitura de São Paulo para tentar prevenir a evasão escolar no município. Apesar de os desafios ainda serem enormes no país todo, assim como na capital paulista, muitas redes de ensino buscam estratégias para evitar novas debandadas e recuperar aqueles que já abandonaram os estudos.

A mais robusta dessas estratégias conseguiu, entre 2018 e 2023, resgatar mais de 193 mil crianças e adolescentes que estavam fora da escola ou em risco de abandono e voltaram às salas de aula. Montada pelo Unicef e pela União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a Busca Ativa Escolar (BAE) conta com a adesão de 3.500 municípios e 22 estados. Em seu desenho, reúne representantes de diferentes áreas (Educação, Saúde, Assistência Social, Planejamento, entre outros) para sustentar uma rede de proteção.

Identificação e gestão

Cada secretaria e profissional têm um papel, que vai desde a identificação de uma criança ou adolescente fora da escola ou em risco de abandono até a tomada das providências para atendimento nos diversos serviços públicos, matrícula e a permanência na escola. Há ainda uma ferramenta tecnológica que facilita a comunicação entre as áreas, armazena dados importantes sobre cada caso acompanhado e apoia a gestão das informações sobre a situação da criança e do adolescente.

— Realizar a Busca Ativa Escolar é urgente, indo atrás de cada criança ou adolescente que está fora da escola. Trata-se de uma estratégia nacional, experimentada e validada, que há seis anos tem efetivamente contribuído para a inclusão escolar e para a queda das taxas de abandono, fomentando o trabalho intersetorial e fortalecendo a rede de proteção assegurada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente — detalha Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do Unicef no Brasil.

Letícia Cunha, de 15 anos, conta que chegou a parar de frequentar as aulas depois que Sofia nasceu, em Aparecida do Rio Negro, no interior do Tocantins. Letícia não tinha com quem deixar a menina enquanto estava estudando e a levava para a escola, o que não foi aceito. Por isso, a adolescente parou de estudar. Meses depois, o caso chegou ao conhecimento da equipe de Busca Ativa Escolar do município.

Uma conselheira tutelar explicou os direitos de mãe e filha e, com outros órgãos da prefeitura, encontrou uma solução: ficou combinado que a adolescente levaria a filha até uma creche e seguiria para a aula.

— Eu quero ser policial. Mas, daqui a uns anos, vai que eu mudo de pensamento? Pretendo fazer faculdade, fazer cursos — planeja Letícia. — Deu tudo certo, agora a Sofia vai para a creche, e eu vou para minha escola — celebra.

O Unicef lançou este ano mais uma publicação para orientar as redes: “Matrícula a qualquer tempo: um passo importante para garantir o direito à educação”. O objetivo é estimular as redes a garantir que as crianças e adolescentes possam começar a estudar em qualquer momento do calendário, e não apenas no começo do ano letivo.

— Ao acolher, em qualquer período do ano letivo, meninos e meninas que pelos mais diversos motivos não tinham seu direito de estudar garantido, a escola contribui para uma educação que inclui e protege — defende a representante do Unicef no Brasil.

Recebendo para estudar

Outra estratégia que tem começado a se espalhar pelo país, ainda que de forma tímida, é o pagamento de uma bolsa para as famílias manterem suas crianças e adolescentes na escola. Economistas especialistas em educação apontam que essas ações, apesar de não apresentarem resultados significativos na aprendizagem, mostram-se eficientes para garantir que alunos mais vulneráveis continuem frequentando as aulas.

O município de Niterói, por exemplo, paga R$ 1,2 mil pela aprovação no 9º ano do fundamental, R$ 1,1 mil no 1ª ano do ensino médio, R$ 1 mil no 2º ano e R$ 800 no 3º ano para alunos que recebem o Bolsa Família — ou seja, os mais vulneráveis da rede.

Todos são bonificados com mais R$ 400 pela pontuação acima da média nacional no Enem. O benefício está condicionado à participação em atividades extracurriculares, ter frequência maior que 75%, não infringir o regimento escolar e aprovação no ano letivo.

Em Alagoas, o programa de bolsas Vem que Dá Tempo, voltado a jovens e adultos que interromperam os estudos e que desejam concluir o ensino fundamental, paga um benefício de R$ 500 se forem aprovados. Depois que estão na escola, normalmente os beneficiados pegam o embalo e continuam no ensino médio. Foi o que aconteceu com José Eduardo dos Santos Filho, de 73 anos, morador de Flexeiras. José Eduardo foi incentivado a voltar a estudar pela filha, Renatha Santos Morais, professora da Escola Estadual Padre Cabral, em Fernão Velho.

— Ele era o primeiro a chegar às aulas e sempre foi muito participativo em todas as atividades — conta a filha, que deu aulas para o pai nesse processo.

Rio Grande do Sul, Piauí, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás, São Paulo e Santa Catarina também têm programas que seguem o modelo de Alagoas, que pode ser adotado pelo governo federal.

Ajuda personalizada

Outro eixo que começou a aparecer com mais força, especialmente depois da pandemia, foram os programas de tutoria on-line. O objetivo é fortalecer a aprendizagem, já que dificuldades pedagógicas e reprovações de ano são fatores de alto risco para a evasão escolar.

Em Aracaju, a Secretaria municipal da Educação implementou um Programa de Tutoria Pedagógica, feito de forma virtual. São estagiários de Língua Portuguesa e Pedagogia que atuam em turmas do 3º ao 5º ano do ensino fundamental, com cinco a dez horas de carga horária semanal. Sob orientação dos professores, supervisão dos coordenadores e material específico, os tutores auxiliam os docentes no trabalho com alunos que apresentam mais dificuldade.

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