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Artigos escritos por colunistas convidados especialmente para O GLOBO.

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O Brasil é um dos três países que mais usam redes sociais. Fomos denominados “o país do WhatsApp” pelo próprio presidente da empresa do aplicativo de mensagens. Somos também líderes mundiais no uso do celular por crianças e adolescentes, segundo estudo da McAfee. Noventa e seis por cento das crianças brasileiras usam ou já usaram smartphones, 19 pontos percentuais acima da média global. O uso excessivo e sem limites desses aparelhos exige que a sociedade brasileira discuta as seguintes questões: devemos deixar nossas crianças e adolescentes usar celulares nas escolas sem restrição? Ou devemos estabelecer regras e limites?

Vivemos hoje uma “epidemia de distrações”, que comprovadamente prejudica a aprendizagem e a convivência social dos alunos. Estudo em 14 países, destacado no Relatório Global da Educação da Unesco, concluiu que a mera presença de um celular já atrapalha o aprendizado. Evidências alarmantes apontam ansiedade, instabilidade emocional e até diagnósticos de depressão entre crianças. Segundo a OCDE, 80% dos estudantes no Brasil confessaram que ficaram distraídos nas aulas de matemática devido ao celular.

Por isso precisamos adotar medidas concretas para enfrentar esse problema que pode prejudicar o desenvolvimento e a saúde mental de toda uma geração. Interromper essa tendência é essencial para ajudar os alunos a evitar danos permanentes em sua vida. Na cidade do Rio, em agosto, um decreto do prefeito Eduardo Paes determinou a proibição do uso de celulares nas salas de aula da rede municipal — exceto se autorizado pelo professor por razão pedagógica ou em casos de saúde.

Em nova etapa recente, abrimos consulta pública que visa à proibição completa do uso de celulares, pelos alunos, durante todo o horário escolar, incluindo recreio e intervalos. Sem celular, sobra tempo para aprender e conviver, algo que se tem perdido com o isolamento dos estudantes em suas próprias telas.

Uma boa educação dos filhos em casa sempre passa pela família, estabelecendo regras. Na escola, não deve ser diferente. Logo, não se trata de ser contra a tecnologia. Trata-se de usá-la de maneira responsável e saudável. É possível fazer isso. Tanto que no Rio inauguramos 80 escolas onde a tecnologia é um dos pilares da educação — são os Ginásios Educacionais Tecnológicos (GETs), modelo de ensino mais inovador do país. No ano que vem, chegaremos a 200 GETs na cidade. Precisamos ter a tecnologia como aliada no desenvolvimento dessa nova geração, e não como vilã. Por isso é crucial educar, conscientizar e apoiar as crianças para o novo tempo em que vivemos.

Pelo bem dos nossos pequenos, toda a sociedade brasileira precisa estar unida para preservar o caráter sagrado da escola: lugar de aprendizagem e de convívio social entre os alunos. O tema é urgente. Se não agirmos rápido, a escola perderá seu aspecto central: a interação humana.

*Renan Ferreirinha é secretário municipal de Educação do Rio

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