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Brasil Educação

Escolas se rendem à ioga para preparar alunos para o Enem

Colégios cariocas buscam no ensino da prática ferramentas para exercitar foco e diminuir ansiedade de estudantes
Professor Maurício Salem durante aula de Ioga Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Professor Maurício Salem durante aula de Ioga Foto: Ana Branco / Agência O Globo

RIO- Quando começa a explicar o tipo de aula que ministra, o professor Maurício Salém revela um orgulho: não precisar impedir que os alunos durmam. Aliás, cair no sono ao final das atividades é estritamente recomendado.

— Eu combino com eles: “Gente, pode dormir mesmo, tá?”. Sou o único professor que pode dizer isso — diverte-se Salém.

O psicomotricista é um dos precursores do ensino de ioga em escolas, 25 anos atrás. No início, a ideia era recebida com estranheza pelas instituições cariocas, mas, hoje, uma leva de colégios vem adotando a prática, inclusive dentro grade curricular. A ioga é vista como ferramenta de aprendizado tanto para crianças da educação infantil, quanto para os alunos mais velhos. Particularmente, a prática é entendida como trunfo para aqueles que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

De modo geral, existem dois tipos de exercícios ideais para esses estudantes. O primeiro estimula a concentração (veja mais no quadro acima ), e o segundo, relaxamento. Ambos são importantes na hora de realizar uma prova longa e complexa, mas também são grandes aliados nos meses ou anos que antecedem o exame, porque, se praticados periodicamente, ajudam o aluno a absorver conhecimento e a melhorar a memória de longo prazo.

— Enquanto estudam, eles ficam muito tempo no computador, sentados com as costas curvadas, tensos, fazendo movimentos repetidos — avalia Salém. — A ioga voltada para a educação dá meios de resolver problemas objetivos relacionados à rotina de estudos. Eles sabem quais exercícios fazer quando dá branco na hora da prova, quando estão com a coluna doendo porque ficaram muito tempo sentados e assim por diante. É algo bem pragmático, para que tenham autonomia e possam fazer isso em qualquer lugar.

O professor recomenda que, a cada uma hora de estudos, os alunos deem uma pausa e façam exercícios de respiração e de alongamento, que fortalecem a musculatura acessória e oxigenam o cérebro.

Salém destaca que a geração atual é diferente das anteriores em um importante aspecto: ela está constantemente exposta a aparelhos eletrônicos. Assim, embora o período de estudo dos adolescentes de hoje pareça maior do que o de seus pais, esse período é muito mais fragmentado, interrompido por uso de celular e redes sociais.

— Em vez de passar 40 minutos estudando de forma concentrada, eles ficam duas horas com os livros, mas parando a todo momento para checar Whatsapp, ver algo na internet, abrir o Facebook... O ideal é que, no lugar de pegar o celular, eles exercitem o corpo, para que a mente responda bem — ressalta o psicomotricista.

No Colégio Eliezer Max, uma das escolas em que Salém dá aulas, os estudantes do ensino médio podem escolher entre quatro atividades para se matricular durante a educação física: esportes, ioga, circo e dança. Em 2017, o ano letivo começou com 50% dos alunos do 3º ano matriculados em ioga.

— Eles são os que mais buscam a prática porque entendem que, especialmente para essa fase, é importante exercitar o foco — diz Salém.

Aos 17 anos, Tatiana Pines acredita que, com a ajuda da ioga, conseguirá lidar melhor com o Enem deste ano do que com o de 2016, que fez apenas como treineira. Na época, de tão nervosa, ela abandonou a prova no meio.

— Eu tenho um grande problema com ansiedade, que tenho aprendido a controlar com a ioga. Os exercícios também me ajudaram a ter mais horas de sono e com mais qualidade — conta ela.

Além do Eliezer, o professor ensina nos colégios Liessin e Andrews. Também dá aula de ioga extracurricular, aberta à comunidade, na escola Eleva, inaugurada no início do ano.

Tatiana Levy, coordenadora pedagógica do Eleva, explica que as turmas de ensino fundamental 1 têm, na grade, o “momento wellness ” — ou bem-estar —, que reúne exercícios de ioga e de meditação mindfulness . Para os estudantes do ensino fundamental 2 e do ensino médio, a atividade ainda é extracurricular. Mas Salém já está em conversas com a escola para levar a prática para a grade regular ano que vem.

— Os nossos alunos de ensino médio já tiveram uma aula assim antes de um simulado de preparação para o Enem, e o retorno deles foi muito positivo — destaca Tatiana.

Mais de 200 instrutores brasileiros estão cadastrados no Centro de Estudos Yoga Educação, criado por Salém há 17 anos. Parte expressiva deles dá atualmente aula de ioga dentro de colégios. E, em janeiro, realizarão o Congresso de Ioga na Educação, o primeiro do tipo no Brasil.