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Escolas públicas inovam ao cumprir lei que obriga ensino da história indígena e afro-brasileira

Seja na sala de leitura, através da história da Abayomi — boneca negra feita de pano e com nós; na aula de História, apresentando instrumentos indígenas; na de Artes, ou através de qualquer atividade e disciplina, a história e a cultura afro-brasileira e indígena estão muito presentes.

— Não sei colocar turbante sozinha, mas me sinto mais bonita quando uso — conta Myriam Vitória da Silva Bruno, de 9 anos, aluna do 3º ano do Ensino Fundamental da Escola municipal Professor Paris, em Belford Roxo.

Mais do que cumprir a Lei 11.645 — que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena — escolas públicas da Baixada fazem com que os alunos vivenciem essa cultura.

— A gente não quer que eles vejam a cultura negra como folclore e nem que a cultura indígena perca suas características. Há alunos que cortam seus cabelos para não serem identificados como índio — conta a professora de História Norma Sueli Praxedes, dinamizadora cultural da rede municipal de Belford Roxo.

Na cidade, 55 das 76 escolas aplicam a lei. Segundo a prefeitura, as outra 21 são de Educação Infantil. Cada uma das unidades apresenta seus trabalhos e um de cada escola participa da semana da culminância, organizada pela Secretaria de Educação. Na Escola Municipal Alejandro Fernandez Nuñez, a professora de História Márcia Fonseca Vieira se uniu às Artes para trabalhar com alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) a criação de faces de mulheres negras através de materiais recicláveis:

— Além da consciência negra, trabalho com eles o papel da mulher e a reciclagem.

Os alunos do 4º ano do ensino fundamental da Escola municipal Deputado Oswaldo Lima, no bairro São Bernardo, abrdaram ao longo do ano o centenário do samba. A ideia foi da pedagoga da unidade, Beatriz Trindade:

— Quando entrei na escola, só havia o projeto em novembro. Quando me tornei multiplicadora, passou a ser o ano inteiro. Este ano, por exemplo, o professor de cada disciplina está trabalhando um dos temas: culinária, vocabulário, moda, intolerância religiosa.

Na rede estadual, no Ciep 175 José Lins do Rego, em São João de Meriti, os professores de Artes criaram o projeto “Semana da Consciência... Negra”. Onde são apresentados trabalhados realizados por alunos do 6º ano ao Ensino Médio e do EJA, durante todo o ano letivo.

— A lei como objeto não funciona. Quando você obriga, você não conscientiza. Em relação à cultura negra, é importante entender o conceito de favela, negritude, de como é ser negro e ter consciência política — explica o professor de Artes e coordenador pedagógico Aldair Ventura.

Cada turma desenvolve uma das quatro atividades: carnaval pedagógico, onde discutem sobre cultura negra; o “Pinto, logo exito”, pintando quadros ; gincana artística e a Semana da Consciência Negra.

— Na pintura, trabalhamos o Modernismo e os alunos abordaram a temática do racismo nos quadros — explicou a professora de Artes Rosângela Ribeiro.