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Escolas preparam espaços à espera de mudança de fase na pandemia

Após adaptação forçada ao ensino online, alunos e professores de colégios aguardam confirmação do retorno gradual a partir de 7 de outubro

Por Ocimara Balmant , Alex Gomes e especiais para o Estado
Atualização:

“Por que eu vou reprovar em 2020.” Com esse título, a estudante Júlia Almeida, que cursa o terceiro ano do ensino médio em Belo Horizonte, publicou um vídeo no Instagram expressando seu descontentamento com as aulas remotas impostas com a pandemia. O clipe se tornou um viral, com mais de 120 mil visualizações, e serviu como um símbolo das dificuldades com que escolas, alunos e famílias lidam com as aulas remotas para os alunos da educação básica no momento atual.

Há protetores para cada aluno, mostra Maria Cristina, do Santa Maria Foto: Werther Santana/Estadão

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Mesmo a perspectiva de retorno ao modo presencial não anima a todos. Em São Paulo, apesar do anúncio do governo estadual de retorno gradual das atividades a partir de 7 de outubro, há receios de professores, funcionários de escolas, familiares e estudantes com relação ao contágio do novo coronavírus. Algumas cidades do Estado já afirmaram que não irão reabrir suas escolas em 2020, como alguns municípios do ABC Paulista. Na capital, os colégios definem planos de retomada das atividades na forma híbrida, com aulas presenciais e no formato remoto.

Outro cenário. No Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo, a volta às aulas tornou imprescindíveis itens que nunca fizeram parte daquele espaço. Quando os estudantes retornarem ao local, as carteiras estarão divididas por barreiras acrílicas; haverá nebulizadores para desinfecção periódica das salas; antes de entrar, os sapatos serão limpos em tapetes sanitizantes; e, para garantir que todo mundo está com as mãos limpas, haverá lavatórios móveis. 

O protocolo também prevê rodízio de alunos e, por isso, faz parte do planejamento de retomada instalar câmeras nas salas de aula para que os estudantes que não possam ir à escola acompanhem o conteúdo em tempo real. “As equipes docentes estão se reunindo para traçar o plano de retomada, tanto do ponto de vista pedagógico quanto logístico”, explica Maria Cristina Forti, coordenadora pedagógica do 8.º ano na escola. Depois da enquete realizada com as famílias para saber o que pensam sobre a retomada das aulas presenciais, aquelas que decidirem deixar os estudantes em casa até o fim deste ano letivo continuarão recebendo o suporte virtual para acompanhamento das atividades.

Desde o início da pandemia, o colégio manteve o calendário escolar com encontros virtuais por meio de aplicativos como Zoom e Padlet. “O que podemos dizer é que estamos aprendendo com as experiências pedagógicas vividas no ambiente virtual de ensino-aprendizagem-avaliação. Algumas dessas aprendizagens, por exemplo, o uso frequente de ferramentas e linguagens digitais de comunicação, têm favorecido metodologias que permitem maior protagonismo dos estudantes”, diz Maria Cristina. Por isso, apesar de não prever nem desejar a adoção de um modelo híbrido perene na educação básica, um ensino-aprendizagem-avaliação com a adoção de metodologias híbridas parece ser um caminho promissor para o futuro, segundo a coordenadora.

Prática. Com exercícios dos jogos, estudantes conseguem treinar operações matemática. Foto: EDUTEN

Participação. É a mesma lógica preconizada pela direção do Colégio Vital Brazil, na zona oeste de São Paulo. “Identificamos situações que podemos trabalhar remotamente, como atividades extracurriculares. Mas, do ponto de vista da grade, não enxergamos essa possibilidade, até porque não existe autorização legal para que a educação básica opere no modelo híbrido”, afirma Suely Nercessian, diretora pedagógica do colégio. 

O que a quarentena deixou evidente, acredita, é o potencial da educação a distância como ferramenta complementar. Da experiência desses meses, Suely destaca o roteiro de estudo semanal, que já antecipa aos estudantes as atividades. O controle sobre o que será ministrado ao longo da semana dá ao aluno mais autonomia sobre o próprio saber. As ferramentas digitais de comunicação, como chats e conferências virtuais, também têm sido eficientes tanto entre professores e alunos como em reuniões de pais. Aliás, o interesse e a participação das famílias têm sido significativo.

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“Já falávamos sobre metodologias ativas, ensino híbrido e aula invertida, por exemplo. O período de pandemia acelerou o uso dessas metodologias e trouxe aprendizados não só aos alunos, mas também aos familiares, que se envolveram mais intensamente de alguma forma na vida escolar de seus filhos. Considero isso um ganho e um facilitador na adoção de novos modelos”, diz.

O formato da retomada às aulas presenciais têm sido discutido nesses fóruns e, por enquanto, o que se desenhou é o retorno de todas as etapas, mas com adaptações relacionadas às faixas etárias. As turmas de educação infantil terão dois dias por semana de aulas presenciais e três a distância. No fundamental, serão três dias fisicamente na escola para o 1.º ano e dois para alunos do 2.º ao 5.º ano. Cada turma será dividida em algumas salas, com alternância de professores, para evitar aglomerações. No caso dos alunos mais velhos - do fundamental 2 e do médio, a cada dia 35% da turma terá aulas presenciais e o restante assistirá remotamente, com aulas simultâneas e atividades assíncronas.

Protocolo de grife. Para garantir segurança aos alunos que desejam retornar ao ensino presencial ainda neste ano, a Escola Móbile, na Vila Nova Conceição, na zona sul da capital, encomendou já em junho um protocolo sanitário ao Hospital Israelita Albert Einstein. Todas as definições estão sendo compartilhadas com as famílias por meio de um plano de comunicação desenhado exclusivamente para o tema, com hotsite e material audiovisual.

A partir do protocolo, a escola adesivou o chão para facilitar o distanciamento no espaço comum, espalhou totens com dicas sanitárias, mudou a velocidade das torneiras dos sanitários - agora elas se mantêm mais tempo abertas, para a correta higiene das mãos.

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As orientações do Einstein incluíram até a readequação do modelo didático. Antes da pandemia, a Móbile atuava com o que chama de salas ambiente. Eram os estudantes que iam até a sala de Matemática, por exemplo, onde se encontravam com o docente da disciplina. Isso agora se inverteu, para diminuir a circulação. “Também fizemos uma entrevista com todos os colaboradores, para mapear a saúde e proteger quem pode estar no grupo de risco”, afirma Wilton Ormundo, diretor do ensino médio.

Durante a fase de retorno gradual, a Móbile vai manter o ensino remoto no formato que mais tem agradado aos estudantes. O coordenador conta que, no início, a escola adotou uma mescla de aulas totalmente síncronas - com horários estabelecidos e que todos tinham de acessar - com outras assíncronas - o professor gravava os vídeos para os alunos assistirem quando quisessem. O resultado foi a reclamação de que as síncronas eram muito cansativas e as assíncronas, monótonas demais.

Hoje, usam o formato misto: no mesmo encontro, parte é síncrono e parte é assíncrono. “Um exemplo corriqueiro: o professor começa a aula, cumprimenta a turma e sugere que os estudantes vejam um vídeo. Quando termina, todos voltam para um momento de discussão, de aplicação do conteúdo. Deu muito certo”, diz.

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Avisos. Após consultoria do Einstein, Móbile sinalizou área. Foto: ESCOLA MÓBILE

Nas públicas, desafios são estrutura e formação de equipe

Enquanto na rede privada cada escola organiza a grade de disciplinas às adaptações físicas necessárias para o retorno às aulas, o sistema público tem o desafio de lidar com um contingente de milhões de estudantes e com a adequação de uma infraestrutura que já é, em boa parte das redes, muito aquém do necessário.

Na rede estadual de São Paulo, para o retorno das aulas, a estimativa é que sejam fornecidos para estudantes e servidores itens como 12 milhões de máscaras de tecido, 300 mil face shields (protetores faciais de acrílico) e 10 mil totens de álcool em gel. Também está previsto o fornecimento de mais de 10 mil termômetros a laser para a aferição de temperaturas nas escolas públicas.

O aprendizado presencial será concomitante ao que vai continuar ocorrendo fora dos portões. Desde abril, os 3,5 milhões de alunos da rede pública estadual têm acesso à plataforma Centro de Mídias SP. Ela contém uma programação com aulas transmitidas ao vivo pelo canal digital da TV Educação e pela TV Univesp.

No sistema ainda há conteúdos em texto e audiovisuais voltados tanto para os alunos, gestores e professores, bem como roteiros de estudos organizados em habilidades que devem ser trabalhadas em cada dia da semana. A ferramenta também conta com salas de aula virtuais e chats, e o acesso também é oferecido por meio de aplicativo para celular. 

Deficiências. Os resultados esbarram em limitações como a carência de estrutura - são comuns os relatos de quatro ou mais filhos disputando um único celular da mãe, para conseguir acompanhar as atividades escolares online - e a preparação dos docentes. Muitos ainda são pouco familiarizados com esse tipo de ferramenta e tiveram de aprender fazendo.

“Houve muitos casos de professores que entraram em uma sala virtual e se atrapalharam na hora de apresentar algo, devido ao pouco contato com a tecnologia. Os alunos, em tempo real, os ajudaram para que pudessem apresentar aquela aula”, diz Claudio Castro, CEO da Ensinar Tecnologia, empresa de tecnologia educacional. 

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