Escolas não recebem apoio nem ferramentas para lidar com bullying, diz especialista

Atirador de escola de Sapopemba, em SP, era alvo de ofensas e agressões; ataque deixou uma aluna morta

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São Paulo

Desde 2015 o Brasil conta com uma lei nacional de combate ao bullying, mas poucas ações foram implementadas para dar apoio, ferramentas e formação para as escolas enfrentarem esse tipo de violência. Essa é a avaliação da pesquisadora Cleo Garcia, que estuda ataques no ambiente escolar.

Nesta segunda (23), um aluno de 16 anos entrou armado na Escola Estadual de Sapopemba, na zona leste de São Paulo, e efetuou disparos contra estudantes. Uma aluna morreu. Outras duas estudantes, também baleadas, foram socorridas e levadas para o hospital.

Segundo relatos, o atirador era alvo constante de bullying. A Folha teve acesso a dois vídeos que mostram o adolescente sendo agredido física e verbalmente. Em um deles, as agressões acontecem dentro da sala de aula.

"Esse caso expõe a realidade que a maioria das escolas enfrentam, da falta de apoio e condições para lidar com o bullying. A gente tem uma legislação sobre o tema, mas poucas ações são de fato implementadas para ajudar a lidar com esse problema", afirma Cleo.

Ataque com arma de fogo deixou uma aluna morta e duas pessoas feridas na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

"O bullying tem uma dinâmica específica, ele se dá entre as crianças e os adolescentes, escondido dos adultos. Os alunos sabem que aquela violência é errada, mas não denunciam por medo ou cumplicidade. Então o combate depende de uma mudança no clima escolar, de gerar confiança para que as agressões sejam denunciadas", acrescenta a especialista.

Para ela, falta apoio do poder público em dar formação e capacitação aos educadores para melhorar o clima no ambiente escolar.

"Quando acontecem ataques assim, o poder público corre para anunciar medidas e mostrar que está preocupado, mas são medidas inócuas. Uma situação como essa poderia ser prevenida se os professores e a gestão escolar tivessem formação para identificar, lidar e combater o bullying", diz.

Em abril, após o ataque à escola estadual Thomazia Montoro, na zona sul de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou que contrataria vigilantes particulares e psicólogos para atuar de forma preventiva na rede estadual.

Na ocasião, especialistas em violência escolar alertaram que as medidas não eram eficientes para combater ataques em escola. Estudos indicam que a prevenção depende de uma série de medidas para promover um ambiente escolar mais pacífico e acolhedor, além da construção de uma rede intersetorial.

"A escola precisa de uma rede de proteção a quem recorrer. Não adianta ter um psicólogo atuando na escola se ele não puder encaminhar alunos com depressão ou outros transtornos para um atendimento médico especializado, por exemplo. O conselho tutelar e a rede de saúde precisam atuar em conjunto com as escolas."

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