Rio

Escolas municipais voltam às aulas com itens roubados e instalações destruídas

Lixo acumulado na entrada, bebedouros quebrados e atividades adiadas por conta de roubo são alguns dos problemas
Escola Municipal Clementino Fraga, em Bangu, tem lixo na entrada e buracos no muro Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo
Escola Municipal Clementino Fraga, em Bangu, tem lixo na entrada e buracos no muro Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo

RIO - O ano letivo começa nesta segunda-feira para as 1.539 unidades da rede de ensino municipal do Rio. No entanto, o primeiro dia de aula já chega com problemas para parte dos cerca de 650 mil estudantes - como lixo acumulado na porta, instalações destruídas e atividades adiadas por conta de roubo.

No Ciep Poeta Cruz e Sousa, em Bangu, Zona Oeste, as aulas foram suspensas por causa da violência. Funcionários da escola que não quiseram se identificar contam que, por volta das 6h, antes do colégio reabrir, criminosos entraram na unidade e roubaram materiais escolares, alimentos e aparelhos eletrônicos. Além disso, eles ainda quebraram torneiras e bebedouros.

Um dos prejudicados é o motorista de aplicativo Marcos Rogério Freire, de 49 anos, pai do pequeno Gabriel Freire, de 7, que estuda no Ciep. Nesta manhã, sem saber do episódio, ele levou o filho à escola e foi obrigado a voltar para casa. Uma funcionária da unidade deu o aviso: não tem aula nesta segunda-feira. Com isso, Marcos Rogério não tem com quem deixar o menino e não poderá trabalhar.

- O meu filho é especial e faz terapia, por isso o trouxe mais tarde. Que loucura, né? Agora é voltar para casa e perder um dia de trabalho - afirma o pai do aluno.

Em nota, a prefeitura afirma que o local sofreu atos de vandalismo. No entanto, informa que foi furtado apenas um utensílio de cozinha. Ainda em nota, diz que a unidade vai solicitar ao 14º BPM (Bangu) o reforço na realização de rondas no entorno da unidade. "A escola já está sendo limpa e terá seu espaço organizado para receber os alunos nesta terça-feira (hoje). A direção da unidade registrou boletim de ocorrência na 34ª DP (Bangu)".

Lixo dá 'boas-vindas' a alunos

No Ciep Poeta Cruz e Sousa, em Bangu, as aulas foram suspensas por causa da violência Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo
No Ciep Poeta Cruz e Sousa, em Bangu, as aulas foram suspensas por causa da violência Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo

Mas a violência não é o único problema enfrentado pela unidade pública de Educação. Na esquina das ruas Marechal Marciano com Professor Alfredo Costa, onde está localizada a escola, uma pilha de lixo chama a atenção. No interior, há paredes descascadas e persianas quebradas. A placa com a logomarca da prefeitura está completamente destruída.

Ainda em Bangu, a cerca de 300 metros do Ciep, os problemas se repetem na Escola Municipal Clementino Fraga. Outra montanha de lixo e entulho está, há semanas, ocupando grande parte da calçada. A dona de casa Aline Gualande, de 30 anos, diz que o caso é recorrente. Ela estava nesta segunda matriculando o filho Leonardo Maquinez, de 5, que vai para o primeiro ano escolar em 2019.

- Sempre foi assim. Esse monte de lixo acaba colocando a saúde das crianças em risco, porque há vários ratos e outros animais que podem ir para dentro da escola. Além disso, isso deixa o lugar muito feio, é uma pena que não cuidem.

Em nota, a secretaria informa que sempre que ocorre despejo irregular de lixo junto às referidas unidades escolares, a 8ª Coordenadoria Regional de Educação solicita à Comlurb a retirada imediata do lixo acumulado nas calçadas, que será feita nesta terça-feira.

Material escolar por conta dos pais

Sem condições de matricular o filho em um local melhor, Aline teve de colocar Leonardo na escola Clementino Fraga Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo
Sem condições de matricular o filho em um local melhor, Aline teve de colocar Leonardo na escola Clementino Fraga Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo

Mãe de mais duas meninas matriculadas na Escola municipal Professor Júlio de Mesquita, também em Bangu, Aline conta que a direção dessa unidade afirmou que não fará a distribuição dos kits escolares para os alunos que não têm condições de comprar os materiais necessários para a aprendizagem. Segundo a dona de casa, nada foi falado em relação a uniformes:

- Lá os professores já mandaram a gente comprar cadernos, lápis, folhas de papel e borrachas porque a escola não vai dar. Eu, graças a Deus, consigo comprar. Mas e quem não tem condições? Faz como? É o descaso com a Educação - questiona.

A secretaria informa, em nota, que os kits escolares do 7º ao 9º ano já foram adquiridos e serão entregues nos próximos dias. Apenas material para os estudantes do 1º ao 6º ano está em processo licitatório. "A SME, por meio de ações estratégicas, vai garantir que os alunos recebam itens básicos de material escolar", destaca a nota da secretaria.

Ainda na Escola Municipal Clementino Fraga, um muro atrás da quadra esportiva está destruído, deixando uma pilha de entulhos dentro da unidade. A própria fachada tem várias partes quebradas.  De acordo com informações da secretaria, a obra do muro da Escola Municipal Clementino Fraga já está licitada e a previsão de início das obras é de 30 dias.

- Eu só consegui matricular o meu filho aqui, por isso não pude colocá-lo em uma unidade mais bem conservada e melhor - completa Aline, que nesta segunda-feira levava a documentação de Leonardo.

Uma camisa por aluno

Lixo se acumula em frente à escola municipal Clementino Fraga Filho, em Bangu Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo
Lixo se acumula em frente à escola municipal Clementino Fraga Filho, em Bangu Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo

De acordo com a prefeitura, no início das aulas será distribuída uma camisa para cada aluno, sem informar se isso será feito nesta segunda-feira. Até o fim deste mês, a Secretaria de Educação do Rio entregará a segunda camisa para os estudantes. A volta às aulas conta com a operação especial da Guarda Municipal e a retomada do patrulhamento e também das ações socioeducativas realizadas pelo Grupamento de Ronda Escolar.

A RioSaúde, por meio do Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, alerta para os cuidados que devem ser tomados na volta às aulas para evitar acidentes no entorno das escolas. Segundo dados da ONG Criança Segura, os acidentes de trânsito, principalmente o atropelamento, são a maior causa de morte por acidente de crianças entre 5 e 14 anos, no Brasil. A superintendente-médica do hospital, a cirurgiã Flávia Menezes, destaca que 90% desses acidentes poderiam ser evitados com medidas simples de prevenção, como uso das cadeirinhas, por exemplo.

Vereador pede lista

O vereador Célio Lupparelli (DEM) encaminhou requerimento de informações à Secretaria Municipal de Educação para descobrir se todas as 1.539 unidades escolares iniciaram o ano letivo no último dia 11. "Em caso negativo, o vereador pediu a listagem das unidades que não estão em plena atividade com os respectivos motivos", informou a assessoria de Lupparelli.