Rio

Escolas municipais do Rio voltam às aulas com rachaduras, goteiras e portas quebradas

O GLOBO visitou unidades e ouviu relatos de falta de professores, imóveis com falhas estruturais, vazamentos e goteiras dentro das salas de aula
Escola municipal Sócrates Galvêas, em Santa Cruz Foto: Diego Amorim
Escola municipal Sócrates Galvêas, em Santa Cruz Foto: Diego Amorim

RIO — Na volta às aulas para os mais de 640 mil estudantes da rede municipal de Ensino do Rio, algumas escolas apresentam problemas já conhecidos de pais, alunos e professores. Nesta segunda-feira, após as férias de meio de ano, nossa equipe visitou unidades e ouviu relatos de falta de professores, imóveis com falhas estruturais, vazamentos e goteiras dentro das salas de aula, espaços sem climatização ou com aparelhos quebrados, ausência de quadra poliesportiva para aulas de educação física e recreação e até escola vítima de roubos.

Em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, as 18 turmas da Escola municipal Sócrates Galvêas estão estudando apenas três horas e vinte minutos por dia, já que a unidade foi dividida em três turnos. A medida foi tomada após o prédio principal, que já sofria com problemas estruturais, ser condenado pela Defesa Civil, em abril deste ano, por apresentar “risco potencial de desabamento”, “estouro de vidraça” e “mau estado de conservação”, conforme mostrado pelo GLOBO, em junho. No primeiro de aula, pais e alunos mostraram-se descrentes:

— Parte está interditada, parte está em condições bem precárias, com horários reduzidos. Nossos filhos estão sendo prejudicados com ambientes insalubres, salas improvisadas e tendo que passar na chuva para irem ao banheiro. E estamos falando de crianças de 4 a 10 anos de idade. Não vejo obras sendo feitas para mudar isso, infelizmente — conta Sandra Santos, de 38 anos, mãe de uma aluna do 4º ano.

Prédio principal tem rachaduras graves Foto: Diego Amorim
Prédio principal tem rachaduras graves Foto: Diego Amorim

Os responsáveis também reclamam sobre a solução encontrada pela secretaria, de cortar o tempo de aulas em aproximadamente 25%.

— Os turnos deveriam ter quatro horas e meia de aula, foi diminuído mais de uma hora de estudo. Planejamos o futuro promissor para as crianças, mas precisamos contar com um aprendizado correto, e não de forma incompleta — afirma o tio de uma aluna, sem se identificar.

E os problemas na rede não param por aí. Na Escola municipal Pestalozzi, também em Santa Cruz, o barulho dos ventiladores, em más condições e instalados para suprir a falta de aparelhos de ar condicionado, tem atrapalhado as aulas. Em Campo Grande, a Escola municipal Halfeld sofre com alagamentos, salas sem porta, goteiras e vazamentos. Já na Zona Norte, na Escola municipal Conjunto Praia da Bandeira, na Ilha do Governador, os problemas estão no telhado. Em outras, a falta de professores leva elementos da direção para as salas.

— Sem professor, diretores, coordenadores e responsáveis pelas salas de leitura acabam indo para dentro das salas, para não deixar os alunos sem aula. Eles não podem ser prejudicados. Isso acaba desfalcando o trabalho da direção, é uma questão grave na rede municipal — explica um docente, sem se identificar, completando: — Muitos equipamentos eletrônicos estão precisando de manutenção.

Nesta segunda-feira, a prefeitura do Rio publicou, no Diário Oficial do município, uma relação de cerca 60 unidades de ensinos infantil e fundamental que estão em obras ou sendo construídas na cidade. Em nota, a secretaria municipal informa que os materiais subtraídos do Espaço de Desenvolvimento Infantil República Árabe Unida serão repostos pela pasta e ressalta o registro de ocorrência feito na delegacia.

Sobre o caso da Escola Municipal Sócrates Galvêas, afirma que a unidade encontra-se inserida no Plano de Recuperação da SME e que os alunos estão recebendo material de reforço escolar e estudando no prédio anexo, que não teve fragilidades indicadas pela Defesa Civil. "O planejamento teve como objetivo resguardar o atendimento pedagógico e nutricional, visando a amenizar os impactos na rotina familiar caso os estudantes fossem remanejados para outras unidades escolares, de forma provisória, até a obra ter início."

Já a Escola Municipal Pestalozzi encontra-se no plano de climatização, segundo a pasta, que está em fase de elaboração do orçamento e terá mais cinco ventiladores instalados. A Escola Municipal Conjunto Praia da Bandeira está incluída no Plano de Recuperação física e será realizada licitação da obra. "Já estamos realizando a manutenção do telhado com o programa Conservando Escolas", diz a nota.

Em matéria do EXTRA de junho deste ano, a secretaria afirmou que R$ 12,5 milhões já estavam liberados para serem usados no primeiro semestre deste ano. Ainda de acordo com a pasta, o plano de ação de obras para a rede municipal de 2019 prevê R$ 63 milhões para atender 256 unidades, além de R$ 22 milhões para climatização. Também reserva R$ 9 milhões para retomar construções de obras paralisadas da gestão passada. Quanto a isso, afirma que o prazo para a utilização da verba foi estendido até o fim do exercício financeiro.

Violência em escola infantil de Bangu

O primeiro dia de aulas foi de revolta e preocupação no Espaço Desenvolvimento Infantil República Árabe Unida, em Bangu, na Zona Oeste. Em uma semana, a unidade foi assaltada quatro vezes. Segundo uma funcionária que não quis se identificar, neste fim de semana, criminosos entraram na escola durante a noite, levaram quatro aparelhos de ar condicionado, ventiladores, televisão e até materiais escolares. Todos os roubos foram registrados na 34ª DP (Bangu).

Segundo a funcionária, a secretaria municipal afirmou que irá repor os equipamentos roubados. O local atende cerca de 250 alunos de 3 a 5 anos de idade. Nesta segunda-feira, dois carros do 14º BPM (Bangu) reforçavam o policiamento na região. A pasta se pronunciou a respeito da situação no EDI com a seguinte nota: "- Os materiais subtraídos do Espaço de Desenvolvimento Infantil República Árabe Unida serão repostos pela SME. Após o ocorrido, foi realizado registro de ocorrência na delegacia de polícia. Ressaltamos que demandas relacionadas à questão de segurança pública devem ser reportadas aos setores responsáveis pelo policiamento oficial".

— Os professores cuidam com tanto carinho de tudo, e esses bandidos levam tudo — diz o pedreiro Luiz Maia, de 32 anos, primo de um aluno.

Segundo a prefeitura, em parceria com a Guarda Municipal, é realizado um patrulhamento preventivo no entorno e no interior das unidades de ensino "com foco no atendimento a chamados emergenciais das direções das escolas, como nos casos de alunos acidentados, pessoas suspeitas no entorno das unidades escolares e ainda em casos de atritos internos". Além disso, foi retomada a Operação Volta às Aulas da Guarda Municipal, que conta com um esquema especial de trânsito e ações socioeducativas realizadas junto a unidades da rede municipal.