Por G1 SP e TV Globo — São Paulo


Lousa de sala de aula em escola municipal na Zona Norte de São Paulo, nesta segunda-feira (15), primeiro dia de aulas presenciais na rede municipal de São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

As escolas municipais da cidade de São Paulo retomaram o ensino presencial nesta segunda-feira (15) em meio a críticas e denúncias de pais e professores sobre a falta de estrutura de algumas unidades. Em toda a capital, ao menos 530 das 4 mil escolas da rede não reabriram nesta segunda porque não têm funcionários de limpeza – uma empresa terceirizada contratada pela prefeitura abandonou o contrato às vésperas da retomada das aulas.

O G1 solicitou à prefeitura uma lista de todas as escolas e creches que tiveram as aulas adiadas por conta da falta de equipes de limpeza, e também informações de quando cada uma deve reabrir, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.

Para manter parcialmente o ensino a distância, a prefeitura de São Paulo prometeu entregar 465 mil tablets com chips de internet para os alunos até dezembro do ano passado. Seis meses após a promessa ter sido feita, a secretaria municipal de Educação esticou o prazo e agora promete entregar os aparelhos até maio.

Movimentação de estudantes na retomada das aulas presenciais na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) São Paulo, na Vila Clementino, zona sul da capital paulista, na manhã desta segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021, em meio à pandemia de coronavírus (covid-19). — Foto: BRUNO ROCHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Em nota, a administração municipal disse que “os tablets serão distribuídos em 7 lotes” e que, “no primeiro lote foram entregues 10 mil”. Os outros 455 mil aparelhos, segundo a secretaria da Educação, estão “com as entregas previstas até maio”.

Em entrevista à TV Globo, o secretário municipal da Educação, Fernando Pádula, disse que os 10 mil aparelhos já entregues agora precisam receber chips de internet para funcionar.

"Foram dois contratos, feitos no ano passado, ao final do ano, com duas empresas - uma empresa fornecedora do tablet, uma empresa fornecedora do chip. Agora, precisa colocar o chip no tablet", disse.

Padula disse ainda que os alunos que tiveram menos acesso aos sistemas de aulas online serão os primeiros a receber os tablets. De acordo com balanço da própria prefeitura, 10% dos estudantes não fizeram nenhum acesso as plataformas virtuais de ensino, e outros 20% acessaram pouco.

"Nós verificamos aquelas escolas onde os alunos tiveram menos contato com as plataformas digitais, ou nenhum contato, e esses alunos serão priorizados pra receber primeiro. Até o final de abril, todos os tablets com chips estarão disponibilizados", completou Pádula.

Volta às aulas na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) São Paulo, na Vila Clementino, na zona sul da cidade, que recebeu cerca de 52 alunos. — Foto: DEIVIDI CORREA/ESTADÃO CONTEÚDO

Escolas fechadas

Entre as 530 escolas que não reabriram porque não têm equipes de limpeza está a escola municipal Professora Nilce Cruz Figueiredo, na Zona Norte da capital.

Apesar de o local estar fechado, vários jovens utilizaram a quadra de esportes da unidade nesta segunda (15). Eles pularam o portão, onde um cartaz diz que, em virtude da ausência dos funcionários da limpeza, a escola permanece em teletrabalho.

De um em um, por cima ou por baixo da grade, mais de dez crianças e adolescentes entraram sozinhos na quadra da escola vazia e fechada pra jogar bola.

Creches e escolas de ensino fundamental reabriram nesta segunda-feira (15)

Creches e escolas de ensino fundamental reabriram nesta segunda-feira (15)

As dona de casa Solange Isabel Monteiro é avó de duas estudantes da unidade e disse que suas netas não puderam acompanhar as aulas online por falta de equipamentos.

"Online não tem nem como estudar porque não tem celular facilmente, não tem um computador, dizia o governo que ia ceder o tablet pra estudar, e até agora também nada, então tem que voltar a aula presencial", disse Monteiro.

Entusiasmo dos estudantes

Funcionária limpa mesas para demonstrar medidas de limpeza para a volta às aulas na rede municipal de ensino de São Paulo, em evento da prefeitura na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) São Paulo, na Vila Clementino, em foto do dia 14 de janeiro. — Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO

Nas escolas que já reabriram, o clima nesta segunda foi de entusiasmo entre os estudantes , que estavam sem aulas presenciais desde 23 de março de 2020. A rede municipal de São Paulo é a maior do Brasil, com cerca de 1 milhão de alunos.

As escolas foram autorizadas a receber, nesta segunda, até 35% dos alunos matriculados, apesar de o Plano São Paulo permitir a presença de até 70% dos estudantes na fase em que se encontra a capital.

Na EMEI Angelo Martino, na Bela Vista, região central da capital, as regras da volta às aulas foram afixadas no portão. Os pais dos alunos tiveram uma reunião antes das aulas e ficaram mais tranquilos com as orientações.

Parquinho interditado na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) São Paulo, na Vila Clementino, na zona sul da cidade, na volta às aulas presenciais. — Foto: DEIVIDI CORREA/ESTADÃO CONTEÚDO

"Os protocolos de segurança, uso de máscara, distanciamento, pra começar são só 12 crianças [na sala]. A gente vai tentar ver como vai ser", disse Cristiane Carvalho Machado, desempregada e mãe de um estudante da escola.

O filho da empregada doméstica Laerte Pinto da Silva acordou antes do despertador, tamanha era a animação para voltar às aulas. "Ele estava tão ansioso que acordou 5 horas da manhã falando 'Mamãe, eu quero me arrumar, quero ir pra escola'", disse.

Pais reclamam de falta de estrutura

Integrantes de conselhos escolares ouvidos pelo G1 reclamaram que as unidades não têm condições de ventilação adequadas ou equipes de limpeza suficientes para cumprir as medidas definidas pela Prefeitura de São Paulo para a reabertura.

Em nota, a prefeitura disse que "caso alguma escola apresente problemas para a volta às aulas, ela não será aberta no próximo dia 15 até que o caso seja solucionado". A administração municipal afirmou ainda que "nenhuma escola terá mais de 35% dos estudantes" e que "será obrigatório o uso de máscaras por professores e estudantes".

Fachada da EMEF Jean Marmoz, na Saúde, Zona Sul de São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

A maioria das escolas municipais realizou reuniões de professores e também com o conselho escolar nesta última semana. O objetivo desses encontros era organizar a volta às aulas, mas as reuniões deixaram muitos professore e familiares de alunos preocupados.

Mãe de dois alunos da rede municipal, Maia Gonçalves Fortes disse que, durante a reunião, até mesmo funcionários da escola reconheceram as dificuldades para garantir a segurança na volta às aulas.

“A direção da escola não tem autonomia pra tomar decisões, como fazer uma obra que poderia criar uma janela em uma sala onde é feita a troca de fralda de crianças menores, ou aumentar os funcionários de limpeza. A gente se organizou muito, eu participei de comissões, de lives, de reuniões com a diretoria regional de ensino, mas a gente não está tendo retorno”, disse Fortes.

VÍDEOS: Volta às aulas em SP durante a pandemia

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