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Escolas invisíveis e suas implicações para políticas de promoção de equidade

Novo instrumento de pesquisa pode complementar o Censo Escolar, dando mais subsídios para informar políticas educacionais equitativas

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Guilherme Lichand

Professor de educação da Universidade Stanford (EUA)

O Brasil tem informações incrivelmente detalhadas sobre as suas escolas. Através do Censo Escolar, temos dados anuais sobre a infraestrutura de cada escola, sobre a formação de cada professor, e sobre as características de cada aluno dos ensinos Fundamental e Médio.

É difícil encontrar dados tão granulares e padronizados em qualquer outro país de renda média – e mesmo em países mais ricos, como os Estados Unidos.

Alunos assistem a aula em escola da rede pública, em Fortaleza (CE). (Foto de Jarbas Oliveira/Folhapress) - Jarbas Oliveira/Folhapress

Dito isto, em muitos casos, esses dados não capturam o que de fato seria mais importante para informar políticas educacionais, sobretudo no que diz respeito à promoção de equidade. Isso acontece por três principais razões.

A primeira se dá por limitações de extensão do questionário. As perguntas do censo são, muitas vezes, superficiais. Sabemos, por exemplo, se cada escola tem laboratório de informática, mas não se os computadores estão funcionando e em uso.

Também não se sabe qual a velocidade da conexão que chega até os terminais utilizados pelos alunos, ou para que fins estão sendo utilizados. Sem essas informações, faltam insumos adequados para endereçar essas desigualdades.

A segunda razão diz respeito à sua metodologia. É o diretor da escola quem preenche as características de cada aluno no sistema, o que leva a uma série de imprecisões.

A informação de raça a respeito de um aluno pode mudar ao longo do tempo. Esse dado pode alternar, por exemplo, entre preto, pardo ou branco, conforme o entendimento de diferentes diretores que efetuam o preenchimento no sistema.

Sem dados precisos sobre raça, fica muito limitada a capacidade de identificar necessidades de intervenção para reduzir desigualdades, ou mesmo de acompanhar os resultados dessas políticas ao longo do tempo.

E a terceira razão está relacionada à periodicidade do levantamento, que é anual. Os dados do censo escolar não conseguem, muitas vezes, informar temas urgentes do debate educacional.

Em episódios de violência nas escolas, por exemplo, é desejável ter um pulso imediato sobre a sensação de segurança de alunos e educadores nas escolas.

Mais uma vez a ausência desses dados limita a velocidade de respostas do governo para reduzir disparidades entre regiões, escolas e alunos de diferentes características.

Para superar essas limitações, lançamos neste mês o Equidade.info, um projeto que vai acompanhar uma amostra de escolas representativas do Ensino Básico de todo o país. O levantamento vai entrevistar alunos, professores e gestores escolares todos os meses.

Na primeira onda da pesquisa, que ocorre entre junho e julho, estamos perguntando, por exemplo, sobre uso e qualidade da infraestrutura da escola, inclusive sobre salas de informática.

Também comparamos a informação de raça ou cor informada pelo diretor com aquela reportada pelos próprios alunos.

Estamos abordando ainda tópicos como sensação de segurança nas escolas e o acesso a discursos de ódio nas plataformas online.

Os dados são coletados por alunos de graduação de universidades públicas de cada estado, supervisionados por professores de seu campus. Além de receberem capacitação para coleta e análise de dados, os universitários recebem aulas de Inglês, o que os prepara para aplicação a mestrados de ponta, no Brasil ou no exterior (inclusive em Stanford).

Os diretores de cada escola, por sua vez, participarão de formações oferecidas pelo Centro Lemann de Sobral, voltadas à utilização desses dados para promoção da equidade no contexto da própria escola.

Os resultados devem passar a ser divulgados mensalmente a partir de agosto deste ano.

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