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Por Antônio Gois


O que faz uma boa escola? Esta é uma pergunta que jamais terá resposta única ou consensual. Mas podemos e devemos sempre buscar ampliar nosso entendimento sobre o tema, trazendo novas evidências ao debate. Foi esta a contribuição de um estudo divulgado na semana passada pelo Consórcio em Pesquisas Escolares da Universidade de Chicago. Ao acompanhar por seis anos a trajetória de 82 mil jovens que haviam estudado em escolas públicas de Chicago de 2011 a 2014, o estudo mostrou que ex-alunos de colégios com uma visão mais ampla de seus objetivos se beneficiaram mais em sua trajetória social e acadêmica do que aqueles que estudaram em estabelecimentos com foco maior na preparação para testes.

Para chegar a esta conclusão, primeiro foi criada uma medida de valor agregado (comparando o desempenho no início e no fim do ano letivo) em múltiplas dimensões para cada escola. Além dos testes, foram avaliadas questões como o desenvolvimento socioemocional e a qualidade do clima escolar (medido por questionários respondidos pelos próprios estudantes e professores). De posse desses dados, foi possível monitorar a trajetória dos estudantes e relacioná-los com as características da escola.

Os alunos foram acompanhados em dimensões como o desempenho acadêmico, suspensões por indisciplina, envolvimento em atos infracionais dentro ou fora da escola, conclusão do ensino médio e ingresso e permanência nos primeiros anos do ensino superior. Entre os principais achados do estudo está o de que os efeitos da escola no desenvolvimento socioemocional foi o fator de maior impacto positivo nos resultados de longo prazo, especialmente a conclusão do ensino médio e ingresso no superior.

Outra constatação relevante foi que alunos de escolas que conseguiram trabalhar com essa dimensão mais ampla de seus objetivos registraram o dobro de impacto positivo nessas dimensões de longo prazo em comparação com aqueles que estavam em estabelecimentos com foco mais estreito em resultados de testes. Entre as características observadas nas escolas de maior impacto estavam um clima escolar positivo, com maior colaboração entre professores, ambientes de maior suporte aos alunos e altas expectativas de aprendizagem para todos.

"Nossas descobertas sugerem fortemente a necessidade de se ter uma visão mais holística de adolescentes e escolas e avançam nossa compreensão de como apoiar o sucesso do aluno e prepará-lo para o futuro. Também tornam explícita a desconexão entre as métricas atuais para avaliar a qualidade e o que as escolas de alto desempenho estão realmente fazendo para promover o desenvolvimento dos alunos”, afirma no estudo um de seus autores, o economista Kirabo Jackson, que é autor de outras pesquisas com achados semelhantes também em países em desenvolvimento.

Para muitos leitores, a conclusão pode parecer óbvia. Mas ela é relevante na discussão sobre como avaliamos a qualidade da educação. Na ausência de instrumentos de mensuração mais amplos, nos acostumamos a olhar apenas para o resultado de alunos em testes. Eles têm sua importância em mostrar alguma medida objetiva – mesmo que imperfeita – do resultado dos alunos nesta dimensão, mas deixam de fora outros aspectos relevantes para o sucesso do estudante, que não devem ser desprezados.

https://consortium.uchicago.edu/sites/default/files/2023-04/Investing%20in%20Adolescents-Apr%202023-Consortium.pdf

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