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Escolas de SP começam a corrigir redação com inteligência artificial

Plataforma Redação SP, que foi lançada em agosto e apontava apenas erros gramaticais e ortográficos, agora faz toda a correção com IA e atribui até nota ao texto

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São Paulo

As redações produzidas por alunos das escolas estaduais de São Paulo começaram a ser corrigidas por inteligência artificial (IA). A plataforma Redação SP, que havia sido lançada em agosto e apontava apenas erros gramaticais e ortográficos, tem agora uma ferramenta que faz a correção total, incluindo critérios como coerência, argumentação, adesão ao tema, entre outros. A IA também dá uma nota ao texto.

A correção é feita de forma instantânea, mas não é encaminhada diretamente ao aluno, e sim ao professor. O docente pode validá-la por completo ou alterar a avaliação feita pela plataforma em um dos critérios ou mais, aumentando ou diminuindo a nota. Ele também pode editar o "feedback" automático gerado pela inteligência artificial, bem como inserir comentários ao longo do texto.

A expectativa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, responsável pelo desenvolvimento da plataforma, é que a IA reduza a "fila" de correção. Desde o lançamento da Redação SP, foram produzidos 3,5 milhões de textos por estudantes do 6º ano do fundamental ao 3º do médio –como são cerca de 2,4 milhões de alunos nessas séries, a média foi de quase 1,5 redação por estudante no semestre letivo.

Alunos do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Milton da Silva Rodrigues, na zona norte de SP, utilizando a plataforma Redação SP para atividade - Divulgação/Sergio Barzaghi/EducaçãoSP

A secretaria observou que o número de redações não corrigidas era alto –chegou, em novembro, a 800 mil. Quando esse acúmulo foi registrado, a Redação SP ainda não corrigia integralmente os textos, apenas apontava os erros gramaticais e ortográficos.

O estudante, com auxílio de sugestões feitas pela plataforma, corrigia esses erros e encaminhava o texto para o professor. Ao receber a redação, o docente tinha que atribuir, manualmente, uma pontuação para cada um dos critérios da correção (coerência, fluência etc.), o que gerava a nota final.

O trabalho de correção acaba sendo volumoso, considerando que cada sala de aula tem entre 30 e 40 alunos e que os professores costumam trabalhar com mais de uma turma. Na prática, muitos textos não eram corrigidos, o que desestimulava os alunos.

Neste primeiro semestre letivo de operação da Redação SP, segundo a Secretaria da Educação, o tempo médio de correção foi de duas semanas. Com a nova ferramenta, que faz a correção por completo, a meta é tornar mais rápida essa devolutiva, o que pode colaborar para ampliar a produção dos estudantes –a pasta tem como ideal que cada estudante escreva uma redação por mês, pelo menos.

Educadores consultados pela Folha consideram a plataforma de inteligência artificial interessante para auxiliar os docentes e criar um fluxo maior de produção e correção de textos –o processo mais ágil tende a estimular o aluno a escrever mais.

É preciso, no entanto, ter cuidado para que a IA não distancie o professor das dificuldades dos estudantes. Como tudo já vem corrigido, o docente pode perder a noção dos erros que os alunos estão cometendo e, assim, deixar de orientá-los.

A Secretaria de Educação afirmou que, justamente por isso, o professor precisa validar a correção feita pela IA. Mas admite que, de fato, o docente não recebe informações dos erros ortográficos e gramaticais que o aluno cometeu e que corrigiu com auxílio da plataforma antes de entregar o texto. Sobre esse ponto, os técnicos responsáveis pela criação da plataforma afirmaram à Folha que podem pensar em desenvolver uma ferramenta que registre esses erros e passe as informações aos professores.

A secretaria também ressalta que terá os dados de quanto cada professor está interferindo na correção feita pela IA. Será possível saber se ele apenas validou a correção automática ou se a alterou, e em que pontos a avaliação foi modificada.

As aulas de redação, de acordo com a Secretaria de Educação, acontecem em salas em que há um computador para cada estudante, e o ideal é que a produção de textos ocorra na escola. Em casa, o aluno é estimulado a escrever o rascunho à mão (o que também é um treino para o Enem e outros vestibulares que não utilizam computador).

A plataforma tem propostas de redação de diferentes gêneros textuais (dissertação, carta etc.) e contempla os modelos de textos exigidos pelo Enem e pela Fuvest (há diferenças no formato e nos critérios de correção). Os temas são elaborados pela Secretaria de Educação, mas os professores também podem inserir propostas autorais.

A partir do próximo ano, a secretaria espera ter uma visão mais aprofundada de como está a produção e a correção de redação em cada escola e pretende encaminhar especialistas para auxiliar os docentes sobre o uso da Redação SP. Esses assistentes são também professores de português, nomeados "embaixadores da redação".

O secretário de educação, Renato Feder, afirmou à Folha que considera que este primeiro semestre de operação da plataforma já teve um número "impressionante" de produção de textos e que a quantidade "deve ser muito maior em 2024".

"Em 2022, apenas 23% dos estudantes do Estado de São Paulo aprenderam língua portuguesa de verdade", ele diz, citando o percentual de alunos do 9º ano do fundamental e do 3º do médio com aprendizagem adequada de acordo com o Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo).

"Quando nos deparamos com números como esses, vimos que algo estava errado. Não era possível saber se o aluno escrevia uma redação, se ela era corrigida, se o professor apontava para o estudante os erros e os acertos do texto", afirma.

Com a IA, segundo Feder, será possível "acompanhar de perto o processo". "Um braço virtual ajuda na correção e considera pontos cruciais da escrita. E o mais importante: é sempre o professor quem dá a opinião final. Sem ele, o aluno não aprende nada."

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