Brasil Sustentabilidade

Como escolas estão se unindo para debater mudanças climáticas em sala de aula

Movimento "Escolas pelo clima" já conta com 94 instituições de ensino, que se comprometem a tratar de sustentabilidade com alunos e professores
Atividade na escola Aubrick, de São Paulo: conhecimento e preservação de plantas fazem parte do dia a dia Foto: Divulgação
Atividade na escola Aubrick, de São Paulo: conhecimento e preservação de plantas fazem parte do dia a dia Foto: Divulgação

RIO - É possível criar um currículo climático para as escolas?  Como tratar de mudanças climáticas em sala de aula? Os professores estão preparados para falar desse assunto com seus alunos? Criado há dois meses, o movimento "Escolas pelo Clima" reúne uma comunidade de escolas comprometidas com o tema. A iniciativa já conta com 94 instituições de ensino e cresce a cada dia.

Para participar do movimento, que é gratuito, cada escola signatária precisa se comprometer a incluir, até o fim de 2021, a temática das mudanças climáticas em pelo menos uma atividade pedagógica com os alunos e em uma formação de professores. Ao mesmo tempo, os colégios participantes recebem mensalmente conteúdos selecionados sobre esse assunto. A curadoria é da Reconectta, um negócio social que desenvolve projetos de educação para sustentabilidade em escolas e instituições.

— Atuamos em parceria há cinco anos com diversos colégios em São Paulo,  para que trabalhem a sustentabilidade como um valor. Começamos a debater sobre como tornar essa discussão mais ampla e acessível. Desenhamos então um projeto para incluir todas as instituições interessadas, respeitando os diferentes contextos de cada escola — explica Douglas Giglioti, empreendedor social, diretor e cofundador da Reconectta.

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Giglioti acredita que foi exatamente o modelo criado para o movimento — realizado em parceria com a The Climate Reality Project, organização fundada pelo ex-vice-presidente dos EUA Al Gore —, que fez com que ele crescesse rapidamente. A meta era que pelo menos 60 escolas aderissem ao projeto até o fim do ano, número que já foi ultrapassado. Com as escolas signatárias hoje, são mais de 74 mil alunos impactados e mais de 11 mil educadores envolvidos. Quase metade das instituições que aderiram são públicas:

— O objetivo é que os estudantes tenham as competências necessárias para um enfrentamento das mudanças climáticas. Mas esse é um tema tão complexo que muitas vezes as pessoas se sentem paralisadas. Há escolas que não sabem por onde começar a tratar do assunto, por exemplo. O "Escolas pelo Clima" é um jeito de mostrar um caminho.

Dos eventos ao currículo climático

A Aubrick, escola bilíngue de São Paulo que faz parte do "Escolas pelo Clima", fez este ano um projeto sobre cadeia de consumo e tem promovido atividades para alunos de diversas faixas etárias. Entre elas estão receitas com aproveitamento total dos alimentos, reflexões sobre o uso do plástico e observação de elementos da natureza.

— Nosso objetivo é sensibilizar a equipe, os colaboradores e os alunos para as questões relacionadas à sustentabilidade. Consumo consciente, redução de resíduos e conexão com o meio ambiente estão entre as nossas metas. Estamos sempre nos questionando: de que forma mobilizamos os alunos para lidarem com o mundo que está posto para eles e para que ele entendam que suas atitudes podem mudar esse cenário? — explica Fatima Lopes, diretora da Aubrick.

Outra escola que faz parte do novo movimento, a be.Living também já vem promovendo atividades com foco em sustentabilidade:

— É muito importante criarmos uma comunidade de escolas como esta. Nada melhor do que a troca, para sabermos o que está dando certo em outros colégios e estabelecermos conexões e laços — afirma Patricia Pavan, diretora pedagógica da be.Living.

Uma das atividades sobre sustentabilidade propostas pela be.Living Foto: Divulgação
Uma das atividades sobre sustentabilidade propostas pela be.Living Foto: Divulgação

Para Edson Grandisoli, pós-doutor pelo Instituto de Estudos Avançados da USP e diretor educacional da Reconectta, o movimento pode gerar uma infinidade de atividades propostas por professores e escolas:

— Há a possibilidade de trabalhos eventuais, como a promoção do Dia do Clima ou o Dia da Água, mas o que a gente deseja é que esses eventos sejam gradualmente substituídos por uma prática e uma discussão mais permanentes. Isso pode acontecer pela criação de sequências didáticas interdisciplinares, com professores de diferentes disciplinas propondo atividades, até chegarmos a um currículo climático institucionalizado.

Materiais acessíveis

Todas as escolas signatárias recebem uma newsletter mensal com um conteúdo organizado. Entre os materiais indicados está, por exemplo, o livro "Temas atuais em mudanças climáticas: para os ensinos fundamental e médio" , disponível para download gratuito na internet.

— Os projetos desenvolvidos pelas escolas podem ter uma pegada mais de sustentabilidade ambiental, mas há aquelas que conseguem já tratar de sustentabilidade de uma maneira mais global. São as que incluem discussões sobre uma cultura antirracista ou sobre questões de gênero, por exemplo. Tudo isso faz parte de um tema que chamamos de justiça ambiental ou justiça climática — explica Grandisoli, acrescentando que o objetivo é, no próximo ano, promover um congresso virtual com todas as instituições participantes.