Rio Bairros

Escolas abrem mão de provas e usam conceitos para avaliar

Instituições se baseiam no ensino holístico, valendo-se de projetos que integram diferentes disciplinas
Prática. À esquerda, Bento, outros alunos e educadoras da Escola Mosaico Foto: Marcio Alves / Márcio Alves
Prática. À esquerda, Bento, outros alunos e educadoras da Escola Mosaico Foto: Marcio Alves / Márcio Alves

NITERÓI — Esqueça as provas, as carteiras enfileiradas e o conteúdo separado por matérias. Com o plano pedagógico baseado na educação holística, que estimula o desenvolvimento global do aluno, escolas usam todo o seu espaço físico como sala de aula e lançam mão de projetos que integram diferentes disciplinas. A metodologia é testada constantemente, numa parceria entre a equipe multidisciplinar, os alunos e os pais.

Na Escola Cultural Mosaico, em Piratininga, logo numa das paredes da entrada há o desenho de um baobá, árvore africana. A arte feita pelos alunos faz parte do projeto que eles estão desenvolvendo atualmente, baseado no livro “Obax”, de André Neves. O conteúdo, que terá duração de seis meses, é trabalhado em núcleos de aprendizagens de forma dinâmica, como no de Ciências da Natureza, em que os alunos construíram um texto baseado num documentário sobre os baobás.

A diretora pedagógica da Mosaico, Elga Baldez, explica que apesar de não haver provas classificatórias, a avaliação acontece a todo momento, desde a entrada da criança na escola até a sua saída.

— A avaliação está sistematizada em todas as relações que se estabelecem no contexto educativo da escola, principalmente por meio da autoavaliação. Na Mosaico, avaliar pressupõe escolhas pedagógicas, reorganizações das práticas, atividades diversificadas e saber atuar no que Lev Vygotsky define como “zona do desenvolvimento proximal”, ressaltando a necessidade de uma observação simultânea sobre o que a criança “já é ou conhece” e sobretudo o que pode “ser e conhecer”. Nossa equipe de professores trabalha de forma integrada, sempre respeitando diferentes jeitos de ser e de aprender — ressalta.

A escola trabalha com conceitos que vão do Muito Bom (MB), passando pelo Regular (R) e o Precisa Melhorar Muito (PMM).

Aluno do 3º ano, Bento de Avellar, de 10 anos, estuda há dois na Mosaico, e conta que no colégio que frequentava tinha medo de fazer prova:

— Era assustador. Agora, sei que estou sendo avaliado, mas não acho ruim. E mesmo quando erro e recebo um Precisa Melhorar fico tranquilo porque aprendi que o erro pode ser bom, pois me ajuda a acertar.

Na Aldeia Curumim, em Pendotiba, provas só são aplicadas a partir do segundo semestre do 5º ano; ainda assim, têm 50% de peso. A outra metade engloba a participação dos alunos em atividades. Antes disso, porém, os estudantes são avaliados com conceitos que variam de A a E e também por seu envolvimento em projetos.

A diretora pedagógica da Mônica Picanço ressalta que há quem defenda as provas porque, mais à frente, os alunos serão submetidos ao Enem. Ela acredita, porém, que, pelo menos na primeira infância, crianças não devem ser submetidas a avaliações classificatórias:

— Não há a menor necessidade de provas, as crianças devem ser avaliadas integralmente e a todo momento. Quando maiores, os alunos já estão preparados para realizar provas; no entanto, esses testes não devem ter o peso que normalmente dão a eles. Quando um aluno não está bem para fazer a prova, ele não faz. Não pautamos a avaliação em apenas uma prova, seria injusto e pouco produtivo esperar pelo resultado de uma avaliação específica.

Nos cursos de conversação da Aliança Francesa, que reúne alunos de todas as idades, não há provas nem reprovação. De acordo com a professora Vera Bahiense, não há passagem de um nível para outro. Ela explica que os alunos continuam na turma, e o grau de dificuldade vai aumentando.

— Não há avaliações formais, mas os alunos são constantemente corrigidos. Liberdade de expressão, sem subestimar o enriquecimento da fluência, leva os alunos a criarem um ambiente vívido, estimulante e, sobretudo, prazeroso — diz.

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