Rio

Escola Parque planeja mudar de endereço por causa da violência

Colégio procura espaços que fiquem mais distantes da Favela da Rocinha
Escola Parque busca outro local (Arquivo - 09/09/2003) Foto: Berg Silva
Escola Parque busca outro local (Arquivo - 09/09/2003) Foto: Berg Silva

RIO - Pais e alunos da Escola Parque, na Gávea, estão divididos em relação à transferência da unidade do colégio da Gávea para outro endereço. Por causa da violência na Rocinha, a mudança da sede que fica na Rua Marquês de São Vicente, em frente ao Instituto Moreira Salles, deve acontecer no meio deste ano ou no início de 2019, como antecipou o blog da coluna Gente Boa. Os alunos do ensino fundamental vão para um prédio na mesma rua, mas num trecho mais seguro. O novo espaço para as turmas do ensino médio ainda não foi escolhido. As opções são o Centro Cultural Casa Rosa, também na Gávea, ou em outro prédio no barrio ou no Jardim Botânico. Há cinco meses, a Rocinha é palco de uma guerra do tráfico, em que 41 pessoas já foram mortas.

ROTA DE FUGA ATÉ ABRIGOS

Em setembro do ano passado, as aulas foram suspensas por três dias por conta dos confrontos na favela. A situação levou a direção a contratar a consultoria de uma empresa especializada em segurança, que sugeriu a criação de uma rota de fuga até abrigos de segurança, conforme relatam os próprios alunos. A direção afirma que não há uma área de risco no colégio e que tudo é planejado apenas por precaução.

Para Cristine Heiss, mãe de Thomás, aluno do 6º ano do colégio, a notícia é um alívio. Ela soube da proposta numa reunião de pais convocada pela escola e confessa que, apesar de adorar o lugar onde o filho estuda, vai se sentir menos preocupada quando a mudança acontecer.

— É mas seguro. Já vim buscar o meu filho e um tiroteio começou nas redondezas. O trânsito precisou ser interrompido, e muita gente foi embora correndo. É um lugar incrível, e acho uma pena mudar, mas vou me sentir melhor — disse a mãe.

A aluna Júlia Magalhães, de 14 anos, está no 9º ano e aprendeu a conviver com o som dos tiros. A única vez em que ela realmente se assustou, diz, foi quando as Forças Armadas subiram a rua para cercar a favela:

— Ver um tanque de guerra me deixou muito assustada. O Bope e os soldados da UPP estão por aqui o tempo todo. Ainda assim, acho que estamos seguros e que os problemas acontecem mais no alto da rua, depois do colégio.

Colega de classe de Júlia, a aluna Olívia Coelho, de 14 anos, não está tão feliz com a possibilidade de ter aulas em outro local. Ela começa o ensino médio no ano que vem. Há oito anos no colégio, ela diz que vai sentir saudade da sede:

— Como a escola sempre nos avisa quando algo está acontecendo, nunca corremos risco, já que nem chegamos a vir para a escola. Há uma preocupação grande da escola com a nossa segurança, e os meus pais sabem que eu e meus irmãos estamos seguros. Mas, se mudarmos, acho que a direção não escolheria um lugar que não fosse igual a este.

CONTATO COM A NATUREZA

O pai de Olívia, Luiz Antonio Soares dos Santos Coelho, acha que será difícil encontrar um espaço com tanta área verde fora de uma área de risco.

— Vai ser um grande desafio conseguir um outro lugar que tenha as mesmas condições, e imagino que se possa acabar perdendo a convivência com a natureza — disse Coelho.

A Escola Parque afirma que vai informar aos pais assim que a direção encontrar o novo endereço. Segundo a instituição, o espaço físico é parte importante das atividades educacionais.

* Estagiário sob supervisão de Leila Youssef