Por RJTV 1ª edição


A morte da estudante Maria Eduarda Alves Ferreira, de 13 anos, fez com que a Escola Municipal Jornalista Daniel Piza, em Acari, na Zona Norte do Rio, fosse reaberta nesta segunda-feira (10) apenas para atendimentos psicológicos para professores e alunos, como mostrou o RJTV.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer (Smeel), durante a semana, alunos e professores farão atividades artísticas, esportivas, rodas de conversa e de poesia, com apoio da equipe do Programa Interdisciplinar de Apoio às Escolas (Proinape).

Menina Maria Eduarda (Gnews) — Foto: Reprodução GloboNews

Ocorrerá também uma reunião na sede da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) para avaliação e implementação das reivindicações da direção e dos professores da escola para atenuar a violência no seu entorno.

A unidade teve que fechar mais de 20 vezes em 2016 devido a tiroteios, como mostrou o Fantástico deste domingo (9). O muro da unidade educacional, como crianças de apenas 5 anos já sabem, possui uma função importante. "Para não levar tiro", explica uma aluna da Escola Municipal. No dia 30 de março, no entanto, ele não foi suficiente.

As marcas de tiros estão presentes. Na frente dos mesmos muros, dois homens foram executados por policiais do 41º BPM (Irajá). Segundo o inquérito da Divisão de Homicídios, um deles estava armado. Dentro da escola, Maria Eduarda foi atingida por três tiros, dois deles na cabeça, e morreu. O inquérito verificou que um dos tiros que atingiu a jovem partiu da arma de um dos PMs, segundo a Globonews.

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, afirmou que gostaria de colocar uma argamassa especial no muro de várias escolas, a fim de blindar as unidades contra tiros em áreas de áltos índices de tiroteio. Durante a homenagem ecumênica a Maria Eduarda na escola onde estudou e encontrou um fim trágico, no entanto, parentes não aderiram à ideia. "Não adianta botar argamassa nas escolas quando o confronto vai continuar", disse Uidson Alves Ferreira, irmão da vítima. Uma reconstituição do caso está marcada para quarta-feira (12).

Na quadra, a mãe aperta a camisa com a foto da filha. O time de basquete em que Maria Eduarda jogava se reuniu e gritou: "Viva Maria Eduarda". O último jogo havia sido interrompida pelos tiros que atingiram a companheira de equipe. "Quando eu fui pegar ela no colo, um tiro passou perto da minha cara e pegou no portão perto de mim. Aí o que eu tive que fazer? Soltar ela, deixar ela no chão, e deitar do lado dela pros tiros não pegarem em mim. Nisso ela já estava morta", relata um estudante que tentou socorrer Maria Eduarda.

Em 13 dos últimos 15 dias letivos de março, houve 125 fechamentos de escolas e creches por causa de tiroteios. O número de alunos afetados chegou a 36 mil. Na quarta-feira (5), criminosos chegaram a invadir um colégio na Zona Norte para cortar caminho e fugir da Polícia Militar. Na mesma semana, alunos de um colégio na Penha adaptaram o famoso poema Canção do Exílio. Eles repetem um trecho da famosa obra, 'Não permita Deus que eu morra', acrescentando a frase "antes de sair deste lugar".

Desenho para comunicar

Os alunos de cinco anos da professora Jussara Mendonça, no Rio, expressam o medo da violência através dos desenhos.

"Ela levou tiro. Então tem que tomar cuidado", diz uma dela. Um dos desenhos mostra Maria Eduarda dentro de um caixão.

"Muitas vezes a gente fica mais tempo deitado do que em pé. Você tenta ter 20 braços, procura as crianças, acha um, não acha outro. Eu estou há 32 anos dentro de uma sala de aula, e nunca achei que seria tão difícil. Eu creio que ainda tem jeito, ainda tem conserto", diz Jussara.

"A gente procura enxergar uma outra realidade para eles. Eu quero ver um espaço que eles se sintam bem, não quero que a escola registre e permaneça assim " ,afirma Luiz Menezes, diretor da escola de Maria Eduarda.

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