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Isabel Quintella, Lana Romani e Vera Vidigal

Escola é muito mais do que atividade econômica

Estados e municípios vão na contramão do mundo, criando inúmeros entraves para reabrir escolas

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Isabel Quintella, Lana Romani e Vera Vidigal

Fundadoras do movimento Escolas Abertas

Educação é serviço essencial. A frase, tantas vezes repetida, pode parecer óbvia. Entretanto, a falta de coordenação e empenho dos governos federal, estaduais e municipais na busca de soluções e alternativas para a educação durante a pandemia escancarou a ausência de prioridade para o setor, afetando estudantes e educadores. O prejuízo será sentido ao longo dos anos por uma geração que não recebeu o devido respeito durante sua vida escolar —provavelmente a fase mais importante na formação de um cidadão— e trará sérios problemas ao Brasil.

Desde que surgiu, o Movimento Escolas Abertas luta para que as escolas cumpram seu papel social perante a sociedade. As escolas oferecem muito mais do que conteúdo acadêmico. São espaços de troca, de convivência entre alunos e professores e de apoio socioemocional. Também é na escola que muitas crianças têm acesso à melhor alimentação do dia, sobretudo aquelas de famílias de menor renda. No entanto, para cumprir seu papel fundamental em nossa sociedade, as escolas precisam estar abertas.

Em vários estados e municípios, a volta às aulas presenciais continua proibida. Em outros, foi permitida tardia e timidamente, mas segue à mercê das oscilações dos planos estaduais que preveem a variação do percentual de alunos em sala de aula a cada mudança de fase, nos moldes do que ocorre com outros setores da economia. Aumentar e diminuir o percentual de alunos nas escolas é sinônimo de caos e insegurança, e impossibilita um planejamento adequado por parte dos gestores das redes de ensino. Educação não deve ser tratada como mero setor econômico, sujeito a mudanças de protocolos impostas por governos.

Queremos, sim, as escolas abertas durante a pandemia. Para isso, é essencial que seja estabelecido um critério único para todas as fases da pandemia, com segurança e previsibilidade.

Nesta semana em que os números da pandemia atingem níveis nunca antes vistos, volta a se falar no fechamento das escolas. Retornamos para a inversão de valores vivida durante todo o ano de 2020, já que ao mesmo tempo em que sugerem fechar escolas, campeonatos de futebol seguem seu calendário habitual, cultos religiosos presenciais são considerados atividades essenciais, e o Tribunal de Justiça determina que academias de ginástica podem continuar abertas mesmo na fase mais restritiva do Plano São Paulo.

Isso tudo sem que nenhuma autoridade em nível federal, estadual ou municipal se manifeste em defesa da educação, ou a respeito da incongruência de continuarmos colocando nas escolas a responsabilidade pelo (des)controle da pandemia. Será essa a cartada final na já tão sofrida educação brasileira?

​Evidências científicas demonstram que escolas com protocolos são ambientes seguros para crianças e professores. De acordo com dados divulgados nesta semana pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, a taxa de incidência de casos por 100 mil habitantes, notificados no Sistema de Monitoramento da Educação (Simed), chega a ser até 33 vezes menor do que a incidência por 100 mil habitantes no Estado. Tal cenário revela a consonância com evidências científicas que apontam que o número de contaminações relativo àqueles que frequentam o ambiente escolar é sempre inferiores ao da transmissão comunitária.

Estados e municípios brasileiros vão na contramão do mundo, criando inúmeros entraves para reabertura das escolas. Foram longos 11 meses sem a possibilidade de convivência entre alunos e professores. Agora, depois de um ano de pandemia no Brasil, é fundamental invertermos a lógica que tem guiado governos até aqui. Educação é serviço essencial. Escolas, em momentos de crise, devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir.

​Ainda há tempo para repararmos os graves prejuízos educacionais que a pandemia ocasionou às crianças e aos jovens brasileiros. Basta ter comprometimento e, de fato, colocar a educação em primeiro lugar.

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