Escola do Rio usa placa para evitar ser alvo de tiros

Fundada em 1998 para alunos traumatizados pela violência, escola Uerê, na Maré, foi alvejada em 2016 por helicópteros

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Rio de Janeiro

No teto da escola Uerê, no Complexo da Maré, no Rio, uma placa amarela pede: “Escola, não atire”.

Embora ela esteja no local desde julho de 2016, quando a instituição foi atingida por tiros oriundos de um helicóptero durante operação da Polícia Militar, nesta semana as imagens da placa viralizaram.

As fotos vieram de postagem feita por Yvonne de Mello, fundadora e coordenadora da Uerê, na terça-feira (7), um dia após operação da Polícia Civil matar oito na região

Segundo moradores, helicópteros foram usados para disparos na operação.

“Por essas e outras que coloquei [placas] no teto e na fachada do Uerê, para ver se não nos matam em dias de confronto. Uma vez um helicóptero metralhou a escola. A que ponto chegamos”, diz o texto da coordenadora.

Placa no teto da escola Uerê, na Maré, pedindo que não atirem na unidade
Placa no teto da escola Uerê, na Maré, pedindo que não atirem na unidade - Reprodução

“Um helicóptero simplesmente parou em cima da escola e começou a atirar. Só pensei que eu precisava fazer alguma coisa para defender a escola”, disse à Folha.

Questionada a respeito da operação de 2016, a Polícia Militar não respondeu até a conclusão desta edição.

Nesta segunda (6), a escola não foi diretamente atingida, mas teve suas atividades interrompidas após o tiroteio.

Quando ouvem sinais de conflito, os alunos são reunidos em pontos de segurança. Ao ingressarem na escola, eles passam por treinamento sobre como se protegerem.

O treinamento é posto em prática frequentemente. Em 2018, a Maré foi palco de tiroteios em 159 dias do ano, segundo a coordenadora. 

A violência a motivou a fundar a Uerê, em 1998. A escola é especializada em atender crianças com problemas cognitivos e emocionais causados pelo trauma da violência. 

Cerca 430 alunos de 6 a 18 anos frequentam a instituição.

“As crianças não têm paz para estudar. Os alunos em zonas de conflito têm um desempenho escolar ruim. Não deixam de aprender porque são burros, mas porque convivem diariamente com a violência.”

Apesar de o uso de helicópteros em operações ser antigo, a coordenadora diz temer que o problema seja agravado durante a gestão do governador Wilson Witzel (PSC).

Witzel já defendeu que criminosos portando fuzis sejam “abatidos” usando helicópteros para efetuar os disparos. 

No último sábado (4), Witzel participou de uma operação da Polícia Civil em Angra dos Reis a bordo de um helicóptero que, segundo relatos de moradores, atirou em uma lona usada por religiosos.

“Esse negócio do uso de helicóptero é um problema antigo, existe pelo menos há três anos. Mas tomou agora uma forma muito mais estruturada, virou política de estado. Antes era pontual”, disse ela.
O uso de helicópteros em operações policiais foi regulado por uma normativa da extinta Secretaria de Segurança do Rio. 

De acordo com a regra, policiais podem efetuar disparos apenas quando necessário para proteger vidas. Apenas um tiro pode ser realizado por vez —rajadas são proibidas.

A normativa surgiu a partir de uma ordem judicial que obrigou o estado a apresentar um plano para reduzir o risco de mortes em operações. A decisão ocorreu após uma ação matar sete pessoas na Maré, entre as quais o estudante Marcos Vinícius da Silva, 14.

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