Por Eliana Gorritti, G1 ES e TV Gazeta


Dentro da sala de aula, internos que cumprem pena no Complexo do Xuri, em Vila Velha, no Espírito Santo, têm a oportunidade de escrever uma nova história. De olhos atentos aos professores, eles aprendem enquanto cumprem pena. Como resultado dessa dedicação, só em 2018, 50 ex-detentos saíram empregados e outros 30 abriram o próprio negócio.

Os dados são da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), que informou ainda que 1,2 mil alunos são atendidos pela escola que funciona dentro das cinco unidades do Xuri.

Todos os internos que estudam têm direito a redução de pena. Cada 12 horas de estudo significam menos um dia de cadeia.

Dentro do complexo do Xuri, detentos têm aulas e mudam de vida — Foto: Roberto Pratti/ TV Gazeta

Aos 32 anos, Cristoffer Cunha cumpre pena por homicídio. Dentro do presídio, ele descobriu a paixão pela leitura e, em 2017, foi o 1º lugar em um concurso nacional de redação da Defensoria Pública. Agora, ele pensa em mudar de vida.

“Pretendo continuar estudando após eu cumprir minha pena e fazer diferente daqui para frente. Construir uma família, uma vida digna”, disse.

As redações são produzidas durante as aulas em um trabalho interdisciplinar realizado pela equipe pedagógica. Na edição de 2018, 1.207 alunos privados de liberdade tiveram suas redações inscritas. No ano anterior, foram 682 inscrições.

A leitura e os livros também conquistaram Fagner Luiz da Silva, de 36 anos, que perdeu a liberdade depois de se envolver com o tráfico de drogas.

“Hoje eu tenho gosto pelo estudo, gosto de estudar. Vou para o semiaberto agora, vai demorar um pouquinho para eu retomar meus estudos, mas é o que eu quero fazer, recuperar aquele tempo perdido”, garantiu.

Fagner se apaixonou pela leitura dentro do presídio — Foto: Roberto Pratti/ TV Gazeta

O diretor da escola, José Carlos Vieira, acredita que a iniciativa tem força para mudar a realidade desses detentos. “Não é uma tarefa fácil. Todos os dias nós estamos aqui proporcionando a esses internos uma oportunidade. A educação tem que levar a uma transformação”, disse.

Mesmo diante da crise econômica em todo o país, só no ano passado, 50 ex-detentos foram contratados com carteira assinada e 30 abriram os próprios negócios. Os números orgulham a professora Christiane Lemos, que acredita no potencial de cada um deles.

“Eles passam a enxergar que através da educação eles podem ter novas chances, outras oportunidades. Ele está preso, mas amanhã ele pode ser um engenheiro, um médico, um jornalista. E quem sabe, para minha felicidade, um professor de Língua Portuguesa”, disse.

Presidiários do ES mudam de vida depois de voltar a estudar

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Números

De acordo com dados da Secretaria Estadual de Justiça (Sejus), atualmente são 3.641 presos matriculados na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em 204 turmas com 11 escolas vinculadas. Em 2018, foram 2.068 inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

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