Por Lilian Lima e Joyce Heurich, G1 RS


Os alunos criaram um calendário com datas importantes para serem comemoradas e lembradas sobre a história africana. — Foto: Arquivo pessoal

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint'Hilaire, no bairro Lomba do Pinheiro, Zona Leste de Porto Alegre, foi uma das finalistas do prêmio 'Sim à Igualdade Racial', na categoria Educação e Oportunidades.

Organizado pelo Instituto Identidades do Brasil, o concurso é considerado o maior da América Latina voltado a essa temática. A entrega foi realizada na noite desta terça-feira (14), no Rio de Janeiro, e o vencedor foi o Uneafro.

"Eles abriram uma indicação para seis categorias, neste ano. E receberam indicações de todo o Brasil. Uma comissão julgadora definiu entre essas indicações os três finalistas. Tamanha foi a nossa surpresa porque nós somos um projeto que funciona com recursos próprios dentro de uma escola pública na periferia da Lomba do Pinheiro", diz a coordenadora do projeto, Larisse Moraes.

"A gente conta com esforços coletivos, da comunidade, da direção da escola. Os alunos se empenham muito."

Questionamento de Kherollen Shawnna inspirou projeto. — Foto: Arquivo pessoal

O projeto finalista é o Afroativos, uma inciativa que surgiu em 2017 depois que a aluna Kherollen Shawnna, de 10 anos, escreveu uma carta falando sobre como ela se sentia com relação ao próprio cabelo cacheado.

"Quando falam do meu cabelo eu fico com um aperto no coração. Isso não me entra. O que tem o meu cabelo? Eu não sei mesmo", escreveu Kherollen.

Depois disso, a turma deu início ao movimento 'Solte o cabelo, prenda o preconceito' para ajudar a colega e sentiu a necessidade de se reunir para estudar mais sobre o assunto.

"A gente começou pequenininho na sala de aula, e no ano seguinte entramos para o currículo complementar da escola e, neste ano, estamos com um projeto independente, além de nove turmas da escola onde eu trabalho sobre esse eixo. A gente tem a lei federal 10.639, existe desde 2003, que torna obrigatório o ensino da cultura e da história africana e afro-brasileira nas escolas. Apesar de ela não ser cumprida e ficar a cargo de datas comemorativas".

O Afroativos criou um calendário sobre a história dos negros com datas importantes para serem comemoradas e lembradas. Os alunos também fazem visita a espaços públicos importantes para a preservação da cultura negra na Capital.

A ideia é trabalhar o processo de "afroabetização", com a ressignificação da cultura e da história africana.

"Vai muito além da questão do exótico e de que nós somos descendentes de escravizados. Nós somos descendentes de pessoas que tiveram a sua história interrompida pela escravização. Elas tinham uma história antes disso que foi completamente embarreirada e prejudicada pelo processo de escravização. No caso do Brasil, nós temos 131 anos de abolição para mais de três séculos de escravização. É uma discussão bem importante a se fazer".

Cerca de 300 crianças, da pré-escola ao 9ª ano, participam do projeto com atividades de pesquisa e produção de conteúdos que promovam a igualdade racial.

A trajetória do projeto e o processo de criação do calendário vão virar um longa-metragem. As gravações começaram no ano passado.

A professora Larisse participou do programa Encontro com Fátima Bernardes, na última segunda-feira (13). Assista à entrevista.

Alunos participam de atividades de pesquisa e produção de conteúdos para promover a igualdade racial. — Foto: Arquivo pessoal

Ideia é trabalhar o processo de "afroabetização", com a ressignificação da cultura e da história africana. — Foto: Arquivo pessoal

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