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Epidemia do coronavírus leva governo francês a cancelar equivalente do Enem em 2020

04/04/2020 09h41

O ministro da Educação da França, Jean-Michel Blanquer, anunciou na sexta-feira (3) o cancelamento das provas presenciais do Baccalauréat (BAC) de 2020, concurso similar ao Enem para ingresso de estudantes do secundário nas universidades francesas. Devido à epidemia do novo coronavírus, neste ano os alunos terão acesso ao ensino superior por um sistema de avaliação contínua das notas escolares.

Os exames do BAC deveriam acontecer em junho. Porém, com o longo processo de saída do confinamento previsto pelas autoridades - provavelmente em etapas e ao longo de vários meses -, a organização das provas presenciais se tornou inviável.

O primeiro-ministro Édouard Philippe declarou nesta semana que a suspensão das medidas de distanciamento social "não são para amanhã", embora vários cenários estejam em estudo. As autoridades também sinalizaram que o prazo do isolamento, já renovado uma vez até 15 de abril, deve ser ampliado.

A pandemia de Covid-19 já matou 6.507 pessoas na França, a maioria (5.091) nos hospitais e em casas de repouso (1.416). O país nunca teve tantos pacientes internados simultaneamente em leitos de reanimação como nas últimas 24 horas, segundo dados divulgados na noite de sexta-feira. As UTIs do país tinham 6.662 casos graves da pneumonia viral, doentes que respiram com a ajuda de aparelhos. Um sinal positivo, mas que deve ser interpretado com muita cautela, é que o número de contaminados que requerem cuidados intensivos vem caindo desde a última segunda-feira (30). Os prontos-socorros também registram uma diminuição da chegada de casos agudos da doença. Mas essa inflexão, advertem especialistas, pode rapidamente mudar. 

Na região parisiense, onde se concentra o maior número de infectados atualmente, o pico da epidemia pode ser atingido na próxima segunda-feira, 6 de abril, segundo uma projeção feita por epidemiologistas publicada pelo jornal Le Parisien.

Sistema hospitalar vai dar conta dos doentes

Na noite de quinta-feira (2), o primeiro-ministro Édouard Philippe tentou passar confiança à população. Ele disse que o sistema hospitalar vai dar conta do atendimento, se as pessoas continuarem a cumprir rigorosamente as medidas de distanciamento social e confinamento.

Mas existem gargalos, áreas que enfrentam dificuldades pela saturação dos leitos de UTI. É o caso, por exemplo, de Saint-Denis, subúrbio pobre na periferia norte de Paris, onde moram muitos imigrantes e famílias numerosas em apartamentos exíguos.

As autoridades têm feito transferências de pacientes entubados de regiões onde os hospitais estão saturados para áreas menos afetadas pela epidemia. As 506 evacuações realizadas até agora ocorrem em dois trens de alta velocidade adaptados em UTI, aviões e helicópteros da Força Aérea e da Defesa Civil e navios da Marinha. Todos os meios de transportes têm sido utilizados para salvar vidas.

Consultórios notificam mais de 90.000 casos em uma semana

Os médicos de família, reunidos na rede Sentinela, enviam semanalmente às agências regionais de saúde o número de pacientes da Covid-19 diagnosticados nos consultórios particulares, apenas pelos sintomas clínicos.

Na semana passada, foram assinalados 90.607 casos da Covid-19 em todo o território francês, quase o dobro da semana anterior. Os dados divulgados diariamente pelo governo são de pessoas que passaram por testes de dignóstico e representam apenas uma parcela dos infectados.