Entenda a nota do Enem — Foto: Farias Brito/Divulgação
Miguel Albuquerque (nome fictício) acertou um número considerável de itens na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio, mas obteve resultado insatisfatório. Apesar de ser um caso ilustrativo, o mesmo acontece com muitos estudantes que participam da prova. É que o Enem utiliza a Teoria da Resposta ao Item (TRI) para calcular a nota final dos candidatos. Com isso, o método não avalia somente a quantidade de respostas corretas, como também o grau de dificuldade da questão e a coerência de respostas do aluno nas diferentes Áreas do Conhecimento.
No Brasil, a TRI é aplicada desde 1995 nas provas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que mede o desempenho de estudantes dos ensinos Fundamental e Médio. Anos mais tarde, em 2009, começou a ser utilizada no Enem. Na média, a pontuação dos participantes concluintes do Ensino Médio girou em torno de 500 naquele ano, e esse valor passou a ser considerado um referencial na escala construída para o Enem – ou seja, quanto mais distante de 500 for a nota do estudante, para cima, maior o desempenho obtido em relação à média dos participantes.
Conforme explica Roberto Moreno, Head de Projetos Estratégicos e Tecnologia Educacional da Organização Educacional Farias Brito, a Teoria de Resposta ao Item possui três características básicas: (1) poder de discriminação do item; (2) grau de dificuldade da questão e (3) possibilidade de acerto ao acaso (chute). O estudante pode ser beneficiado se conhecer as peculiaridades da TRI, o que elevam as chances de ele emplacar uma nota alta.
- O que dizem as características da TRI, respectivamente?
O poder de discriminação do item é a capacidade de distinguir os participantes que têm proficiência requisitada daqueles que não têm. Se uma questão é difícil, o aluno que estudou mais vai conseguir responder, já o que estudou pouco não vai ter o mesmo desempenho; Toda questão do Enem passa por um pré-teste e é qualificada quanto ao grau de dificuldade. Se um item tem um índice maior de erros, tende a ser difícil; Para exemplificar a terceira característica, vamos supor que um aluno acerte 20 questões, sendo 15 difíceis e apenas 5 fáceis, não há muita coerência pedagógica, então ele vai ser penalizado. Por outro lado, um aluno que acertou as questões mais fáceis e acertou algumas médias e difíceis, a probabilidade de chute dele é mais baixa, por isso os seus acertos têm incremento maior.
- Na prática, o que diferencia a TRI da Teoria Clássica?
“Na Teoria Clássica, se o aluno acerta 10 questões, tira nota 10. Já a TRI dá um sentido de equidade maior. Se ele acerta um número X, a TRI avalia se os acertos foram de questões fáceis, médias ou difíceis. Isso quer dizer que ela utiliza a coerência pedagógica, não faz sentido um candidato acertar questões muito difíceis e errar questões fáceis, por exemplo”.
- Qual a importância de o aluno entender a TRI antes de fazer o Enem?
“É importante, porque isso mexe na estratégia de prova dele. Sabendo que a TRI trabalha com coerência pedagógica, é tentar valorizar os itens um pouco mais fáceis, ter atenção para não errar e reforçar o conhecimento básico dessas matérias. É saber ainda que Matemática e Ciências da Natureza junto com Redação são as matérias que o aluno consegue passar além ou chegar próximo dos 900 pontos, se tiver muitos acertos na prova, tendo mais chances de maximizar a nota. Então, é interessante ter uma boa performance nessas áreas para melhorar sua composição de média global do Enem. No Enem 2017, as maiores notas foram nas áreas de Matemática e de Ciências da Natureza – 993,9 e 885,6 - respectivamente”.
- Que outras dicas podem ajudar o candidato a resolver a prova?
“Eu costumo dizer que, se não souber uma questão, é recomendado você chutar, porque qualquer acerto (coerente ou incoerente) gera um incremento de nota, pouco ou muito, dependendo do grau de coerência. Um outro ponto importante é o aluno estar atento aos itens fáceis e não deixar itens em branco. Há alguns que ignoram conteúdos básicos, e, se eles erram, ou por não terem estudado ou por falta de atenção, a nota final vai ser prejudicada. O estudante não precisa obter a perfeição de ter que acertar tudo no Enem, mas tem que ter qualidade em quais itens acerta”.