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Como a inflação alta interfere na carreira dos jovens
Seus pais vão ao supermercado, olham algum produto na prateleira e falam: "Nossa, como o preço subiu, dinheiro não vale mais nada mesmo". Você (e muita gente) já deve ter se perguntado: por que os valores de produtos subiram tanto?
Peço licença para fugir um pouco do tema de carreiras, ir para economia e tentar trazer a resposta.
O que é inflação? Em poucas palavras, é o aumento do nível de preços.
↪ No Brasil, a inflação é calculada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) que avalia a variação dos preços de 377 bens e serviços divididos em nove categorias. São elas: transporte, alimentação e bebidas, comunicação, vestuário, saúde, habitação, despesas pessoais, educação e artigos de residência.
Qual a situação no país? De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em julho, o Brasil teve uma deflação (queda de preços) de 0,68% e foi a menor taxa registrada desde 1980. Apesar da redução, o país ainda tem uma inflação acumulada em 12 meses de 10,07%.
↪ A queda é devido ao impacto da redução de combustíveis e energia elétrica, influenciados pelos recentes cortes nas alíquotas de ICMS (imposto estadual).
↪ Mas... isso não quer dizer que todos os preços baixaram. Com exceção de transporte e habitação, as outras categorias do levantamento apresentaram alta em julho, com destaque para alimentação e bebidas, que ganhou força e chegou a 14,72%. O motivo? Em análise publicada na Folha, Mauro Zafalon defende que clima, China, Covid e perdas passadas dos produtores são algumas das causas da alta de preços.
↪ Além disso... o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking dos países com maiores taxas de inflação entre as principais economias mundiais.
Agora, vamos ao tema. Como a inflação alta prejudica o mercado de trabalho?
- Perda do poder de compra do trabalhador + aumento no nível de preços + diminuição da renda do trabalhador.
- "A Covid trouxe um cenário de incerteza na economia, as pessoas permaneceram em empregos que não gostavam ou aceitaram trabalhos com menores remunerações para poder pagar as contas a curto prazo", diz Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores.
Como o jovem pode sentir a inflação no bolso?
- Segundo Imaizumi, uma crise sobreposta a outra –como a crise econômica que 2016 que se uniu aos efeitos da pandemia– acaba afetando no reajuste de salários, não só de estagiários, mas de todos os trabalhadores.
- Além disso, de acordo com Humberto Casagrande, CEO do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), a inflação corrói o valor da bolsa e faz com que, por exemplo, a passagem de ônibus fique mais cara. Assim, parte do salário do jovem vai embora apenas com transporte.
E não basta o desemprego, os jovens de baixa renda são os que mais sofrem com isso.
↪ Levantamento da CIEE, de agosto de 2022, em parceria com a Tendências Consultoria Integrada, aponta que a maioria dos estagiários no Brasil pertence à classe C (renda mensal domiciliar entre R$3.000 e R$ 7.200), 37,7%, e classes D/E (renda mensal domiciliar de até R$ 3.000), com 40,4%.
↪ E tem mais... pesquisa do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) em conjunto com o CIEE, de 2021, mostrou o perfil dos estagiários no Brasil.
- 69% usam a bolsa-auxílio do estágio para ajudar no sustento da família e nas despesas de casa, como contas de luz e água, e até na alimentação, em supermercados e feiras. Outra principal despesa é a mensalidade escolar.
- Isso é um reflexo não só da inflação alta, mas de toda a crise econômica que estamos vivenciando.
- Para Casagrande, a bolsa de estágio deveria ser gasta em escola, roupas e lazer, além de recursos que aperfeiçoem seu conhecimento.
Quem sente isso na pele conta: Jadson Silva, 24, é graduando em engenharia mecânica e estagiário em uma consultoria estratégica. Ele saiu de sua casa em Salvador (BA) e foi para a cidade de São Paulo para estudar e dar melhores condições para a família.
Ele se mantém na cidade com auxílios, e agora, com a remuneração do estágio. Jadson conta que separa uma quantia para enviar aos pais e que sentiu os impactos diante desse cenário de inflação alta, tanto que está se planejando para enviar também os valores de seus benefícios como vale-refeição e vale-alimentação.
As empresas já estão notando esse perfil. Hoje, existem programas de estágio exclusivos para jovens de baixa renda, são elas:
A FutureBrand, consultoria global de branding, fez pela primeira vez neste ano um processo seletivo assim. Segundo Ewerton Mokarzel, CEO da companhia, a ideia nasceu para ampliar a diversidade e inclusão na empresa.
↪ Podem participar estudantes do último ano de graduação com renda familiar de até três salários mínimos (R$ 3.636) .
↪ Mokarzel conta que precisaram repensar o valor da bolsa auxílio para atender às necessidades desses jovens, pois muitos ajudam dentro de casa e tinham que escolher entre trabalhar ou estudar.
A Klabin, empresa produtora e exportadora de papéis, também lançou neste ano seu primeiro programa de estágio nessa modalidade. Podiam se inscrever estudantes de graduação com renda familiar de até três salários mínimos.
↪ Rodrigo Rubano, gerente de desenvolvimento organizacional na Klabin, conta que um dos selecionados estava quase desistindo da faculdade por não ter como pagar e, ao conseguir a vaga, pôde continuar com os estudos.
Pergunte ao especialista
Tiramos dúvidas sobre mercado de trabalho
Como o jovem pode pensar na sua carreira em meio à crise?
Lifelong learning ("aprendizado para a vida toda", em inglês). O termo fala de educação continuada: para Eline Ottani, esse conceito é importante para os jovens entenderem que é preciso ir além da faculdade. Participar de ligas, empresas juniores e outras oportunidades que a universidade oferecer, por exemplo. As empresas avaliam que essas atividades também servem como uma forma de criar experiências profissionais.
Fique atento aos pré-requisitos. Ottani também indica ao candidato checar o que a vaga deseja ou que a sua empresa dos seus sonhos pedem na descrição dos cargos, assim você começa a buscar esses conhecimentos. Por exemplo: para trabalhar no mercado financeiro, será preciso adquirir competências comerciais.
Fique de olho nas habilidades. Seme Arone cita uma habilidade técnica importante: a digital. Ele diz que para se destacar no mercado é importante entender dados, ter conhecimento das plataformas digitais e saber se comunicar por vídeo.
Conheça seu inimigo, o desemprego. Busque saber quais áreas estão mais aquecidas e precisando de mão de obra. Arone fala do setor de tecnologia, que demanda profissionais de TI, de webdesign e desenvolvedores de software.
Não fique sem saber
Explicamos dois assuntos do noticiário para você
E que comecem... as campanhas eleitorais
O que andam falando e prometendo os principais candidatos à Presidência da República? Segue o fio:
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
- O petista, que lidera as pesquisas da corrida presidencial, cometeu uma gafe em discurso em São Paulo ao condenar a violência contra as mulheres. "Quer bater em mulher? Vá bater em outro lugar, mas não dentro da sua casa ou no Brasil", disse. O comentário se soma a uma lista de escorregões na campanha.
- O ex-presidente também afirmou que não fará campanha pautada por religião após citar Bíblia e acenar a evangélicos.
- Caso ganhe as eleições, Lula sugere recriar ministério para micro e pequenas empresas. Segundo pesquisa do Datafolha, petista é visto como o candidato mais preparado para lidar com problemas do país como fome e pobreza.
Presidente Jair Bolsonaro (PL)
- Aliados do mandatário acreditam que a sabatina do Jornal Nacional nesta segunda-feira (22) seja o primeiro teste crucial da campanha.
- O chefe do Executivo está apostando na geração de emprego para recuperar eleitores arrependidos, e também atingir todos os grupos demográficos e regiões do país.
- O Auxílio Brasil turbinado beneficiou principalmente estados onde o presidente foi derrotado por Fernando Haddad (PT) em 2018 e que agora está de olho na reeleição.
Ciro Gomes (PDT)
- Ciro aposta em programa de renda mínima, batizado em homenagem ao vereador petista Eduardo Suplicy, como seu carro-chefe na campanha. O projeto prevê beneficiar quase 60 milhões de pessoas.
- Com dificuldade de atrair outras alianças ao seu partido, o candidato do PDT anunciou a vice-prefeita de Salvador (BA), Ana Paula Matos, como vice em sua chapa.
- Estacionado em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, Ciro pretende manter estratégia para roubar votos de Lula e Bolsonaro ao se colocar como uma alternativa à polarização política entre esses candidatos.
- A campanha do ex-ministro já gastou cerca de R$ 800 mil com viagens de jatinho. A opção pelo transporte é devido a flexibilidade de horários para atender à agenda de compromissos do pedetista pelo país.
Senadora Simone Tebet (MDB)
- Não são só os aliados do presidente que esperam coisas boas na sabatina do Jornal Nacional. Tebet também considera que essa entrevista possa melhorar seu desempenho nas pesquisas.
- Em seu plano de governo, a candidata do MDB apresentou a proposta de elevar a linha de miséria para ampliar o público de benefícios sociais.
- Tebet também prevê a criação da Poupança Seguro Família, para ser utilizada pelos empregados sem carteira assinada em momentos de queda na renda.
Todos:
- Debate entre os marqueteiros: as equipes de marketing dos principais candidatos à Presidência da República enfrentam embates internos e desconfiança.
- Pesquisa Datafolha: a última rodada do levantamento, realizado de terça (16) a quinta (18), mostrou que Lula segue à frente na disputa, mas Bolsonaro avança nas intenções de voto.
- China ignorada: o maior parceiro comercial do Brasil ficou ausente em projetos de política externa nos planos dos principais postulantes ao Planalto.
- Divergências: as propostas de Lula, Bolsonaro, Ciro e Tebet para a economia divergem em temas de privatização e reformas trabalhistas.
- Em comum: já assuntos de políticas de distribuição de renda, defesa do ambiente e de grupos minoritários ganham espaço nas agendas.
Quais são os reflexos da pandemia na educação?
- Em primeiro lugar... o Brasil foi um dos países recordistas em tempo de unidades de ensino fechadas na pandemia de Covid-19.
- Por isso... estudos indicaram prejuízos no aprendizado, na manutenção das matrículas e na saúde emocional de alunos e professores. Após um ano de reabertura de escolas, o cenário na educação é precário.
- Outras consequências: a pandemia também fez disparar a desigualdade na permanência de alunos na escola. O abismo regional também se intensificou.
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Índices indicam que 945 mil crianças e jovens abandonaram a escola no ano passado.
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Educação no Brasil = escola pública. Da creche ao ensino médio, 82,9% das matrículas são de instituições municipais, estaduais ou federais, enquanto 17% dos brasileiros estão em escolas particulares.
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De olho nisso. Escolas da rede privada que oferecem as chamadas metodologias inovadoras com mensalidades abaixo de R$ 1.000 crescem em meio a crise econômica e visam atrair alunos de colégios públicos.
- Opinião: Wilson Victorio Rodrigues escreve sobre a educação brasileira e as reais necessidades do mercado em artigo publicado na Folha.
- Documentário "Desconectados", da Folha, com pré-estreia nesta segunda (22) em São Paulo aborda os desafios e esforços de estudantes, famílias e educadores durante esse período; veja trailer.
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