Ensino superior volta a crescer no país, mas só na modalidade a distância

País não retoma patamar pré-crise; ensino presencial segue estagnado

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São Paulo e Brasília

O número de alunos matriculados no ensino superior aumentou 3% em 2017, após estagnação no ano anterior. O crescimento, no entanto, só ocorreu na modalidade a distância.

No ano passado, o país tinha 8,3 milhões de alunos em cursos de nível superior (presencial e a distância), contra 8,05 milhões em 2016. Os dados são do Censo da Educação Superior de 2017, divulgado pelo MEC (Ministério da Educação) nesta quinta-feira (20).

O número total de ingressantes (novos alunos) teve um crescimento de 8% em relação a 2016, foram 3,2 milhões a mais. O aumento, porém, foi puxado pelos cursos a distância, em que o número de matrículas cresceu 18% de 2016 para 2017, maior alta desde 2008.

O total de ingressantes na modalidade também disparou, com 27% de crescimento —enquanto nos cursos presenciais, o acréscimo foi apenas de 0,5%.  O ensino a distância tem registrado expansão nos últimos anos e já representa 21,2% do total de alunos —em 2007, era apenas 7%. 

O setor em geral, no entanto, ainda não retomou o ritmo anterior à crise econômica. De 2007 a 2014, o total de matrículas em faculdades e universidades nas duas modalidades crescia, em média, 6% ao ano.

O ministro da Educação, Rossieli Soares, afirmou que o crescimento do ensino a distância é considerado um avanço pelo governo. "Ter um curso presencial não quer dizer que tenhamos qualidade", afirmou. "O que mais importa para a gente é olhar a qualidade, seja presencial ou a distância."

O diretor executivo do Semesp, que representa as instituições privadas, Rodrigo Capelato, discorda. "Esse crescimento [do ensino a distância] não é uma recuperação do setor, porque o ensino superior é composto 80% pelos cursos presenciais, que estão andando de lado", diz. 

Para Capelato, enxugamento do Fies (programa de Financiamento Estudantil), promovido nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), ainda emperram a entrada de novos universitários.

"Em 2018, não chegou nem a 40 mil os ingressantes pelo Fies, é irrisório. Somado a isso, continua a crise econômica, a perda de emprego da família e do próprio aluno e esses jovens estão precisando trabalhar logo."

Além disso, o perfil dos estudantes do ensino a distância é outro. "É um aluno em média mais velho, que procura o curso pelo preço e pela possibilidade de valorização profissional", afirma Capelato.

Nos cursos presenciais, a procura costuma ser pela qualidade, reputação da universidade e por vocação para a área. A média de preços, nas instituições privadas presenciais, é de R$ 1009, enquanto no ensino a distância é de cerca de R$ 295.

 

Na rede privada, porém, o número de matriculados voltou a crescer em 2017, após queda de 0,2% registrada no ano anterior. O total de alunos das instituições particulares, que concentram 75% do total de matrículas no ensino superior, passou de 6,05 milhões para 6,2 milhões —um aumento de 3%.

Outro índice que teve leve aumento neste levantamento foi o da quantidade de alunos que se formaram. De 1,16 milhão de concluintes em 2016 para 1,19 milhão em 2017, considerando as modalidades presencial e a distância.

O ministro defendeu a reforma do ensino médio promovida pelo governo Temer no início do ano, e que muda o conteúdo obrigatório que as escolas deverão oferecer aos estudantes. 

Questionado sobre proposta do candidato do PT ao Planalto, Fernando Haddad, de revogar a reforma, Rossieli afirmou se tratar de um "retrocesso". "Qualquer proposta, seja de quem for, que não olhe para frente para efetivamente transformar o ensino brasileiro é um retrocesso", disse. 

 

Os resultados do censo, porém, apontam dificuldades para o país elevar o percentual de jovens que conseguem chegar ao ensino superior. Apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos estão em universidades e faculdades. A meta do PNE (Plano Nacional de Educação) é chegar a 33% em 2024.

"Não estamos chegando perto dessa taxa. O ensino a distância não é a solução para o país, ele abrange outro público. E o jovens? O que a gente faz com eles? Vamos continuar criando uma massa de jovens sem escolaridade superior", diz Capelato.

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