Laura Müller Machado

Mestre em Economia Aplicada pela USP, é professora do Insper e foi secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo

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Descrição de chapéu Fies Enem

Ensino médio pode aumentar em 32% a renda futura dos jovens (e o Brasil consegue)

Estudo mostra impacto financeiro da educação profissional e tecnológica de nível médio

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O novo ensino médio ampliou o debate sobre a educação profissional e tecnológica ao trazê-la como uma das alternativas dos novos itinerários formativos. Os alunos que optarem por esse caminho receberão, ao final da educação básica, o diploma de formação profissional e de conclusão do ensino médio.

A evasão de uma parcela dos jovens decorre da ausência de um claro significado do que está sendo ensinado e de como esse conteúdo irá transformar a sua vida. Alguma exposição a temas profissionais e tecnológicos pode dar concretude ao currículo e motivá-los, o que impediria o abandono escolar.

Estudante aguardando abertura dos portões para prova do Enem em São Paulo
Estudante aguardando abertura dos portões para prova do Enem em São Paulo - Zanone Fraissat/ Folhapress

Espera-se que a educação técnica não só aumente a empregabilidade e a remuneração, mas promova o autocuidado dos estudantes, o que que pode resultar em melhorias na saúde, nas relações pessoais, sociais, em maior protagonismo político e comunitário. Há a expectativa de um substancial impacto sobre a qualidade de vida de quem possui educação técnica e um maior desenvolvimento nas sociedades que nela investem.

Esse potencial da EPT (Educação Profissional e Tecnológica) é relevante no contexto brasileiro, que se destaca pela baixa participação de estudantes na modalidade.

O relatório "Education at a Glance", de 2020, elaborado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), mostra que o percentual de matriculados em programas de educação profissional chega a 42% nos países da OCDE. No Brasil, não alcança 11%. Há muito espaço para a disseminação da EPT e o novo ensino médio irá, em parte, preencher essa lacuna.

Um estudo lançado nesta semana pelo Insper realizou uma revisão sistemática da literatura sobre o Brasil e as estimativas do impacto privado da educação profissional e tecnológica de nível médio sobre a empregabilidade e a remuneração. A análise de 76 projeções, presentes em 16 estudos criteriosamente selecionados, corrobora a relevância da formação técnica de nível médio para a inserção no trabalho e a ampliação do rendimento dos trabalhadores.

Os resultados encontrados apontam que tal programa educacional eleva o valor presente da remuneração dos seus egressos em R$ 137 mil (32%) por meio de aumento na taxa de ocupação (R$ 51 mil) e na remuneração (R$ 86 mil). Como o custo dessa modalidade gira em torno de R$ 16 mil, a política pública tem uma relação custo-benefício de 1 para 8,6, ou seja, para cada real gasto, o jovem terá 8,6 de retorno se concluir o curso. Esse resultado se efetiva para quem conclui a educação técnica, hoje só 40%.

A conclusão sugere recomendações para a política pública. A primeira é a importância de comunicar ao jovem que essa modalidade de ensino tem um impacto significativo no seu futuro. Será que é de conhecimento dos jovens que cursar o ensino técnico terá um impacto de 32% sobre a remuneração? A segunda é a urgente necessidade do aumento da oferta da modalidade. Outra importante recomendação é a integração do ensino técnico com o ensino superior.

Idealmente, quem tem um curso técnico deveria ter maior facilidade e menor custo para adquirir uma educação superior na mesma área. Por exemplo, cursos de nível técnico poderiam permitir a dispensa de cursos de nível superior ou assegurar créditos adicionais. O egresso de curso técnico já tem uma série de habilidades que o dispensaria de diversas disciplinas de nível superior ou requereria esforço reduzido.

Em suma, urge o aumento da oferta e do engajamento dos jovens no ensino técnico de nível médio. Estamos atrasados em pensar uma política curricular de transição do ensino médio para as faculdades técnicas e de um ensino superior mais modular e fluida. Só temos a ganhar.

O retorno monetário do EPTNM ao longo da vida profissional do egresso

Etapa Impacto % da EPTNM Acréscimo monetário da EPTNM Valores
Valor presente do rendimento do trabalho de jovens com educação básica completa, sem ensino superior - - R$ 427 mil
Valor presente do rendimento do trabalho de jovens que concluíram a educação técnica, considerando apenas o impacto sobre a taxa de ocupação 12% R$ 51 mil R$ 478 mil
Valor presente do rendimento do trabalho de jovens que concluíram a educação técnica, considerando apenas o impacto sobre a remuneração 18% R$ 77 mil R$ 504 mil
Valor presente do rendimento do trabalho de jovens que concluíram a educação técnica, considerando o impacto sobre a taxa de ocupação e a remuneração 32% R$ 137 mil R$ 564 mil

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