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Artigos escritos por colunistas convidados especialmente para O GLOBO.

Por João Batista Gomes

Um dos maiores desafios para o desenvolvimento econômico, social e socioambiental do Brasil sempre foi a educação. Promover o acesso a um ensino de qualidade — de norte a sul do país, capaz de preparar nossos jovens para o mercado de trabalho, desenvolvendo ao máximo suas habilidades e competências intelectuais e emocionais — é uma meta que congrega diariamente esforços de milhares de pessoas e centenas de instituições, sejam elas públicas, privadas, beneficentes ou do terceiro setor.

Todos esses esforços e investimentos, embora ainda estejam muito aquém do esperado para uma nação com tamanho potencial como o Brasil, têm reduzido, ano após ano, os índices de analfabetismo, que, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em 2019, era de 6,6% da população acima de 15 anos, ou cerca de 11 milhões de brasileiros à época. No entanto, pelo andar da carruagem, não alcançaremos a tempo a meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê a erradicação do analfabetismo até 2024.

No centro desse desafio estão as escolas, que desempenham um papel fundamental na preparação das nossas crianças para os desafios da vida adulta, dando a elas a oportunidade de uma formação integral, conforme preconiza a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Esse conceito prevê a construção intencional de processos educativos que promovam aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea.

É nesse contexto que me preocupo com o avanço do Projeto de Lei que propõe a educação domiciliar no Brasil, o homeschooling. São vários os aspectos que precisam ser considerados quando o assunto é a formação, o desenvolvimento e a segurança das nossas crianças. O primeiro deles diz respeito à criação de mecanismos que possibilitem ao MEC e às secretarias de Educação dos municípios acompanhar as etapas educacionais dos alunos cujas famílias optarem pelo ensino domiciliar, caso ele seja adotado.

Atualmente em debate no Senado, o projeto não traz instrumentos suficientes para assegurar ao governo o monitoramento das condições socioemocionais e de aprendizagem dessas crianças. Pelo contrário, as famílias que optarem pelo ensino domiciliar terão apenas de formalizar sua escolha por meio da plataforma virtual e apresentar uma documentação singela, como identificação do estudante e comprovantes de residência e de vacinação, devendo renovar a autorização anualmente.

Para que uma família assuma o dever de ensino de uma criança, no mínimo um dos responsáveis pelos estudos deveria ter licenciatura em pedagogia e/ou pós-graduação em educação com ênfase em ensino e aprendizagem. Sem isso, dificilmente terá condições de assumir o processo de formação educacional da criança.

A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil, assim como outras entidades e organizações do segmento, considera que o avanço dessa legislação, da forma como vem sendo tratada, colocará em risco a educação como um direito humano fundamental, deixando milhares de crianças e adolescentes suscetíveis a violações diversas, contrariando todo o aparato legal, em especial o Estatuto da Criança e do Adolescente.

*João Batista Gomes, padre, é diretor-presidente da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil, mestre em ciências contábeis e reitor do Centro Universitário São Camilo de São Paulo

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