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Ensino à distância cresce em detrimento de cursos presenciais noturnos no Brasil

Segundo o Mapa do Ensino Superior 2020, EAD aumentou 145% entre 2009 e 2018
Saudades da sala de aula: alunos reclamam de mensalidades cheias no ensino remoto Foto: Divulgação
Saudades da sala de aula: alunos reclamam de mensalidades cheias no ensino remoto Foto: Divulgação

SÃO PAULO – Antes mesmo da imposição das medidas de isolamento social para conter a pandemia de Covid-19, o ensino à distância (EAD) já era tendência no país. Segundo a 10ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil 2020, divulgada nesta quinta-feira (21) pelo instituto do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior de São Paulo (Semesp), as matrículas em EAD cresceram 16,9% entre 2017 e 2018, enquanto o ingresso em cursos presenciais diminuiu 2,1%.

Na comparação entre 2009 e 2018, o número de novos alunos à distância cresceu 145%. Nos cursos presenciais, 24,3%. Apesar da evolução da EAD, os alunos matriculados em cursos presenciais são maioria: 75,7% em 2018.

A maior parte dos universitários brasileiros – 75% – estuda em instituições privadas, que correspondem a 88% da rede do ensino superior no país. Para 2020, o Instituto Semesp prevê uma queda de 7,6% nas matrículas no Ensino Superior e de 13,9% no número de ingressantes.

A expansão do ensino à distância, porém, não resultou na melhora dos índices de acesso à educação superior, porque ocorreu em detrimento de cursos presenciais noturnos. A taxa de escolarização líquida do país, que está praticamente estagnada e, em 2018, era de 17,9%.

A taxa de escolarização líquida indica a proporção de alunos frequentando a etapa escolar adequada à sua idade em relação à totalidade da população da mesma faixa etária. Em 2018, apenas 17,9% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos estavam matriculados ou já tinham concluído o ensino superior. O Plano Nacional de Educação estabeleceu a meta de alcançar uma taxa líquida de escolarização de 33% até 2024.

A taxa de escolarização líquida também não melhorou porque a educação à distância atende, principalmente, adultos que não puderam ingressar em cursos universitários quando jovens. A idade média de quem ingressa em um curso presencial era de 25 anos em 2018; na educação à distância, de 30 anos.

Segundo Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, o aumento das matrículas EAD não indica uma real expansão do acesso ao ensino superior, mas uma migração de alunos de cursos presenciais, sobretudo noturnos, para a educação à distância, que é razoavelmente mais barata. Ele também ressalta que a taxa de escolarização líquida só não caiu porque a população de jovens no país tem diminuído.

– A EAD tem crescido em detrimento dos cursos presenciais noturnos, o que é preocupante, porque o mercado de educação à distância é muito mais concentrado – diz Capelato.

A taxa de evasão nos cursos à distância também é alta: 37% em 2018, segundo Capeleto. Nos últimos anos, a evasão em cursos presenciais tem se mantido em torno de 30%. Para este ano, está prevista evasão 34,7%, puxada principalmente pela crise provocada pela pandemia.

O aumento do ensino remoto provocado pelas medidas de isolamento social, no entanto, podem modificar a oferta de educação à distância no país. Segundo Capeleto, os alunos tendem a preferir aulas presenciais, mas muitos optam pela EAD por ser substancialmente mais barata. Esses alunos com frequência encontram dificuldades para acompanhar os cursos, que, em sua maioria, são gravados.

A experiência do ensino remoto durante o isolamento social pode incentivar as instituições de ensino a pensar em alternativas que mesclem aulas presenciais e aulas virtuais ao vivo, possibilitando ao aluno fazer perguntas e tirar dúvidas com o professor. A migração de parte das aulas para o espaço virtual ajudaria as instituições diminuir os gastos com infraestrutura e possibilitaria a redução das mensalidades.

– As pessoas fazem EAD por conveniência de preço e acessibilidade. A preferência sempre foi por aulas presenciais, pelo contato com o professor – afirma Capelato.

O acesso ao ensino superior também ficou mais difícil nos últimos anos por conta da retração de políticas públicas de financiamento de mensalidades, como o Fies, que caiu de 21,3% em 2014 para apenas 2,6% em 2018. Já o financiamento privado aumentou de 14,4% para 34,8% no mesmo período.

Segundo o Mapa do Ensino Superior, nas classes mais altas (renda domiciliar maior do que oito salários mínimos), o acesso dos jovens de 18 a 24 anos Ensino Superior é de 61,9%. Na classe E (renda familiar de até meio salário mínimo) é de apenas 10,5%. A taxa de desocupação é 54% menor para quem tem diploma universitário.