Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Enfrentando o racismo nas escolas

Educação antirracista continua sendo feita apenas de casos isolados

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Não é fácil crescer numa sociedade racista. O professor fluminense Allan Pevirguladez sabe bem disso. Em entrevista à Folha, ele contou que, em sua época de escola, seus apelidos e os de seus colegas negros eram sempre referentes à cor da pele. Talvez sem nem perceber, a questão da estética negra também esteve presente em sua infância e adolescência. Hoje ele ostenta longos dreads, mas por muito tempo acreditou que seu cabelo precisava ser mantido raspado.

Allan é um exemplo de como o racismo presente no cotidiano pode dificultar a construção da identidade racial. No meu caso e de tantas da minha geração, foram muitos anos de alisamento capilar, desde a infância, numa tentativa inconsciente de se encaixar em algo que não fosse representado pelo cabelo crespo e volumoso.

Mas as crianças negras crescem e, quase inevitavelmente, o mundo as obriga a construir sua identidade racial, de uma forma ou de outra. No caso de Allan, ele incorporou em sua missão profissional fomentar a autoestima de crianças negras, por meio da arte. Professor da rede municipal do Rio de Janeiro, ele produz músicas infantis sobre a temática racial. Em vídeos virais, seus alunos da educação infantil cantam versos escritos pelo professor: "O meu cabelo é bem bonito, é black power e bem pretinho. Muitos formatos, vários cabelos. Não tenha medo, se olhe no espelho".

O trabalho que o professor executa em sala de aula impacta seus alunos, famílias e toda a comunidade escolar. As ações de um professor, dedicado e comprometido com sua missão, podem gerar mudanças no ambiente escolar e, se as boas práticas forem disseminadas adequadamente, os efeitos irão inspirar e reverberar para outros contextos.

A educação antirracista, contudo, segue sendo feita de casos isolados, apesar de crescentes tentativas de institucionalização da temática. A educação antirracista precisa chegar de forma consistente às escolas, via políticas públicas. As ações que já existem ainda são escassas para a magnitude do país e muitas sofrem com desafios na implementação.

Segundo pesquisa de opinião recente, intitulada "Percepções sobre o racismo no Brasil", 8 em cada 10 consideram o Brasil um país racista, e 7 afirmam que o tema mais importante a ser estudado dentro das escolas é o racismo. Os números chegam a ser surpreendentes, considerando a dificuldade que existe para que políticas antirracistas sejam aprovadas e implementadas.

A resistências às cotas raciais no ensino superior, por exemplo, apesar das inúmeros evidências de sucesso da política, dificulta o desenvolvimento de ações afirmativas na educação básica. Enquanto isso, alunos continuam dependendo de professores isolados para vivenciar uma educação antirracista.

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