Enem e Vestibular
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Por Arthur Leal — Rio de Janeiro

Com um esvaziamento gradual no número de inscritos há cinco anos, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vive, sobretudo desde o início do atual governo, um grande desafio de voltar a atrair o interesse dos estudantes. Se em 2016 o exame registrou a inscrição de 8,6 milhões jovens e adultos do país inteiro, este índice foi caindo nos anos seguintes e, em 2021, ano de pandemia em alta, o número já foi 64% abaixo – 3,1 milhões ao todo, o que representou o menor interesse em 17 anos, desde 2005 (pouco mais de 3 milhões de inscritos na época). O índice é inferior a antes até de o modelo atual ter sido implementado, em 2009, permitindo entrada na maioria das faculdades. O cenário pouco mudou na edição deste ano, com 3,4 milhões de inscritos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Anísio Teixeira (Inep), e apresenta-se como um dos principais desafios na Educação para a próxima gestão presidencial.

Para o professor e pesquisador Gregório Grisa, especialista na área da Educação, a crise econômica de 2015 e a pandemia, a partir de 2020, ajudam a explicar como esses números começaram a cair. No entanto, segundo ele, uma série de outros fatores políticos e socioeconômicos que vieram nos anos que se sucederam também têm contribuído com ainda mais força para um interesse tão abaixo da média entre os estudantes no exame que é a principal porta de entrada para o Ensino Superior no Brasil.

Para Grisa, os problemas passam por questões como a baixa perspectiva hoje da juventude em relação ao Ensino Superior, programas de financiamento defasados – segundo ele, o Fies precisa de uma reformulação e o Prouni conta com um alcance modesto –, e o fato de jovens em situações mais vulneráveis estarem ingressando no mercado informal de trabalho muito cedo.

– Vemos essa queda de inscritos no Enem desde a crise econômica que começou em 2015, e se intensificando na pandemia. Mas é sobretudo um fenômeno multicausal. Primeiro, eu diria que o perfil do nosso sistema de Ensino Superior, majoritariamente privado (76% das matrículas), é pouco atrativo para um volume muito grande da juventude que é de classe média-baixa e mais pobre, o que requer recursos, e ter a possibilidade remota de entrar nas instituições públicas faz com que os estudantes repensem essa possibilidade – introduz o pesquisador.

Segundo ele, o fenômeno dos “nem-nem” (jovens que nem estudam nem trabalham) no Brasil também ajuda a ilustrar o desinteresse da juventude em relação aos cursos de graduação. Ele analisa que há uma fragilidade política no acompanhamento educacional dos jovens, que tem feito com que a faculdade não seja vista mais como uma prioridade para muita gente.

– O Brasil tem uma proporção de nem-nem elevada em comparação com outros países do mundo. Tendo essa característica, você diagnostica um quadro onde o Ensino Superior não é uma prioridade vital de parte dessa juventude. Nós não temos um ecossistema de políticas de juventude robusto, como a questão de acompanhamento da continuidade dos estudos, conclusão do Ensino Médio e ida ao Ensino Superior. Hoje, se pegarmos a juventude até os 29 anos, temos aí quase 50 milhões de brasileiros. Não chega a 20% deles aqueles que estão acessando o Ensino Superior. Trata-se de um fomento que não é sistemático no país e ajuda explicar que, quando há fragilidade política, há fragilidade do ponto de vista da continuidade dos estudos, e por aí vai.

'Processo de deslegitimação'

O professor opina ainda que aconteceu, nos últimos anos, um forte movimento de deslegitimação das faculdades públicas encabeçado, sobretudo, pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), e apoiadores.

– Existe uma espécie de desvalorização cultural em alguns setores da sociedade em relação às universidades. Sobretudo, as públicas, que são as mais disputadas, mas vêm sofrendo esse processo de deslegitimar nos últimos anos, que envolve setores que ganharam muita força política. O Bolsonaro sempre tratou a universidade como uma inimiga. Sempre questionou muito tudo o que envolve a universidade pública, a ciência, o conhecimento. Chegou, inclusive, a retaliar em alguns momentos essas instituições. Então, podemos ver aí um caldo cultural muito ruim em toda essa conjuntura.

Por fim, ele cita, ainda, a falta de perspectiva de empregos no país como mais um fator desmotivante para a entrada dos estudantes no Ensino Superior.

– Temos um Brasil com um mercado de trabalho bastante precário, informal, onde estão se sobressaindo empregos razoavelmente simples. A própria estrutura econômica do país está ligada ao setor extrativista. São serviços que, em geral, não são complexos, o que faz com que o vislumbre de uma empregabilidade certa depois de 4 ou 5 anos de graduação seja baixo. Mesmo para uma classe média. Acho que este é um fator muito importante – acrescenta. – Ao mesmo tempo, temos também um ingresso muito precoce da juventude nesse mercado informal e precário. Na medida em que um jovem entra aos 17até 22 anos neste mercado, ele já está envolvido em algo pesado, desgastante, então já não vai mais prestar o Enem. Não vai se inscrever. Depois que passam alguns anos, ele dificilmente vai voltar a ter essa perspectiva ou alternativa do vestibular.

'Decréscimo preocupante'

A professora Hustana Vargas, da UFF, Coordenadora do Laboratório sobre Acesso e Permanência na Educação Superior, também analisa a queda na frequência de candidatos no Enem. Ela cita, sobretudo, os últimos três anos, quando o número caiu de cerca de 5 milhões para 3,4 milhões de estudantes inscritos.

– O Enem, desde 2009, vinha atraindo um número crescente de candidatos, mas o cenário mudou a partir de 2019. Vemos agora um decréscimo de candidatos inscritos, e também de presentes, o que é outro indicador importante. Nos últimos três anos, o decréscimo foi muito preocupante, também, entre estudantes PPI, ou seja, pretos, pardos e indígenas. Isso tudo nós sabemos que é decorrência da pandemia, mas também da falta de investimento, ou do que chamo de desinvestimento na Educação. Seja no Ensino Médio ou mesmo no Superior, onde não há assistência estudantil eficiente, o que poderia garantir o sonho dos alunos com um sistema de bolsa, auxílios etc. – opina.

Ela acrescenta que houve uma série de equívocos por parte do MEC durante a gestão atual, de Bolsonaro.

– Desde 2019, problemas em série ocorreram: divulgação incorreta de notas, mudanças sucessivas na gestão do Inep, baixíssimo índice de isenção nas instituições, suspeitas de controle ideológico nas provas, fora o abandono a que a maioria dos candidatos foi submetida na pandemia, pela ausência de uma coordenação central da educação nesse período. Uma irresponsabilidade criminosa com o futuro de milhões de estudantes – afirma a professora.

Instituições buscam alternativa ao Sisu

Hoje, de acordo com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), todas as universidades federais do país possuem entrada pelo Enem, o que reforça a importância do exame. Algumas, como são os casos Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal do Piauí (UFPI), decidiram por fazer a seleção desses estudantes através de sistemas próprios, fora do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação (MEC), utilizado pela maioria das instituições.

Decisão parecida foi tomada pela Universidade de São Paulo (USP), uma das principais do país. A reitoria explicou que a mudança, aprovada de forma unânime pelo conselho, tem como objetivo possibilitar que o estudante aprovado via Enem possa efetuar sua matrícula juntamente com o ingressante pela Fuvest, não dependendo do sistema e do calendário do Sisu.

– Vamos continuar utilizando o Enem, mas inserindo a nota em novo modelo que permitirá maior agilidade e abrangência no processo de chamada e de matrícula dos novos estudantes – explicou o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, em nota.

Hustana Vargas explica que, hoje, justamente por este descompasso no calendário causado pela demora na divulgação de resultados do Sisu, algumas instituições já começaram a caminhar por este caminho, de atribuir as notas do Enem a sistemas próprios, alternativos ao do MEC.

– Não existe Sisu sem Enem, mas existe o Enem sem Sisu. Às vezes há uma demora grande para o resultado da prova do Enem, uma demora maior ainda para o sistema do Sisu abrir e o calendário acadêmico vai correndo. Vira uma correria, um atropelamento, e muitas vezes as instituições já estão iniciando as aulas, enquanto o calendário do Sisu, aberto, vai mandando aluno para aqui, para lá, e fica um descompasso. Por isso, algumas instituições se retiram do Sisu. Instituições do Tocantins e Rondonia, por exemplo, que não estão no Sisu mais há algum tempo, podemos analisar com tranquilidade e clareza: se ficassem esperando candidatos do Sisu por outros estados iriam esperar muito e haveria chance grande desses candidatos não permanecerem, o que é muito grave, porque são vagas de excelência, gratuitas, que vão produzir uma diferença grande na vida daquele estudante, o que impacta diretamente, também, na sociedade para onde eles vão voltar.

O GLOBO pediu um posicionamento ao Ministério da Educação (MEC) e ao Inep, mas os órgãos não se manifestaram até o momento de publicação desta matéria.

Os números de inscritos nos últimos 17 anos, segundo dados extraídos do Inep:

  • 2022: 3.396.632 inscritos
  • 2021: 3.109.800 inscritos
  • 2020: 5.783.483 inscritos
  • 2019: 5.095.388 inscritos
  • 2018: 5.513.712 inscritos
  • 2017: 6.731.300 inscritos
  • 2016: 8.627.371 inscritos
  • 2015: 7.792.025 inscritos
  • 2014: 8.722.290 inscritos
  • 2013: 7.173.574 inscritos
  • 2012: 5.791.332 inscritos
  • 2011: 5.380.857 inscritos
  • 2010: 4.626.094 inscritos
  • 2009: 4.148.721 inscritos – início do modelo atual
  • 2008: 4.018.070 inscritos
  • 2007: 3.568.592 inscritos
  • 2006: 3.742.827 inscritos
  • 2005: 3.004.491 inscritos

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