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Enem: Entenda como novas datas podem aprofundar desigualdades educacionais

Muitas escolas não conseguiram dar prosseguimento às atividades de forma remota e terão pouco tempo para preparar os estudantes, explicam especialistas
Provas do Enem foram adiadas devido à pandemia do coronavírus Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Provas do Enem foram adiadas devido à pandemia do coronavírus Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO — Após o anúncio das novas datas para o Enem 2020 para 17 e 24 de janeiro de 2021, para a versão impressa, e 31 de janeiro e 7 de fevereiro, para a versão digital, professores e entidades estudantis alertaram que este calendário pode aprofundar as desigualdades educacionais já que muitos alunos não estão tendo aulas, enquanto outros estudantes mantiveram suas atividades remotamente.

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— Infelizmente, a pandemia não apenas expôs as dificuldades do estudante para estudar de modo remoto, como aprofundou as desigualdades nesse processo. Entendo que a nova data precisa ir ao encontro do calendário das universidades brasileiras, que já se encontra em atraso, no entanto, essa nova data irá favorecer muito mais aqueles que conseguiram, de alguma forma, dar continuidade aos estudos. É lamentável esta situação e, mais ainda, não ver do governo uma organização, uma logística, para reduzir esse problema — afirma a professora de Redação, Elaine Antunes, do curso Escreva, que manteve suas atividades remotamente.

O coordenador de Geografia do campus de São Cristóvão III do Colégio Pedro II, Faber Paganoto, acredita que as condições da pandemia criaram dois grandes grupos distintos se preparando para a prova.

— Temos dois grandes grupos de estudantes. O primeiro composto de estudantes das redes privadas que estão tendo aulas remotas. Para o segundo grupo, composto de alunos da rede pública, com acesso limitado às aulas remotas, a definição das novas datas deve representar motivo de ansiedade.

O professor Raphael Torres, do curso Redagir e do colégio Santo Agostinho, concorda que distorções serão ampliadas.

— A data potencializa a desigualdade de condições diante de um processo comprometido de aulas remotas a inúmeras camadas populacionais. Será um tempo substancialmente curto para recuperar conteúdos.

Paganoto lembra que muitas escolas não sabem quando voltarão:

— Sem previsão para o retorno das aulas, como se preparar para o exame? As desigualdades do ensino no Brasil são imensas e o cenário atual só vai aprofundar o quadro.

Entidades estudantis criticam

Em nota, representações de estudantes, criticaram a nova data.

“A escolha feita demonstra que não existe um diálogo verdadeiramente democrático com os estudantes, profissionais da educação e saúde”, informam a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e Associação Nacional dos Pós-graduandos.

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As entidades ainda lembraram sobre a atual situação do MEC, que segue sem um ministro titular.

“Enquanto estudantes brasileiros continuam aflitos, o Ministério da Educação permanece sem ministro, o que nos preocupa ainda mais sobre a decisão das datas. Para que possamos superar a pandemia causada pelo novo coronavírus, a educação precisa estar no debate central. É dela que saem as pesquisas e é por meio dela que transformamos vidas”, escreveram as entidades.