Educação

Por Luna Markman, TV Globo


Reportagem especial fala sobre pressão enfrentada por estudantes para o Enem

Reportagem especial fala sobre pressão enfrentada por estudantes para o Enem

Uma das maiores fontes de pressão para estudantes do ensino médio é se preparar para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele garante o ingresso em universidades públicas e particulares em todo o país. Para educadores, no entanto, ainda há uma distância entre o ensino das escolas e as competências demandadas na prova (veja vídeo acima).

A primeira etapa do Enem ocorre neste domingo (13). A segunda será no dia 20 de novembro. Em Pernambuco, 184.860 jovens farão o exame, na versão impressa, e 1.977, na digital.

(Até a sexta-feira, 11, o g1, o Bom Dia PE, o NE1 e o NE2 trazem reportagens com reflexões sobre a educação. Confira, mais abaixo, links das outras matérias.)

Para o educador Diogo Lobo, o Enem avançou, mas as escolas não se adaptaram ao modelo. Para ele, um dos problemas é que os professores não foram capacitados para dar aula nesse modelo atual.

"A gente vai ter incoerência entre o que prova exige e o que se continua ensinando na maioria das escolas. É como se a prova viesse nesse avanço e as escolas continuaram da mesma forma", diz.

Segundo o educador, a solução para esse descompasso poderia estar nas instituições de ensino. Ele defende que as faculdades voltem a ter um sistema de avaliação mais objetivo e conteudista ou as escolas deem um "salto" para buscar um ensino mais contextualizado.

Até 2024, o Enem deve mudar para atender ao novo ensino médio, formulado para aprofundar a aprendizagem relacionada a competências e habilidades.

Enquanto nada muda, os alunos enfrentam a pressão. Para se sair bem, a preparação recebida no colégio é fundamental. "A gente tem vários aulões, a escola proporciona isso pra gente", diz Heloisa Freitas, de 18 anos.

Segundo Pedro Guedes, aluno de ensino médio, as provas elaboradas pela escola são no formato do Enem ou do Sistema Seriado de Avaliação (SSA) da Universidade de Pernambuco (UPE).

Para Arthur Figueirôa, de 16 anos, o modelo do exame induz o aluno a pensar muito. "E a pensar criticamente. Porque não precisa somente de conteúdo tal, mas também análise crítica, realmente, e interpretação de texto", explica.

Ao mesmo tempo, os alunos também enfrentam muita pressão nessa preparação. "A gente abre mão da vida social, a gente estuda, a gente não tem aquele tempo como tinha antes de sair", afirma Lucas Gabriel Santana.

De acordo com a estudante Thais Zloccowick, o Enem é uma tema que começa a ser trabalhado com os estudantes desde o nono ano do ensino fundamental.

A jovem Sofia Alcantara, de 18 anos, ressalta ainda o estudo além da escola. "Eu faço curso preparatório pro Enem, de redação, linguagens, e outro de matemática", explicou.

Origem

O Enem foi criado em 1998 para avaliar o desempenho escolar dos estudantes. Era um dia de prova, com 63 questões. E a redação não era obrigatória. Os estudantes precisavam dominar interpretação de texto e cálculos essenciais.

Na época, cada universidade fazia o próprio vestibular e divulgava o listão dos aprovados. Mas, em 2009, o exame mudou para o formato atual e virou o principal meio de acesso à educação superior.

Agora, são dois dias de provas, com 180 questões divididas por quatro áreas de conhecimento. A redação passou a ser obrigatória.

O novo Enem criou uma lista de conteúdos exigidos nas provas, e as perguntas avaliam a proficiência dos estudantes.

Preparação

Alunos se preparam para o Enem — Foto: Reprodução/TV Globo

O professor de biologia Fernando Beltrão exemplifica como os conteúdos podem ser trabalhados com os estudantes.

"Em relação ao sistema circulatório humano, eu posso dizer, num nível bem simples, quando uma criança pequenininha leva um corte e o sangue tá saindo, que o sangue anda no seu corpo para levar a comida que você comeu e o ar que você respirou", explica o professor.

Segundo Beltrão, essa é uma forma bem básica de compreender uma proficiência. "E eu posso ir subindo de nível para dizer as cavidades do coração, explicar uma doença do coração, a prevenção da doença do coração, e uma política de saúde pública pra prevenir doença do coração", cita.

Atualmente, qualquer pessoa que já concluiu ou está concluindo o ensino médio pode fazer o Enem. Seja para tentar uma vaga na universidade ou só para treinar e pra avaliar os conhecimentos. Muitos apostam em cursinhos pra se preparar melhor pras provas.

Vinícius Rocha da Silva, de 18 anos, está no final do ensino médio e faz cursinho pré-vestibular. "De manhã eu tenho o colégio. À tarde, venho aqui. E a noite, separo uma, duas horas pra estudar", detalha.

Não é só a rotina dos estudantes que é corrida. A prova também é. "Quando começa a fazer, por mais que sejam três minutos de tempo para cada questão, é muito puxado pros alunos", alerta o professor de biologia Carlos Cabral.

A estudante Gabriela Lopés, de 19 anos, lembra que os jovens não dedicam apenas um ano de estudo ao Enem.

"É literalmente desde que a gente começa o sexto ano da escola, os nossos pais já vem com cobranças. A sociedade cobra que a gente passe de primeira. E também tem a questão psicológica do aluno", ela lista.

Segundo Gabriela, o nervosismo só atrapalha o aluno e pode até fazê-lo esquecer determinados conteúdos na hora da prova.

Outros caminhos

Aula de preparação para o Enem — Foto: Reprodução/TV Globo

O educador Diogo Lobo dá dicas para os jovens enfrentarem essa pressão na prova. "Existem várias práticas. Seja uma meditação, seja você ter uma prática diária de fazer exercício físico. Algo que permita você fazer uma coisa de cada vez", ele exemplifica.

Além disso, apesar de toda pressão por uma boa nota, é preciso ter em mente que há outros caminhos possíveis. É o caso da estudante Sofia Menezes, que não vê o Enem como seu objetivo principal.

"Eu pretendo fazer faculdade fora. Mas tem vários outros caminhos. E até empreendedorismo está muito em alta. Muitas vezes um curso superior é muito benéfico pro sucesso profissional e econômico, mas não é obrigatório", afirma.

O professor Fernando Beltrão concorda. "Nem mesmo terminar o curso superior é garantia de um bom futuro. A garantia de um bom futuro é o indivíduo preservar desde cedo três coisas: tem que ser feliz, tem que ter saúde e tem que ser honesto", diz.

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