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O Enem, mais uma vez, mobilizou ontem milhões de jovens. Neste ano, foram 3,9 milhões de inscrições. Quando este número foi divulgado em junho, o MEC celebrou um aumento de 14% na comparação com os 3,4 milhões (menor patamar da série histórica iniciada em 2007) de dois anos antes. Foi um movimento positivo, mas, ainda assim, muito distante do pico de 8,7 milhões de inscritos em 2014.

Uma série de fatores explicam essa queda, que começou a ocorrer de forma vertiginosa a partir de 2016, e que foi agravada pela crise econômica e pela pandemia. Há espaço para ampliar ainda mais o número de concluintes do ensino médio realizando a prova, mas é irrealista esperar que, nos moldes atuais, o exame volte ao patamar de meados da década passada.

Em 2022, menos da metade (48%) dos concluintes do ensino médio se inscreveram no Enem, de acordo com o Inep. Essa média nacional, porém, esconde enormes disparidades regionais. O Ceará, por exemplo, é o recordista nacional, com 83% de inscritos. No outro extremo, o pior índice vem também do Nordeste: a Bahia, com apenas 32%. O segundo melhor resultado é de Goiás (77%). Em contraponto, Mato Grosso, estado vizinho, tem apenas 48%. A terceira maior proporção é do Espírito Santo (66%), que supera em muito São Paulo (40%), Minas (41%) e o Rio (46%), todos do Sudeste.

O que explica discrepâncias tão grandes, mesmo quando são comparados estados próximos? A resposta está na intencionalidade da política pública. O exemplo mais bem-sucedido, e que inspirou outras redes estaduais, vem do Ceará. A ampliação do percentual dos inscritos é uma meta monitorada e incentivada pelo governo em cada escola. Além da preparação para o exame, há várias ações de orientação e estímulo para que alunos se inscrevam. Há também apoio, que vai desde o momento da inscrição até alimentação e transporte no dia da prova.

Ampliar o percentual de concluintes inscritos nacionalmente é, portanto, uma meta viável no curto prazo se houver esforço semelhante em todas as unidades da federação. Isso, no entanto, não fará com que voltemos ao patamar de quase 9 milhões de inscrições, até porque o número de formados no ensino médio anualmente está há pelos menos dez anos estabilizado ao redor de 2,2 milhões.

A maior parte dos inscritos no Enem, portanto, é de candidatos que já não estavam mais matriculados no ensino médio. Como lembrou recentemente o pesquisador João Vianney, a principal razão para a queda abrupta no número de inscritos a partir de 2016 foi que o Enem deixou de ser utilizado como comprovante de certificação do ensino médio, função hoje abrigada em outro exame do MEC: o Enceja.

A mais estrutural das políticas públicas para democratizar o ensino superior é fazer com que um número maior de jovens termine o ensino médio com qualidade. No entanto, mesmo sabendo que não voltaremos a patamares antigos de inscrição no Enem, há espaço para outras estratégias, viáveis no curto prazo, e que aumentem as chances daqueles que mais precisam.

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