O primeiro dia de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se tornou uma nova trincheira entre deputados da oposição e o governo Lula (PT). Isto porque algumas das questões da prova desagradaram os parlamentares, que alegam "viés ideológico" na elaboração dos textos. A crise resultou em uma resposta política: até a manhã desta terça-feira, 11 requerimentos, assinados por 26 deputados, pedem a ida do ministro da Educação, Camilo Santana, à Câmara.
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Nas solicitações de convocação o argumento mais utilizado pela oposição se refere a três questões sobre o agronegócio. A que gerou a maior reação trazia um texto sobre a realidade do Cerrado. De acordo com o extrato que foi retirado de uma revista, o conhecimento local na região estaria cada vez mais "subordinado à lógica do agronegócio". "De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como um mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias e, de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado", diz o trecho.
Descontentes, os deputados querem esclarecimentos de Santana sobre as referências bibliográficas utilizados nas questões, além de uma possível "politização da prova" e "discriminação do setor agropecuário". Em nota ao GLOBO, o Ministério da Educação afirmou que as questões do Enem são elaboradas por professores independentes e selecionadas por meio de edital de chamada pública para colaboradores do Banco Nacional de Itens (BNI). Os itens alvos de crítica passaram pelo fluxo estabelecido nas normativas do BNI.
Este esclarecimento, contudo, não serviu para apaziguar as críticas dos parlamentares. Além das referências, os deputados solicitam que "critérios científicos" foram utilizados para embasar cada um dos enunciados.
"É crucial considerar que o debate em torno do agronegócio não deve ser limitado a visões negativas. Este setor desempenha um papel essencial na economia, na segurança alimentar e no desenvolvimento sustentável do Brasil. Dessa forma, solicite-se respeitosamente o comparecimento da Vossa Excelência", justifica o presidente da bancada ruralista, Pedro Lupion (PP-PR) em um dos requerimentos.
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Além do agronegócio, há pedidos de esclarecimento sobre outras questões da prova. Evair de Melo (PP-ES), por exemplo, ressalta elogios ao escritor Paulo Freire e críticas ao capitalismo como problemáticas no exame.
Neste domingo, estudantes de todo o país realizaram o primeiro dia de provas do ENEM. No próximo dia 12, ocorre a aplicação da segunda parte do exame, os candidatos devem completar os cadernos de matemática e ciências da natureza. Os portões fecham às 13h e a aplicação começa às 13h30.
Veja lista de signatários:
- Dep. Capitão Alberto Neto (PL/AM)
- Delegado Paulo Bilynskyj (PL/SP)
- Zucco (REPUBLIC/RS)
- Abilio Brunini (PL/MT)
- Nikolas Ferreira (PL/MG)
- Carla Zambelli (PL/SP)
- Sargento Gonçalves (PL/RN)
- Pedro Lupion (PP/PR)
- Adriana Ventura (NOVO/SP)
- Marcel van Hattem (NOVO/RS)
- Gilson Marques (NOVO/SC)
- Coronel Fernanda (PL/MT)
- Capitão Alden (PL/BA)
- Gustavo Gayer (PL/GO)
- Marcos Pollon (PL/MS)
- Evair Vieira de Melo (PP/ES)
- Daniela Reinehr (PL/SC)
- Messias Donato (REPUBLIC/ES)
- Pezenti (MDB/SC)
- Filipe Barros (PL/PR)
- Alberto Fraga (PL/DF)
- Rodolfo Nogueira (PL/MS)
- Julia Zanatta (PL/SC)
- Zé Trovão (PL/SC)
- Junio Amaral (PL/MG)
- Eduardo Bolsonaro (PL/SP)