Iago Montalvão

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É estudante de Economia da USP e presidente da União Nacional dos Estudantes.

Opinião

Enem 2020 e o desastre no MEC

Medidas urgentes são necessárias, mas que certamente não serão tomadas por boa vontade do governo Bolsonaro

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
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*Com Rozana Barroso, estudante de cursinho pré-vestibular e presidenta da UBES ( União Brasileira dos Estudantes Secundaristas).


O adiamento do ENEM era algo óbvio para qualquer cidadão minimamente sensibilizado com a realidade da desigualdade social no nosso país, mas não foi para Abraham Weintraub.

Isso demandou dos estudantes e das entidades representativas um enorme gasto de energia que poderia ser despendida em ações para redução de impactos da pandemia na educação, por exemplo. Mas não podemos deixar de destacar a importância e exatidão dessa luta, afinal, por negligência do MEC, milhões de estudantes das escolas públicas poderiam ficar prejudicados por não conseguirem se preparar adequadamente para o ENEM.

Ainda assim, embora não seja algo tão óbvio nos tempos atuais, o bom senso prevaleceu, ao menos momentaneamente, com uma derrota humilhante para o governo por 75 a 1 no Senado Federal, que votou pelo adiamento do ENEM. Mas com a capacidade de criar subterfúgios para dificultar decisões que beneficiem os estudantes, o MEC logo se eximiu de responsabilidade propondo uma consulta aos inscritos no ENEM sobre as possíveis novas datas das provas.

Inicialmente, a proposta do governo era de que o adiamento ocorresse para 30 a 60 dias a partir das datas anteriormente estabelecidas no edital, mas na última semana o INEP divulgou ainda, além das anteriores, uma opção de adiamento por 180 dias. Com esse movimento, o MEC, ao se isentar da decisão do adiamento, joga uma imensa responsabilidade nas mãos dos estudantes, que, como se já não bastasse toda a tensão de se prepararem para um dos momentos mais decisivos de suas vidas, terão ainda que opinar sobre o futuro de milhões de outros colegas sem que haja sequer um debate sério sobre o tema.

Os prazos de adiamento propostos pelo MEC não acompanham sequer um critério que os justifiquem. De onde “sacaram” essas datas, se nem sequer as atividades nas escolas foram retomadas? Com que especialistas ou representantes esses prazos foram discutidos se não há nem sequer previsão para o encerramento do ano letivo? E sob uma máscara de falsa sensação de democracia e sem um debate qualificado, eles simplesmente lavam as mãos sobre o nosso futuro.

 

Dentre essas três datas acreditamos que a opção de 180 dias tem maior aproximação com a necessidade real, mas temos buscado dialogar com os estudantes e também com Secretários de Educação, reitores, parlamentares, professores e pesquisadores para, conjuntamente, apresentar propostas mais bem elaboradas sobre qual prazo necessário de adiamento das provas do ENEM. Essa decisão precisa ser tomada com embasamento, reunindo todos esses setores, que, além disso, precisam também elaborar medidas emergenciais para reduzir os impactos da pandemia, sobretudo para os jovens mais pobres, que nesse momento precisam de acesso à internet, a equipamentos tecnológicos e livros.

O MEC continua sem ministro! Em seu lugar estava uma âncora que afunda a educação para a crise e o retrocesso, enquanto priorizava uma militância de extrema-direita. Foi enxotado do Ministério justamente pela quantidade de derrotas que acumulou, muitas delas foram fruto da luta dos estudantes, e da sua audácia ao atacar a democracia e a constituição. Medidas urgentes são necessárias, mas que certamente não serão tomadas por boa vontade do governo Bolsonaro, por isso precisamos cobrar um debate urgente e profundo sobre quais caminhos adotar para adiar o ENEM e para socorrer os estudantes que não estão conseguindo estudar.

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