Enem 2020

Por Elida Oliveira, G1


O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020 será marcado pela preparação dos alunos em meio à pandemia. A suspensão das aulas presenciais para conter o avanço dos casos exigiu ainda mais autonomia, organização e foco para o estudo on-line.

O G1 ouviu 5 estudantes das 5 regiões do país para saber como foi a preparação em um ano atípico, com desigualdade no acesso às plataformas de ensino e distância de colegas e professores.

Enem 2020, inscritos por região
Total de candidatos confirmados nas provas impressa e digital.
Fonte: Inep

Nesta edição, 5.783.357 candidatos estão confirmados para fazerem o Enem – o número é 13,5% maior do que a edição de 2019, que teve o menor número de candidatos em toda a história.

Confira abaixo a experiência de estudantes do Centro-Oeste, Norte, Nordeste, Sul e Sudeste:

Centro-Oeste: ex-atleta enfrenta pressão por bons resultados

Julia Pires, 17 anos, é ex-jogadora de vôlei e se prepara para o Enem 2020: aprender a lidar com a pressão no esporte não tira o nervosismo da prova. — Foto: Arquivo Pessoal

Julia Pires tem 17 anos e está acostumada com a pressão no esporte. Jogadora de vôlei no Colégio Isaac Newton, em Cuiabá (MT), ela acumula medalhas e troféus dos campeonatos brasileiros conquistados com o time.

Mas, quando o assunto é o Enem, Julia enfrenta a mesma pressão que tantos outros estudantes. Saber lidar com a pressão do esporte não torna o Enem mais fácil para ela. O objetivo, diz Julia, é conseguir a melhor nota possível para disputar uma vaga em Relações Internacionais na Universidade de São Paulo (USP) pelo Sistema de Seleção Unificado (Sisu). Se não der, vai tentar medicina ou direito na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Só que Julia ainda tem que se formar no ensino médio. Em meio aos preparativos para o Enem, precisa estudar para as provas e passar de ano.

Veja informações sobre o Enem em 90 segundos

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Assim como ela, outros 1,3 milhão de candidatos ao Enem 2020 também estão no último ano do ensino médio e precisam concluir os estudos no ano em que as escolas foram fechadas em todo o país. Parte do conteúdo que poderá cair no Enem ela só aprendeu durante a pandemia, pelas aulas virtuais.

Sem cursinho preparatório, Julia se dedica às pesquisas pela internet para tirar dúvidas, fazer simulados, provas antigas e se preparar um pouco mais para o exame.

"Não fiz cursinho, só as provas antigas do Enem mesmo. Eu baixei as edições anteriores e fui resolvendo todos os sábados. Todos os dias, vejo as aulas regulares do colégio de manhã e, à tarde, resolvo a apostila que foi elaborada pela escola. À noite, assisto aulas no YouTube das matérias que eu considero mais importantes, como matemática e redação", afirma.

A insegurança da adolescência se somou ao "novo normal" da pandemia. "Eu me sinto nervosa. Desde o início, por causa dos resultados na escola, eu acho que as pessoas me superestimam. Eu me esforço, mas sempre penso na possibilidade de não conseguir passar na primeira tentativa, o que me deixa ansiosa e meio insegura. Eu tento ser positiva sobre não passar de primeira, mas não quero falhar", afirma.

Quais foram as estratégias dela:

  • Equilibrar estudos e lazer: "Eu pensei que se só estudasse o dia inteiro seria o grande fator decisivo sobre passar ou não, porém, com isso deixei de lado coisas importantíssimas como o tempo com a família e os amigos. Ter disciplina sem saúde mental, acredito que não é o caminho certo", afirma Julia.
  • Simulados: "Faço diariamente questões e simulados para avaliar meu nível de conhecimento e descobrir os assuntos que preciso aprofundar porque ainda não os domino", conta.
  • Aprofundar matemática e redação: para Julia, se sair bem nestas provas é importante para aumentar a média geral e concorrer a vagas específicas, que no Sisu podem ter "pesos" diferentes para cada área.

Norte: após se formar no ensino médio, ele estuda sozinho

José Vitor Souza da Rocha, 18 anos, candidato inscrito para fazer o Enem na região Norte: já formado no ensino médio, sem professores para tirar dúvidas, teve que estudar sozinho pela internet. — Foto: Arquivo Pessoal

A maior parte (65,6%) dos candidatos inscritos no Enem 2020 já concluiu o ensino médio.

Mas já saber o conteúdo do que será cobrado não torna a prova mais fácil, especialmente em ano de pandemia, afirma José Vitor Souza da Rocha, de 18 anos.

"A maior dificuldade que encontrei é que, quando você está na escola, sempre tem um professor que ajuda, que é mais experiente, já fez a prova e consegue explicar. Depois que você termina o ensino médio, acaba esse suporte", afirma Rocha, que encarou a preparação sozinho para a prova.

Ele se formou no Colégio Estadual Barão do Rio Branco, na capital do Acre, em 2019. O planejamento para 2020 já incluía o estudo solo, mas o isolamento da pandemia exigiu maior planejamento e disciplina, afirma.

Ele estuda 4h por dia, sendo 2h pela manhã e outras 2h de tarde. Assim, conta, consegue manter o foco e assimilar o conteúdo, antes de cansar. Para ele, o diferencial na hora da prova será manter a calma e o autocontrole – até para conseguir se concentrar por 5h com a máscara de proteção no rosto.

Estratégias dele:

  • Usar provas de anos anteriores do Enem para estudar
  • Pesquisar assuntos que mais caem, e a forma como o conteúdo é cobrado.
  • Baixar app com provas: "Baixei um app com todas as provas e fico fazendo, treinando para terminá-las no tempo certo", afirma.

Nordeste: ela pegou Covid e perdeu 3 semanas de estudos

Enem 2020: sintomas de Covid atrapalham estudos de Julia Dhalia, 19 anos, no Recife (PE). — Foto: Arquivo Pessoal

As dificuldades dos estudantes em ano de pandemia são inúmeras e, além das aulas a distância, muitos também tiveram que enfrentar a Covid.

Julia Dhalia, 19 anos, foi uma das pessoas que tiveram coronavírus em outubro, no Recife. Os sintomas da doença, como cansaço e moleza, atrapalharam a preparação para o Enem 2020.

"A Covid me tirou em torno de 3 semanas de estudos. Não conseguia ter um horário perfeito, cada dia acordava em uma hora, foi bem frustrante. Isso de não conseguir estudar, ficar cansada, me irritou muito porque estava isolada no quarto e não conseguia fazer o básico"

Os sintomas passaram, e Julia voltou aos estudos. Ela está matriculada em dois cursos preparatórios para o vestibular, ambos com aulas on-line, embora algumas escolas já estejam reabrindo em Pernambuco.

"Este ano me fez aprender a fazer as coisas sozinha, por conta própria. Eu comecei a estipular meu horário, a ver as aulas que precisava", conta.

Ela conta que aprendeu a ter mais autonomia, e que agora assiste a aulas até de professores que não conhece. São as buscas por temas e dúvidas na internet que a levam para outros canais de vídeo-aulas.

"Tive a oportunidade de ter aulas de outros cursos, que nunca teria. Comecei a ver aulas de professores que nunca tinha assistido aula, vi debates para redação, aulas no Rio, SP", conta a aluna.

Estratégias dela:

  • Não deixar a pandemia te afetar: "Sua vida não está pausada nem atrasada. Está acontecendo."
  • Tentar dar o melhor de você: "O Enem é uma prova, mas não representa o que você é."
  • Buscar apoio da família
  • Exercícios físicos
  • Ter um hobby: "Eu me descobri com a pintura nesta quarentena", conta.

Sudeste: ele teve que se adaptar ao on-line e viu formatura ser cancelada

Vitor Hugo Rodrigues, 17 anos, fará Enem em 2020 com a sensação de que não aprendeu tudo que deveria: — Foto: Arquivo Pessoal

Vitor Hugo Rodrigues, de 17 anos, fará o Enem 2020 com a sensação de que não aprendeu 100% do que deveria saber para a prova. A adaptação das aulas remotas foi difícil para ele, apesar do acesso ao computador e de contratar internet com mais dados.

Na escola, os conteúdos aprendidos a distância pareciam ser mais volumosos do que se estivesse em uma sala de aula. No cursinho, só deu tempo de ir a uma aula presencial e, logo as demais foram dadas a distância. "Fiquei com uma mão na frente e outra atrás", conta.

"Muita gente achou que era mais do que seria passado ao vivo. Era conteúdo todo dia, professores colocando atividades das 7h às 12h na plataforma. Colocavam texto explicando, vídeos, se esforçaram para se adaptar, mas mesmo assim era difícil", afirma.

Vitor fez o terceiro ano do ensino médio em um Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) de Belford Roxo, no Rio de Janeiro, e preparatório na rede Emancipa, de cursinhos populares.

Em meio à preparação para o Enem, Vitor lidou com a incerteza sobre a festa de formatura do ensino médio. Até setembro, a turma ainda achava que a pandemia iria diminuir e seria possível fazer a festa no fim do ano. Não aconteceu. Vão terminar o ensino médio sem comemoração, mas planejam uma foto de beca, sob os devidos cuidados.

Agora, o sonho é entrar em medicina veterinária na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

"Considero que vou terminar ensino médio não sabendo 100% dos assuntos que era para eu saber. Vou fazer Enem confiando em Deus. É muito angustiante", afirma.

Na reta final do ano, Vitor voltou a trabalhar no restaurante da família, para ajudar nas entregas de comidas na hora do almoço. Agora, o horário para estudos é dividido também com o retorno ao trabalho.

Estratégias dele:

  • Procure videoaulas sobre os temas que quer aprofundar
  • Faça resumo de textos para compreender e fixar melhor os assuntos

Sul: ele teve que levar o trabalho junto

Gabriel Hungaro Freitas, 19 anos, faz cursinho pré-vestibular voltado a alunos de alto desempenho e se diz ‘tranquilo’ para o Enem 2020 — Foto: Arquivo Pessoal

No RS, Gabriel Húngaro Freitas, 19 anos, está fazendo cursinho on-line, já que a pandemia ainda não permitiu a reabertura das salas de aulas em Porto Alegre.

Para ele, o isolamento exigiu que ele se organizasse mais para estudar para o Enem, já que precisa conciliar os horários de estudos com o de trabalho de meio período como assistente administrativo.

O cursinho no qual está matriculado tem aulas de manhã e à tarde. "De manhã, eu vejo ao vivo. As aulas da tarde, eu vejo à noite", conta. Para ajudar na organização, Freitas montou um quadro com o cronograma das tarefas, para anotar o que precisa fazer.

"Anoto as matérias que quero na ordem que pretendo fazer e assim organizo meu tempo. Durante a semana, deixo 1 hora ou 2 horas para fazer exercícios e testes, todos os dias e, no final de semana, tento fazer mais", afirma.

Estratégias dele:

  • Refazer provas antigas do Enem para conhecer o estilo do exame
  • Dedicar um tempo para os exercícios físicos que, para ele, ajudam na concentração e o tiram de frente do computador por alguns momentos.

Playlist: Enem 2020

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