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Enem 2017 registra aumento de redações com nota ‘zero’

Provas com nota ‘mil’ diminuíram: foram 53, contra 77 na edição de 2016; apenas 205 pessoas desrespeitaram os direitos humanos

BRASÍLIA — O Ministério da Educação divulgou na manhã desta quinta-feira as notas do Enem 2017 (Exame Nacional do Ensino Médio). Houve um aumento significativo de redações notas zero na última edição, quando comparada à de 2016.

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Com 4.725.330 provas corrigidas no Enem 2017, foram registradas 309.157 notas zero e apenas 53 redações notas mil. Na edição anterior, foram 291.806 notas zero e 77 notas mil, num universo de 6.034.672 provas corrigidas.

Para a presidente do Inep, Maria Inês Fini, os índices são de difícil comparação porque as populações que fazem o exame são diferentes, mudam de ano a ano.

Resultado da redação do Enem 2017
Quantidade de redações corrigidas
6.034.672
4.725.330
2016
2017
Quantidade de participantes com redações nota zero
6,5%
2016
291.806
das redações receberam nota zero
2017
309.157
Os motivos foram:
5,01%
0,8%
0,33%
0,17%
0,11%
0,09%
0,03%
Fuga
ao tema
Prova em
branco
Texto
insuficiente
Parte
desconectada
Não atendeu
ao tipo
textual
Cópia do
texto
motivador
Outros
motivos
Quantidade de participantes com redação nota mil
77
2016
2017
53
Notas médias
Dos participantes em geral
dos surdos que optaram por videoprova em Libras
dos surdos que optaram por intérprete de Libras
Não
teve
541,9
558
367,4
345,4
369,1
2016
2017
2016
2017
2016
2017
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
Resultado da redação do Enem 2017
Quantidade de redações corrigidas
6.034.672
4.725.330
2016
2017
Quantidade de participantes com redações nota zero
2016
291.806
2017
309.157
6,5%
das redações receberam nota zero
Os motivos foram:
Em %
5,01
0,8
0,33
0,17
0,11
0,09
0,03
Quantidade de participantes com redação nota mil
77
2016
2017
53
Notas médias
Dos participantes em geral
541,9
558
2016
2017
dos surdos que optaram por videoprova em Libras
367,4
Não teve
2016
2017
dos surdos que optaram por intérprete de Libras
345,4
369,1
2016
2017
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)

205 candidatos desrespeitaram Direitos Humanos

O Enem 2017 foi marcado por uma decisão judicial que, a poucos dias da aplicação da prova, acatou um pedido do movimento Escola Sem Partido proibindo que redações que desrespeitassem os direitos humanos fossem zeradas , como previa o edital. Segundo o MEC, 205 candidatos perderam pontos por esse motivo, mas não foram zerados.

— A correção da 5ª competência (que tira pontuação nesses casos) foi normal, não houve drama. A quantidade de candidatos que infringiram essa regra foi ínfimo, perto do total de pessoas que fizeram a prova — afirmou Maria Inês. — A decisão do ministro Mendonça Filho de não recorrer da decisão do Supremo Tribunal Federal foi importante para não criar nenhum tipo de movimentação entre os estudantes. Não recorremos e não vamos recorrer no futuro.

Para André Ferreira, diretor pedagógico do Colégio Alfa Cem Bilingue, um dos motivos que podem ter contribuído para o aumento de notas zero é a precisão exigida pelo tema, "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil", abordando a inclusão de uma deficiência específica em uma instituição também muito específica.

— Se fosse para abordar a inclusão de pessoas com deficiência na cidade, por exemplo, seria um ótimo tema e menos restritivo. Em geral, os candidatos são jovens ainda, estão formando e construindo seus repertórios. Quando se estabelece filtros muito estreitos, pode haver um número maior de jovens se distanciado da nota mil e se aproximando da zero — observa André, que acredita que os que conseguiram nota mil constituem um "pequeno núcleo" que encontrou argumentos baseados em experiências não só escolares, mas familiares, sociais e culturais.

Motivos que levaram a notas zero

Considerando apenas os números absolutos, o volume de redações zeradas aumentou 5,94% em relação ao exame de 2016. O percentual em relação ao total é de 6,5%. Segundo o MEC, os motivos foram: fuga ao tema (5,01%), prova em branco (0,80%), texto insuficiente (0,33%), parte desconectada (0,17%), não atendimento ao tipo textual (0,11%), cópia do texto motivador (0,09%) e outros motivos (0,03%).

Para o educador Marco Laurindo, professor de Linguagens dos cursos Sabin Med Isoladas e Linguagens Mais, o fato de a maior parte dos candidatos que zeraram a redação terem fugido do tema era esperado.

— Esse era mesmo o que eu acreditava que seria o principal motivo de nota zero. E isso aconteceu porque o tema da redação (Desafios para a educação de surdos) abria a possibilidade para os alunos falassem de outros assuntos. Quem não estava tão bem preparado, facilmente caía na tentação de tangenciar o tema, sem de fato abordá-lo — analisa ele.

Mas a proficiência média dos participantes nessa prova aumentou, de 541,9 no concurso de 2016 para 558 ano passado. Entre os participantes concluintes a média foi de 560,6; entre os egressos, 556,9; e entre os treineiros a nota média foi de 570,6. Entre os privados de liberdade, a média foi de 423.

— Conversando com os candidatos, percebemos que houve uma manutenção do modelo da prova. Nas últimas oito edições, já no intuito de unificar vestibulares, o modelo do exame variou bastante. Mas, nas últimas três, tivemos  um modelo mais estável e semelhante. Isso ajuda o aluno a organizar sua estratégia de estudo — aponta André Ferreira.

Prejuízo de R$152,2 milhões

Entre os participantes com deficiência auditiva, tema da redação, os que optaram por videoprova traduzida em Libras tiveram nota média na redação de 367,4. Entre os que optaram por intérprete, a média foi de 369,1.

Os dados gerais apontam uma abstenção de 29,9% no Enem 2017. Somente entre os participantes que tiveram isenção da taxa de inscrição, 35,7% não compareceram a nenhum dia da prova. Eles representam 1,6 milhão candidatos. A ausência desse grupo acarretou num prejuízo de cerca de R$ 152,2 milhões aos cofres públicos, gastos com impressão e envio dos exames, contratação de fiscais, entre outros custos, segundo dados do Inep.

Esses candidatos terão de 2 a 11 de abril deste ano para justificar a ausência no Enem 2017 caso queiram obter isenção da taxa de inscrição novamente no exame de 2018. Quem não apresentar justificativa plausível perderá o direito à gratuidade. O edital do Enem deste ano será divulgado em 21 de março pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, que já estará prestes a deixar a pasta porque vai concorrer a um cargo nas eleições, conforme determina a lei.