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Brasil Educação Enem e vestibular

Enem 2017: leia uma redação que tirou nota 1000

Candidata carioca que alcançou o grau máximo na prova pretende cursar Matemática
Estudante treinando para a redação do Enem Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Estudante treinando para a redação do Enem Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO - Apenas 53 estudantes conseguiram tirar a nota máxima na redação do Enem 2017, em meio a quase 5 milhões de candidatos. Candidata a uma vaga em Matemática, Maria Clara Delmas Campos, de 18 anos, aluna do Santo Agostinho, unidade Barra, do Rio de Janeiro, está nesse grupo.

Leia mais: Veja redações que alcançaram notas acima de 950 no Enem 2017

Ao que tudo indica, a correção da prova deste ano foi mais rigorosa que nas edições anteriores. As notas divulgadas na quinta-feira pelo Ministério da Educação (MEC) revelaram que, além de um número menor de redações "nota 1000", houve mais "notas zero": 309.157 em 2017, contra 291.806 em 2016.

Para muitos, o tema da redação, "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil", pode ter sido o motivo. Considerado um dos mais difíceis dos últimos anos, ele exigia um repertório que muitos estudantes, por serem jovens, ainda não têm, dizem educadores.

Leia a redação de Maria Clara Delmas Campos:

A formação educacional de surdos representa um desafio para uma sociedade alienada e segregacionista como a brasileira. O desconhecimento da língua brasileira de sinais — LIBRAS — e a visão inferiorizante que se tem dos surdos podem acabar por excluí-los de processos educacionais e culturais e mantê-los marginalizados em relação ao mundo atual. Portanto, esses desafios devem ser superados de imediato para que uma sociedade integrada seja alcançada.

Em primeiro lugar, a pouca abrangência da língua de sinais entre os mais diversos setores da sociedade faz dela um ambiente inóspito para os deficientes auditivos. Pesquisas corroboradas por universidades brasileiras e estrangeiras, como a Unicamp e a Universidade de Harvard, atentam para a importância da linguagem como principal porta para a convivência social, permitindo uma multiplicidade de interações interpessoais, como as de educação, cultura, trabalho e lazer. Assim, quando a sociedade se fecha à comunicação por sinais, justificada pela ignorância, aqueles que dependem dessa linguagem têm dificuldades de obter educação de qualidade e ficam, muitas vezes, à margem das demais interações sociais.

Além disso, a maioria das escolas brasileiras não incluem os surdos, assim como os demais portadores de necessidades especiais, em seus programas, estimulando a diferença e o preconceito. Por mais que a legislação brasileira garanta o ensino inclusivo, a maioria das escolas brasileiras não possuem estrutura para atender aos deficientes auditivos, principalmente por conta da falta de profissionais qualificados. A pouca inclusão dos jovens deficientes e não-deficientes valoriza a diferença entre eles, gerando discriminação e uma sociedade dividida. O renomado geógrafo Milton Santos dizia que uma sociedade alienada é aquela que enxerga o que separa, mas não o que une seus membros, algo que se evidencia na exclusão de surdos em todos os níveis de ensino.

Dessarte, visando a uma sociedade mais justa, é mister superar os desafios da educação de deficientes auditivos. Para que o surdo se integre aos diversos meios sociais, como o educacional, o MEC deve fazer uma reforma curricular, que contemple o ensino de LIBRAS como obrigatório em todas as escolas, através de consultas populares na internet para determinação da carga horária. Ademais, com o intuito de tornar as escolas inclusivas, o MEC e o Ministério do Trabalho devem prover as escolas de profissionais capacitados, que possam lidar com alunos surdos através de programas de capacitação profissional oferecidos pelo SESI e SENAC. Dessa forma, o ensino tornará a sociedade brasileira mais unida.